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Escola de Diadema forma analfabeto, diz Fundação
Danilo Angrimani
Do Diário do Grande ABC
15/03/2003 | 16:40
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Adolescentes com idades entre 14 e 15 anos, cursando o Ensino Fundamental, em Diadema, são analfabetos funcionais. Eles não conseguem escrever frases inteligíveis, nem realizar operações matemáticas simples (soma, subtração, multiplicação e divisão).

Essa constatação foi feita por educadores da Fundação Florestan Fernandes, que lecionam no programa Adolescente Aprendiz da Prefeitura de Diadema. Entre os 873 adolescentes examinados, há cinco analfabetos, 33 semi-alfabetizados e um número não determinado de alunos que sentem muita dificuldade em se expressar pela escrita.

O Diário teve acesso aos textos produzidos pelos adolescentes. Um dos alunos, ao responder à pergunta “comente como é a comunidade em que você mora”, escreveu o seguinte: “Cuãa taugibba mdade pcaí Daintaiz cané catatneana iuguvaí adunvain zugtcauní lavagua qtingma”.

Outro participante do programa ao responder à mesma questão escreveu: “É bra e legau é biquerea faurela Arabee cresa de jacrabrla euza ecras se bibaa e nutaberte creta se istubsa é a srede e naera nilucamta bsu sá arabre sa”.

Muitos questionários foram respondidos de maneira monossilábica e igualmente incompreensível. Para a mesma indagação acima, um adolescente respondeu: “Eu acho que é gipe”. Outro escreveu: “A iua quel morrio é legal, gosto das pesso que morra lá. O que eu não gosto é die bueru la purta de casa”.

Houve aqueles que foram incapazes de resolver questões matemáticas elementares. Ao realizar uma conta simples de divisão, um deles elaborou algumas operações, mas deixou em branco o resultado.

Segundo educadores, a presença de adolescentes analfabetos que freqüentam a escola leva a questionar as fórmulas de ensino, principalmente, a progressão continuada do governo estadual. Na progressão continuada, implementada efetivamente em São Paulo pela ex-secretária de Educação do Estado Rose Neubauer, os alunos de 1ª a 4ª e de 5ª a 8ª séries não repetem de ano e passam automaticamente.

Uma publicação do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), divulgada na semana passada, mostrou que 39% dos estudantes brasileiros do ensino fundamental estão em situação de atraso escolar (a idade dos alunos é superior à adequada para a série que cursam). Esse índice sobe para 53%, quando se fala em ensino médio. Outro dado apontado pelo instituto: 41% dos alunos do ensino fundamental abandonam a escola no meio do caminho.

Pré-alfabetização – A coordenadora do Mova (Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos) de Diadema, Isabel Cristina Silva, avaliou os questionários e concluiu que esses alunos encontram-se em um estágio anterior à alfabetização. “Eles estão em um nível pré-silábico de escrita. O aluno utiliza-se de letras aleatoriamente sem nenhuma correspondência entre sons e grafia.”

Isso significa que o estudante acha que para escrever deve usar apenas letras, mas ignora sua correspondência com os sons. “Não se consegue entender o que eles escrevem, porque a escolha das letras é aleatória.”

Segundo a coordenadora do Mova, nesses casos específicos, o professor precisa se sentar ao lado do aluno e mostrar que a tentativa de escrita não tem significado para outras pessoas e, portanto, deixa de ter sentido como tal. Os alunos analfabetos, identificados pelo programa, foram encaminhados para o Mova.

Programa – O programa Adolescente Aprendiz oferece bolsas de aprendizado, no valor de R$ 130 mensais, a adolescentes que vivem em áreas de risco. Para participar, é preciso estar matriculado em uma escola. As atividades acontecem em regime de meio período. Durante quatro horas, os participantes recebem aulas de iniciação à atividade de auxiliar administrativo, de cidadania, além de praticar esportes.

O secretário de Educação de Diadema, Carlos Kopcak, contou que, dos 873 alunos que participam do programa Adolescente Aprendiz, a maioria tem dificuldade para escrever cartas e interpretar textos. “É um fenômeno que se agrava quanto mais você atinge as periferias das cidades.”

De acordo com o Inep, são vários os fatores que prejudicam a educação brasileira: má qualidade do ensino, provocada pelo baixo gasto público; professores mal remunerados e sem preparação adequada; e escolas mal equipadas. Em relação aos salários, a pesquisa do Inep revelou que a média salarial paga aos professores da educação básica é de R$ 530.




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