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Pq. Novo Oratório tem poucos contrastes
Maíra Sanches
Do Diário do Grande ABC
06/06/2011 | 07:31
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Andréa Iseki/DGABC


É difícil encontrar alguém insatisfeito no Parque Novo Oratório, em Santo André. Não que o bairro seja completo e perfeito aos olhos dos moradores, mas sim porque a satisfação em morar ali é nítida em boa parte da população, especialmente entre os mais antigos.

Na Associação de Moradores do bairro, localizada à Avenida Araucária, os encontros do pessoal da terceira idade são diários. Festividades, atividades esportivas e ações sociais, como campanha de agasalhos, também são realizadas semanalmente na sede, onde qualquer pessoa pode ter acesso às recreações, inclusive os não-sócios. "Aqui entra quem quiser", resume o acolhedor presidente da Associação, Carlos Evaristo.

Nas ruas os depoimentos orgulhosos são maioria, apesar de algumas queixas típicas de bairro grande, que hoje abriga cerca de 16.500 pessoas e faz divisa com o Jardim Elba, pertencente à Zona Leste da Capital.

Aurélio Possarli, 65 anos, um dos diretores da associação e morador do bairro desde 1957, avalia a chegada do Hospital da Mulher como um ganho para a população feminina, principalmente para as que hoje podem ter seus bebês no bairro. "Melhorou muito desde a inauguração. Não ouço ninguém reclamar." Fundado em agosto de 2008 pela Prefeitura, em parceria com a Fundação ABC, o Hospital da Mulher Maria José dos Santos Stein é hoje o maior centro de referência em saúde da feminina da região.

Ao descer a larga Avenida Araucária é possível notar a intensa circulação de carros e pedestres. No centro comercial da região é onde alguns problemas são encontrados, segundo relatos de comerciantes. Mas, para Marcos Aparecido Rosa, 54, que trabalha em uma farmácia da Avenida das Nações, o bairro não carece de grandes intervenções. Ele chegou ao Parque Novo Oratório com 9 anos, quando veio de Utinga. "Pescava e nadava no rio com meu pai. Antigamente era represa. Tenho saudades daquela época. Vi o bairro crescer", conta o comerciante. O rio que Aparecido menciona é o córrego Guaixuai, localizado próximo à esquina com a Rua América do Sul. Atualmente, o rio passa por reformas que visam a recuperação das margens do córrego, danificadas após as fortes chuvas de verão no início do ano.

TRÂNSITO

No cruzamento da Avenida das Nações com a América do Sul foram atropeladas quatro pessoas em 2010, de acordo com a Prefeitura. Esse ano pelo menos mais uma pessoa foi vítima de atropelamento na via, que não tem sinalização para pedestres e nem faixas asfálticas. Antes de atravessar é preciso olhar para, pelo menos, três sentidos diferentes. "É muito perigoso. Vemos barbaridades como carros e até ônibus na contramão. Pelo número de irregularidades que assistimos, até que não tem muito acidente. Mas acho que deveriam instalar câmeras e aumentar as autuações", opina o comerciante Ozéias Fajoli, 42, que trabalha em uma loja de baterias automotivas.

A Prefeitura informou que as equipes de fiscalização mantêm as vias na rota diária de verificação para autuar os infratores. As sinalizações horizontais e verticais serão feitas até o fim do mês, após a conclusão das obras de melhoria no córrego.

Moradora relembra chegada quando local ainda era brejo

Ela recebeu a equipe do Diário em sua casa de forma acolhedora e distribuindo simpatia. Fã de bolero e frequentadora dos bailes da terceira idade na Associação dos Moradores do Parque Novo Oratório, Alice de Oliveira Nunes, 70 anos, testemunhou a urbanização do bairro onde reside há 45 anos e é considerada figura carimbada pelos moradores e amigos.

Apesar da perda do marido e de um filho, a aposentada mantém a jovialidade e alegria típica de adolescentes e tem dificuldade para se lembrar de alguma deficiência do bairro. "Sou de bem com a vida, não tenho do que reclamar. Tenho saúde."

