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‘Deus me fez voltar’, diz jovem que fugiu de casa

Larissa Piza ficou nove dias desaparecida e agora
só quer retomar estudos e viver com tranquilidade

Vanessa de Oliveira
Do Diário do Grande ABC
21/01/2015 | 07:00
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Marina Brandão/DGABC


Tímida e com lágrimas nos olhos. Foi assim que a jovem Larissa Piza, 20 anos, moradora de Santo André, falou com exclusividade ao Diário sobre os nove dias em que ficou desaparecida, para desespero dos familiares e amigos.

Acanhada e com jeitinho de menina, ela recebeu a equipe de reportagem ontem, na residência em que vive com os pais e uma irmã de 12 anos, no bairro Centreville.

A vida da moça seguia seu curso normal até o dia 8 de janeiro, quando, naquela manhã, ela iria, como fazia há quase dois anos, à agência de viagens onde trabalhava, na Rua Álvares de Azevedo, na região central. Mas um estalo quebrou a rotina. Ela comprou uma passagem para o Guarujá, no litoral paulista e, a partir dali, ninguém saberia seu paradeiro.

A fuga, segundo ela, foi ocasionada por problemas profissionais. Próximo ao Natal, Larissa ficou responsável pela reserva de três cabines em um cruzeiro, mas só efetuou a pré-reserva. Sem confirmação, a venda foi feita para outros clientes. Ela, então, conseguiu vagas em outros quartos, localizados em setor mais caro. Para não onerar os turistas, passou R$ 8.000 no cartão de crédito da mãe, e não do pai, como havia sido informado pela polícia anteriormente. A situação, somada a pressões cotidianas no emprego, foi a gota que transbordou o copo. “Não foi só isso (o cruzeiro). Eram muitas coisas para fazer”, fala, sem dar muitos detalhes.

A mãe, a diarista Maria Leonildes da Silva Piza, 49 anos, não sabia da transação do cartão. Indagada se não pediu ajuda à família por medo de que brigassem com ela, Larissa disse não haver receio, mas que “pegou (o cartão) por desespero.” A jovem afirmou que não premeditou seu desaparecimento. “Foi do nada. Quando saí, eu ia realmente trabalhar. Desci no terminal e, a caminho do trabalho, me veio na cabeça (fugir)”.

O destino, a cidade litorânea onde havia passado o Réveillon, também não foi planejado. “Era o único lugar para onde estava saindo ônibus aquela hora. Coincidentemente foi o destino que eu tinha ido no Ano-Novo, mas não foi porque: ‘Ah, o Guarujá, estou indo para a praia’, nada disso.”

Lá, a moça se hospedou em um hotel próximo à rodoviária, onde ficou até sábado. No fim da estadia, seguiu para Santos e, a cada dia, estabelecia-se em um lugar diferente: Guarulhos, Campinas e Aparecida, por duas vezes. Passava as noites nas estações, sem banho e alimentando-se de “tranqueiras, quando comia”, relatou. Ela não recorda a quantidade de dinheiro que levou. “Era o valor que já estava na bolsa, não foi nada premeditado”, reforçou. O que tinha somou-se aos R$ 280 obtidos com a venda do celular para uma loja.

Larissa assume que passou pela cabeça o sofrimento que os pais estariam sentindo sem notícias dela, mas a necessidade de ficar um tempo sozinha foi mais forte e a fez prosseguir na fuga. “Nos primeiros dias queria ficar sozinha. Sabia que não ia resolver o problema, mas foi um momento de surto mesmo, desespero, e aconteceu tudo isso.”

Uma mancha roxa no braço da jovem desperta a atenção. Ela nega que tenha sofrido alguma agressão no tempo em que perambulou pelas ruas. “Se bato em algum lugar, fica bastante roxo”, justificou.

Quando questionada sobre o que a fez voltar para casa e acabar com a angústia da família, a resposta vem rápida. “Foi Deus mesmo”, afirmou ela, que, em seu último dia como desaparecida, assistiu a uma missa na Basílica de Nossa Senhora Aparecida, o que a fez refletir. “Voltei de Aparecida decidida em ligar para os meus pais.”

Agora, de cabeça fria, Larissa diz que se arrepende do que fez. Dos planos que faz, trabalho não consta, por enquanto. “Não vou mais voltar a trabalhar lá. Vou estudar, esperar baixar os ânimos de todo mundo e continuar a vida.”

A experiência vivida deixou uma lição. “O amadurecimento, com certeza.”

Rigidez pessoal pode motivar atitude

Não se permitir errar. É o que pode ter levado a jovem Larissa Piza a desaparecer, por livre e espontânea vontade, por nove dias para fugir de um problema, sendo o pico um erro no trabalho.

“Parece se tratar de uma pessoa muito rígida, a ponto de ter reprovado a si mesma a ponto de não saber lidar com a situação. Às vezes, somos mais duros com a gente mesmo que com os outros”, fala o professor de Psicologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie Aurelio Melo.”

De acordo com o especialista, o amparo da família é de extrema importância. “Se foi um único episódio, a família deve ser compreensiva, solidária, pois isso ajuda muito. Uma coisa é passar pelo problema e outra é fazer isso sozinho.”

PROCESSO

O advogado da agência em que a estudante trabalhava, Leonardo Dominiqueli Pereira, disse que estuda a possibilidade de ingressar com ação por danos moral e material à proprietária do negócio. “A família disse que a minha cliente era uma das principais suspeitas de ter feito algo com a menina. A repercussão do caso prejudicou a agência.” 




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