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É fácil comprar antibiótico sem receita
Fábio Munhoz
Do Diário do Grande ABC
26/10/2010 | 07:29
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As farmácias da região ainda não oferecem resistência à venda de antibióticos sem receita médica. Equipe do Diário percorreu 15 farmácias em busca do medicamento amoxilina, geralmente receitado contra infecções de garganta. Nenhuma drogaria impediu a compra, mesmo com a ausência do receituário.

As farmácias têm de se adaptar à nova resolução da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que obriga a retenção da receita de antibióticos.

Foram percorridas farmácias de Santo André, São Bernardo e São Caetano. Diversas drogarias exibem cartazes recomendando aos clientes que evitem a automedicação. No entanto, a venda é feita normalmente. Os antibióticos possuem tarja vermelha, que indica a obrigatoriedade da venda sob prescrição médica.

Na Avenida Goiás, em São Caetano, a funcionária de uma farmácia informou ao repórter que "seria melhor que tivesse a receita", mas não impediu a compra. Uma balconista da mesma rede de farmácias, em São Bernardo, também fez o alerta. No entanto, a venda foi efetuada normalmente.

No Centro de Santo André, a funcionária de uma farmácia desdenhou da obrigatoriedade da prescrição. "Se você já toma o remédio, não tem problema."

Na mesma rua, a balconista não apenas ignorou a ausência do receituário, como sugeriu posologia. "Tome três vezes ao dia, por uma semana."

Em uma drogaria no Planalto, em São Bernardo, o remédio foi vendido com o alerta de que a "liberdade" duraria pouco. "Daqui a 30 dias não vai mais poder", disse um funcionário

CONSEQUÊNCIA
O médico infectologista Juvencio Duaelib Furtado, professor de infectologia da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC), acredita que os efeitos da nova resolução serão observados a longo prazo. "Daqui a muitos anos, muitas bactérias deixarão de ser multirresistentes."

Segundo o especialista, a medida é importante e já deveria ter sido tomada há muito tempo. "A caixa dos antibióticos diz que tem de ter receita, mas isso nunca é feito. Agora proporciona um controle maior", analisa.

PERIGO
O consumo indiscriminado de antibióticos aumenta o risco de fortalecer bactérias, criando micro-organismos super-resistentes. Um dos exemplos é a bactéria KPC (Klebsiella Pneumoniae Carbapenemase), que já matou mais de 15 pessoas no Brasil desde o início do ano.

O infectologista alerta sobre os riscos da prescrição inadequada. "Há muitas bactérias no organismo. Quando se toma o remédio sem indicação, aquelas que já eram resistentes vão predominar sobre as outras." O especialista afirma que, em muitos casos, esses medicamentos são ingeridos sem que haja um quadro de infecção.

Segundo Furtado, o antibiótico faz a chamada "pressão seletiva", que mata as bactérias mais sensíveis e mantém as mais fortes. Ele salienta que o corpo humano é colonizado por diversos tipos de bactérias. "Colonização é diferente de infecção, não causa dano", explica.


Multa a farmácias pode chegar a R$ 1,5 milhão
A resolução da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) que determina a retenção das receitas de antibióticos pelas farmácias deve entrar em vigor em pouco mais de 30 dias. A partir da publicação da resolução no Diário Oficial da União - esperada para hoje - os estabelecimentos terão um mês para se adaptar. Passado o período, serão aplicadas multas em caso de descumprimento.

As punições às farmácias que desobedecerem a resolução variam de interdições até multas, que podem chegar a R$ 1,5 milhão. O objetivo é impedir o uso indiscriminado de medicamentos, que, se usados de forma inadequada, podem gerar bactérias super-resistentes.

Para tentar conter a bactéria KPC (Klebsiella Pneumoniae Carbapenemase), a Anvisa criou outra resolução, que determina que clínicas e hospitais devem conter frascos de álcool em gel disponíveis para usuários e funcionários. Para esta resolução, o prazo de adaptação é de 60 dias após publicação no Diário Oficial. (Fábio Munhoz)




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