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Às vésperas do verão, moradores de áreas de risco temem chuva

Nesta semana, região teve os dois primeiros mortos do ano após deslizamento de terra; sem ter para onde ir, famílias se arriscam

Fábio Munhoz
Do Diário do Grande ABC
28/11/2014 | 07:02
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Celso Luiz/DGABC


A 23 dias do início do verão, muitos torcem para que a estação seja chuvosa e que seja possível regularizar a situação dos reservatórios que abastecem a Grande São Paulo. Entretanto, para outra parte da população, a iminência das tempestades típicas da época traz o medo e as lembranças de tragédias vivenciadas. Nas áreas de risco, a água que vem do céu é ameaçadora.

O temor não é exagero. Na quarta-feira, um casal morreu soterrado após deslizamento de terra em terreno particular localizado na Avenida Alda, na região central de Diadema. A tragédia ocorreu antes mesmo do início do verão, estação que costuma registrar elevados índices pluviométricos.

Em áreas de risco de Santo André, São Bernardo e Mauá, moradores já estão em alerta. No entanto, as más condições financeiras e o alto preço dos imóveis fazem com que muitos ignorem o perigo. Mesmo após os escorregamentos de terra que mataram quatro pessoas em janeiro de 2011, o morro do Macuco, em Mauá, voltou a receber novos habitantes. Caso do motorista de ônibus Josimar Vicente Leite, 36 anos, que se mudou para lá há cerca de 15 dias, após pagar R$ 40 mil em uma casa ao pé da encosta. “É perigoso. Mas, para sair do aluguel, fazemos qualquer coisa”, admite.

Mais cautelosa, a dona de casa Agatha Cristina Geraldo, 18, traçou estratégia para enfrentar temporais. “Quando começar a chover, vou com a minha filha para a casa da minha sogra, no Jardim Zaíra 6. Lá também é perigoso, mas menos que aqui.” Moradores do Macuco afirmam que, à época das tragédias de 2011, a Prefeitura removeu casas com risco iminente, mas que, sem fiscalização, os lotes voltaram a ser ocupados.

Na Vila São Pedro, em São Bernardo, o perigo também é vizinho. “Nós fizemos um muro de arrimo. Mesmo assim, não há sossego. Quando a chuva vem para valer, ninguém segura. Pode ter o reforço que for, mas não será suficiente”, reconhece a dona de casa Rosilene Santos Vieira, 41.

Para a também dona de casa Francisca Matias dos Santos, 57, os deslizamentos são velhos conhecidos. Há cerca de dois anos, ela teve o barraco atingido pela terra. “A sorte foi que eu não estava em casa e morava sozinha. Mesmo assim, perdi todos os objetos que tinha”, lembra. Agora, com dinheiro do auxílio-moradia pago pela Prefeitura, ela aluga um imóvel no mesmo bairro.

Apesar da troca de endereço, Francisca continua com medo. “As árvores estão envergadas na direção da minha casa. Quando venta, elas balançam e a terra escorre para o meu quintal.” Sem garantia de sobrevivência, ela recorre às forças divinas. “O jeito é rezar. Só Deus para nos proteger.”

Em Santo André, moradores do morro Cruzado 2, no Jardim Santo André, têm pouco mais de tranquilidade. Nos últimos anos, a CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano) removeu centenas de imóveis em locais do entorno considerados como de risco iminente. “Acho que não tem problema, pois as que corriam mais perigo foram demolidas. Se a minha estivesse nessa situação, também teria sido retirada”, avalia a dona de casa Maria Rodrigues da Silva, 43. A aparente segurança, entretanto, vai por água abaixo assim que o céu começa a escurecer. “Não tem como relaxar”, relata Maria.


Poder público garante adotar medidas preventivas

As prefeituras do Grande ABC garantem estar tomando providências para evitar tragédias em áreas de risco. Em Diadema, onde duas pessoas morreram após deslizamento nesta semana, a administração municipal informa ter removido neste ano 23 famílias em locais de risco iminente, mas que ainda restam 14 a serem retiradas. O Executivo elaborou plano de contingência, que prevê as ações de prevenção e de atendimento às ocorrências por diversos setores envolvidos. Está em andamento projeto para contenção de encostas de R$ 24,7 milhões.

O Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André), responsável pela Defesa Civil da cidade, informa que “realiza diversos serviços preventivos nas aéreas de risco da cidade, como vistorias constantes; fiscalização aérea e por terra para verificar as condições dos locais de risco, além de monitorar as áreas onde já ocorreram remoções”. A Defesa Civil notificou 283 famílias em áreas de risco.

Em Ribeirão Pires, mapeamento feito pelo IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) constatou que há 33 famílias em locais com perigo de desastres naturais na cidade. A Defesa Civil tem equipes de plantão 24 horas por dia para atender ocorrências. As demais prefeituras não responderam ao Diário.
 




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