Réplica de Santo André da Borda do Campo seria erguida perto da Capela do Pilar, em Ribeirão
O 1º Fórum Nacional de História Indígena Arandú (sabedoria indígena, em tupi guarani), realizado no sábado em Ribeirão Pires, propôs a construção de réplica da antiga Vila de Santo André da Borda do Campo, fundada em 1553. A ideia, que partiu do historiador indígena e cacique Robson Miguel, é erguer casas de taipa semelhantes às da época em terreno localizado na parte baixa da Capela do Pilar, onde, conforme sua tese, teria sido a localização do povoamento comandado pelo português João Ramalho.
"Levaremos a proposta para a Prefeitura para que seja feita para o ano que vem, durante as comemorações dos 300 anos da Capela do Pilar", afirmou Miguel. A capela foi erguida em 1714 e é uma das mais antigas do Grande ABC, tombada inclusive pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico), do governo estadual.
Conforme a teoria do cacique, que é mais conhecido por ser o violonista número um do ranking mundial, o povoamento estaria localizado próximo à capela por se tratar da borda do campo, ou caaguaçu, como os indígenas chamavam a região. Além desta tese, Miguel também estuda a possível origem indígena do cemitério localizado atrás da capela, que foi tema da Festa do Pilar de 2011.
A linguagem ágrafa dos povos indígenas, que transmitem o conhecimento de forma oral, e a maneira como nomeiam as coisas com detalhes que as identificam, também foi abordada durante o fórum, divido em quatro mesas de debates. Os cerca de 50 presentes ao evento, realizado no Castelo de Robson Miguel, discutiram ainda teorias sobre as trilhas indígenas do Peabirú, a história do padre Leonardo Nunes Abarebebé (homem voador), João Ramalho, Bartira, Tibiriçá, Caiuby e Piqueroby, bem como a polêmica localização de Santo André da Borda do Campo.
O evento contou com a participação do museólogo e integrante do IHGSP (Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo), Júlio Abe Wakahara, a índia Tikuna do Amazonas e presidente das mulheres indígenas do Brasil, We'e'na Miguel, o presidente interino do Conselho de Cultura de Ribeirão Pires, João Antonio Ramos, entre outros.
O fórum atende à lei 11.645, de 2010, que determina o estudo da cultura indígena no País.
Caminho do Peabirú passa pelo Grande ABC
As trilhas indígenas do Peabirú, que ligavam o litoral paulista ao Peru, atravessando todo o País, foram intensamente debatidas durante o fórum. Os caminhos utilizados primeiramente por povos indígenas e depois por desbravadores passavam também pelo Grande ABC, mas se perderam diante do avanço das construções modernas.
O museólogo e arquiteto Júlio Abe Wakahara, um dos estudiosos do tema, afirmou durante o fórum que as trilhas eram utilizadas, principalmente, para visitas entre uma aldeia e outra. "O motivo era familiar. Os índios usavam esses caminhos para ir de uma aldeia a outra, para se comunicar, levar mensagens ou simplesmente visitar seus parentes."
ESPIRITUALIDADE
Já o historiador indígena e cacique Robson Miguel garantiu que um dos principais propósitos da construção do Caminho do Peabirú, que tinha cerca de 6.000 metros de extensão, foi a busca dos povos tupi-guarani pela Terra sem Mal.
"A espiritualidade e a fé são os únicos motivos fortes o bastante para fazer com que os indígenas, que não eram povos com características de construtores, utilizassem pedras para marcar parte do caminho que percorriam até o Peru, seguindo o Sol, que era o principal deus para esses povos."
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