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Desmatamento pode ter relação com vírus

Estudo indica que aproximação entre humanos e fauna piora o cenário epidemiológico

Flavia Kurotori
Do Diário do Grande ABC
15/07/2020 | 00:01
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Pesquisa publicada pelo site norte-americano The Conversation, que tem o professor de biologia e doenças infectocontagiosas da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC) Gabriel Zorello Laporta como um dos autores, aponta que o desmatamento pode estar relacionado ao surgimento de epidemias. Isso porque os animais selvagens acabam perdendo o habitat natural e se aproximando dos humanos, fazendo com que os vírus, presentes apenas nos bichos, sejam transmitidos para os humanos. Exemplo é a pandemia do novo coronavírus, cuja suspeita é que tenha surgido a partir da contaminação de morcegos e pangolins, espécie de mamífero asiático e o animal mais traficado do mundo.

“Nos últimos dez anos, há evidências mais marcantes, mas, desde 2006, há uma preocupação sobre os efeitos do desmatamento no surgimento de epidemias quando um grupo dos Estados Unidos começou a estudar que a doença de Lime (não presente no Brasil) é transmitida por carrapatos”, contextualizou Laporta. “A preposição diz que áreas desmatadas acabaram intensificando a transmissão da doença.”

Segundo o professor, evidências indicam que o surgimento da Covid-19 em humanos pode estar relacionado ao desmatamento no Sudeste da Ásia, em países como Malásia, Indonésia e China, principalmente pelo fato de os pangolins, que seriam os responsáveis pela mutação do vírus tornando-o apto a contaminar humanos, serem comercializados. Com o habitat comprometido, os animais viram alvos fáceis de caçadores. E, pela falta de árvores, o pangolim e o morcego procuram abrigo em áreas agrícolas, assim, o primeiro pode contaminar o segundo com o vírus. Ambos são consumidos pela população asiática.

No Brasil, o desmatamento da Amazônia acende o alerta para o surgimento de outras doenças. Inclusive, na semana passada o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), que teve mudanças importantes ontem (leia mais abaixo), divulgou que, em junho, a floresta teve o maior número de alertas de desmatamento desde o início da série histórica, em 2015, com degradação de 1.034 quilômetros quadrados. No primeiro semestre, a devastação totalizou 3.069 quilômetros quadrados, crescimento de 25% em relação ao mesmo período de 2019.

Exemplo de doença cujos casos voltaram a aumentar em razão do desmatamento é a febre amarela. Os bugios, primatas vulneráveis à doença, que viviam em “manchas de mata” próximas a áreas urbanizadas eram picados pelos mosquitos vetores, como o Aedes aegypti. Estes, por sua vez, picam humanos, que podem contrair a febre amarela urbana. Regiões como a da Cantareira são mais suscetíveis a doenças zoonóticas (aquelas transmitidas de animais para o homem), já que a degradação aproxima a fauna da população.

De acordo com Laporta, ainda não se sabe se o reflorestamento pode auxiliar no controle da contaminação entre humanos e animais. Por este motivo, o especialista salientou que o ideal é frear o desmatamento por meio de políticas públicas. “A União Europeia vai mudar as regras internas e não terá laços com países que desmatam a partir de 2021. Se o Brasil não endossar, a relação comercial ficará complicada”, exemplificou o professor. 




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