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QI não determina superinteligência, diz especialista
Luciana Sereno
Do Diário do Grande ABC
15/11/2003 | 19:54
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O conceito de superinteligência está desgastado. A avaliação é da professora titular do Instituto de Psicologia da USP Zélia Ramozzi-Chiarottino. Para ela, ser superdotado está acima de ter QI (quociente de inteligência) superior ao normal. “Uma criança é superinteligente quando se destaca. É genial porque, além de inventar coisas novas, tem capacidade de argumentação. Uma criança é superinteligente quando estabelece relações antes desconhecidas.”

Por ter essa opinião, Zélia considera raras as crianças excepcionalmente inteligentes. Em 67 anos de vida, a professora afirma que encontrou apenas um exemplo. “Tinha 6 anos, era filho de uma empregada doméstica. Dei a ele um jogo para resolver. Pedi apenas uma solução e em dois minutos ele percebeu que havia cinco formas para resolver.” A diferença entre o garoto e as crianças apontadas pela sociedade como superinteligentes, para Zélia, é que ele não confirmou o padrão para esses casos. “Não foi questão de ser estudioso e ter boa memória”, disse a professora.

Sobre a memória, aliás, Zélia conta o caso de uma mãe que a procurou dizendo que seu filho era superdotado. “Ela disse que a criança sabia o nome de 120 espécies de peixe. Perguntei alguns e por fim questionei se ele sabia pescar. ‘Não‘, o menino respondeu.” Para a professora o exemplo significa exclusivamente que o garoto tinha boa memória.

“Uma criança excepcionalmente inteligente constrói uma trajetória profissional como cientista, músico e pesquisador, por exemplo.” A superinteligência é também diferente de precocidade. Em um determinado ponto do desenvolvimento, Zélia afirma que as crianças precoces estabilizam e são alcançadas pelas demais.

Contras – Ser superinteligente, segundo a professora, requer muita habilidade. A criança pode ter problemas no relacionamento com a sociedade e mesmo com si própria. “Pode-se gerar um desequilíbrio emocional porque, enquanto a criança tem idade normal nas atividades práticas, seu pensamento e raciocínio vão além. Porém, se ela conseguir superar o desequilíbrio, tende a obter muitas conquistas.”

O importante para isso é manter a criança inserida na sociedade. Apesar de existirem escolas específicas para crianças geniais, a orientação de Zélia é que sejam mantidas em salas de aula comuns. “Elas devem aprender a conviver e respeitar o mesmo cotidiano.”

Zélia lembra ainda que superinteligência não é exclusividade de altas classes sociais, mas que genética e meio ambiente influenciam bastante.




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