No imóvel onde hoje mora sozinha, seu pai usava o espaço para a plantação. "Só em 1965 começamos a levantar a casa. Aqui nós corríamos dos sapos. Eram rãs e ratos para todos os lados. Onde hoje estão as avenidas era um brejo imenso. Até emprestávamos a energia do vizinho", relembra.

Para completar o orçamento, dona Alice investe na arte da pintura. Em breve abrirá seu ateliê, recém-reformado, para ministrar aulas às alunas do bairro. Por mês ela vende em média 30 peças, entre tapetes, panos de prato e cachecóis. "Faço isso há 20 anos e com enorme prazer."

 

 

Loteamento foi realizado pelos irmãos Rossa

Ademir Médici

O Parque Novo Oratório ocupou área da Fazenda da Juta que ocupou área da Fazenda Oratório. O loteamento urbano circunscreve-se ao território andreense e é o seu bairro mais extenso; a Fazenda da Juta, um projeto do século 20, ultrapassava os limites do então Município de São Bernardo, hoje Santo André; enquanto a Fazenda Oratório, bem maior, seguia do Pilar (hoje Mauá), Capuava, Santo André e grande espaço da Zona Leste paulistana.

Vila Amália Franco, por exemplo, da Zona Leste, fazia parte da Fazenda Oratório - que pertenceu a uma família de origem portuguesa, os Cardoso Franco. Já a Fazenda da Juta foi um projeto de Nestor de Barros: nas partes baixas, em lagos, era produzida a fibra da juta, o que atraiu migrantes de várias partes.

A fazenda de Nestor de Barros chegou a ter mais de 2.000 funcionários, entre eles Geraldo Teixeira, que entrevistamos em 1977 e que chegou ao lugar em 1934: "Os empregados moravam na própria fazenda, em casas de madeira construídas pela companhia de Nestor de Barros. Um médico dava plantão na casa grande. Havia escola, capelas, canchas de bocha e malha, campos de futebol, um salão de baile", contou Teixeira.

 

LOTEAMENTO

O Parque Novo Oratório divide-se em três partes: Parque Oratório (1948), Parque Novo Oratório (1949) e Parque Novo Oratório II (início da década de 1950). No total são mais de 2,37 milhões de metros quadrados. Ou seja: os loteadores foram estendendo o loteamento à medida que a cidade crescia e atraía novas famílias para o sempre crescente parque industrial da época.

Coube aos irmãos Rossa realizar o loteamento. Eles construíram a primeira escola, que é a atual EE Felício Laurito. Naquele tempo, virada dos anos 1940 para 1950, a Estrada do Oratório, toda em curva, não passava de um trilho no meio do mato, por onde circulavam alguns caminhões da colônia japonesa que iam fazer feira. E os legendários carros de boi.

Mesmo com a urbanização, os carros de boi resistiram, pelo menos na primeira metade dos anos 1950. Ouvimos de um dos antigos moradores, João Kappey, que era possível escutar, de manhã, da cama, o cantar das rodas dos carros de boi. Escutava-se o chiado, as rodas de madeira com seus ruídos característicos.

Os melhoramentos urbanos chegaram aos pingos, graças à mobilização popular e a seus abaixo-assinados endereçados às autoridades. Padres missionários visitaram o bairro em 1953 e inspiraram a construção de uma capela, origem da Paróquia de Nossa Senhora Aparecida, criada dez anos depois. E ainda na década de 1950 o bairro teve a Corporação Musical do Parque Oratório, criada e mantida por Lamartine Mendes, o primeiro maestro.

Como referência histórica sobrou a Estrada do Oratório, hoje a avenida do trólebus que aponta em direção a São Mateus. Outra referência, a casa grande da fazenda da Juta, na Rua Cáucaso, foi demolida no fim do ano passado para mais um empreendimento imobiliário. Era um bem histórico que a cidade não soube preservar.

 




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