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Auricchio ‘entrega’ série de projetos inconclusos

Pronto Cardio, ‘inaugurado’ antes de obra terminar, não é exceção no governo do ex-prefeito

Wilson Guardia
Evaldo Novelini
21/02/2025 | 08:09
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FOTO: Celso Luiz/DGABC

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O Pronto Cardio não foi o único projeto inaugurado pelo então prefeito José Auricchio Júnior (PSDB), que deixou o poder em 31 de dezembro, sem que as obras estivessem concluídas, conforme mostrou o Diário no domingo. O procedimento foi repetido ao menos em outras três oportunidades, em duas escolas e uma UBS (Unidade Básica de Saúde). O atual governo, sob o comando de Tite Campanella (PL), confirmou as informações.

As falhas e irregularidades no planejamento e execução do pronto-socorro cardiológico foram reproduzidas no Centro Educacional, Esportivo e Cultural do Bairro Mauá. Na área de 11 mil metros quadrados há duas escolas municipais instaladas, a Santina L. Auricchio, de ensino fundamental, e Carmela Galati, infantil. O complexo, com capacidade para atender 600 alunos, não possui cozinhas e refeitórios. Com as instalações incompletas, há obras ainda em execução, a exemplo da instalação de esquadrias para fixação das janelas.

Em abril de 2023, na assinatura da ordem de serviço, Auricchio afirmou que a licitação para o Centro era a “maior já feita” para equipamento educacional na história da cidade. “Quase R$ 80 milhões previstos em investimentos nos três prédios”, citou. Para entregar o complexo dentro do cronograma firmado de 18 meses, Auricchio entregou o complexo com obras inacabadas.

Em postagem de 20 de dezembro em rede social, Auricchio convidou os seguidores para a “inauguração” das escolas no dia seguinte. “Venham conhecer mais esse moderno equipamento da Educação de São Caetano”, escreveu o então prefeito.

O mesmo procedimento foi empregado por Auricchio na entrega da UBS-Escola Helena Franco Munhoz, instalada no campus Centro da USCS (Universidade Municipal de São Caetano). Inaugurada por Auricchio em solenidade realizada em 23 de dezembro, ao custo de R$ 6,2 milhões para os cofres públicos, a unidade segue com as portas fechadas.

Projeções da gestão Auricchio citavam que a Unidade Básica de Saúde atenderia até 6.000 pacientes por mês. A UBS é fruto de parceria entre a Prefeitura e USCS, uma autarquia municipal. No caso desse equipamento, não há AVCB (Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros) válido. O documento é obrigatório e atesta a segurança das instalações para enfrentar incêndios, por exemplo.

‘DESRESPEITO’

O vereador Edison Parra (Podemos), que fazia oposição a Auricchio, criticou o que chamou de “falsas entregas” promovidas pelo então prefeito. “Demonstrando total desrespeito com a população”, declarou o parlamentar, que, no início da semana, visitou as instalações das escolas e constatou a falta de “equipamentos sanitários”, entre outros problemas.

Procurada, a Prefeitura de São Caetano confirmou a ausência de estudantes no Centro Educacional. “Está em fase de finalização a obra da cozinha e do refeitório, por isso, não foi possível o início das aulas no local”, detalhou a atual administração, em nota encaminhada ao Diário. O ano letivo na cidade começou no dia 10.

Sobre a UBS-Escola, o Paço esclareceu que as obras foram concluídas, mas que “aguarda o AVCB e a habilitação no CNES (Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde), junto ao Ministério da Saúde.”

A USCS, via assessoria de imprensa, garantiu ter “concluído a obra” e “aguarda o Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros” e a “habilitação no CNES”. Segundo informou, com a emissão dos documentos, “a Prefeitura poderá iniciar a estruturação da UBS para atendimento”.

Ex-prefeito: UBS poderia estar funcionando

Ex-prefeito de São Caetano, José Auricchio Júnior (PSD) admitiu atraso na entrega das duas escolas do Centro Educacional, Esportivo e Cultural do Bairro Mauá, mas responsabilizou a construtora. Sobre a UBS-Escola, inaugurada em 23 de dezembro, descartou problemas no projeto e declarou que o equipamento poderia estar funcionando desde o primeiro dia útil do ano.

Auricchio negou que tenha entregue, com as obras inconclusas, a Emei Carmela Galati e a Emef Santina L. Auricchio em 21 de dezembro. O ex-prefeito argumentou que o Diário interpreta como inauguração o que, na verdade, teria sido um “convite” que a administração fez para “os pais conhecerem o local onde seus filhos iriam estudar”. “Houve atraso de 60 dias na entrega”, admitiu o antecessor de Tite Campanella (PL).

O ex-prefeito garantiu que o contrato com a empresa responsável pelas obras prevê que ambos os prédios sejam disponibilizados à administração com todas as dependências, inclusive com as respectivas cozinhas. “O projeto é amplo. São escolas maravilhosas, altamente sofisticadas. A contratação se deu pelo modelo turn key, que obriga a entrega completa”, explicou Auricchio.

Ainda de acordo com o ex-chefe do Executivo, sua administração honrou todos os pagamentos do projeto até 31 de dezembro de 2024, obedecendo ao cronograma de evolução das obras. “A construção dos blocos A, de educação infantil, e B, de educação fundamental, foi concluída. Faltavam 20% do C, onde se encontram os equipamentos de apoio: quadras, teatro e refeitório”, detalhou.

Sobre a UBS-Escola, Auricchio assegurou que inaugurou a unidade porque ela estava “100% concluída”. “O equipamento poderia estar funcionando em 2 de janeiro. Só faltava a contratação da equipe técnica; médicos, enfermeiros e pessoal de apoio. Quanto demora para fazer a contratação? Uma semana, dez dias, se muito”, afirmou Auricchio, que disse que parou de acompanhar o assunto assim que deixou o cargo.


PRONTO CARDIO

Auricchio disse ontem que já comunicou seus advogados para que processem, cível e criminalmente, a secretária de Saúde, Marisa Catalão Campozana, e o diretor de Saúde, Ricardo Carajeleascow, que assinam o laudo que concluiu pela inviabilidade técnica do Pronto Cardio e apontou série de irregularidades no projeto. O ex-prefeito classificou o documento como “leviano”.




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