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Igreja alerta para os pecados no trânsito
Isis Mastromano Correia
Especial para o Diário
25/06/2007 | 07:05
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As ruas podem se tornar os mais novos antros de pecados, ao menos, para os motoristas católicos. O Vaticano lançou na semana passada os Dez Mandamentos para quem dirige. Agora, ultrapassar de forma perigosa um automóvel pode ser uma falta religiosa, de acordo com o cardeal Renato Martino, presidente do Conselho Pontifício da Pastoral do Migrante e das Pessoas Itinerantes, responsável pelo texto.

O decálogo foi inspirado na antiga tábua, aquela de Moisés. Para se manter em dia com Deus, nada de passar sinal fechado, nem dirigir embriagado. Matar, então, nem pensar. Opa, matar? Pois é, alguns mandamentos são, digamos, didáticos além da conta.

Alguns acreditam que as dez regras possam servir para quem não simpatiza muito com o calhamaço de leis já existentes.

O motorista Anderson Brito, 29 anos, adepto dos carros turbinados, garante estar longe de cometer o pecado da ostentação com seu Voyage, que só de motor tem pelo menos R$ 4 mil. “Às vezes eu me pergunto: ‘Porque gasto tanto com meu carro?’ Já fiquei sem grana e mesmo assim não deixei de investir nele. Mas é mais um vício do que um pecado”, completa Brito, afirmando estar longe de infringir o quinto mandamento: “os carros não devem ser uma expressão de poder”.

Para quem ama os possantes, o que falta mesmo é educação no trânsito e não necessariamente amor ao próximo.

“O negócio é curtir o carro e não levar para o lado do pecado”, afirma o estudante Erick Domeneghetti, 20 anos, com seu Celta e suas ‘senhoras’ caixas de som na traseira.

Do pessoal que se reúne para falar sobre carros modificados – os famosos tunados – em um posto de gasolina na Estrada das Lágrimas, em São Caetano, quase todos têm um pé no catolicismo. Mas, pelo visto, isso não será levado muito em conta. “Fui batizado e tudo mais, mas acho exagero dizer que algumas coisas são pecado”, diz o organizador do Clube do Voyage, Mateus Gribepeler, 23 anos.

Atenção ao artigo que diz “os carros não devem servir para ocasião de pecado”. O padre José Teixeira de Jesus, 50 anos, da Paróquia São José Operário, de Santo André, alivia a barra dos casais. “Na verdade, não entendi como a proibição de namorar no carro e sim, como utilizá-lo para um seqüestro, dar fuga a um ladrão”, ameniza. Para ele, motorista desde os 18 anos, o intuito da igreja é mesmo promover a paz no trânsito. “Mas, se eu disser que nunca tive um deslize, estarei mentindo”, brinca o padre.

O professor do Departamento de Engenharia Civil da FEI, especialista em Engenharia de Tráfego, Raul Fernardo Ramos, acha válida a intervenção da Igreja, mas com ressalvas. “Eu não diria que trânsito é a coisa mais significativa para que o Vaticano tenha de se manifestar.” (Supervisão de Artur Rodrigues)



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