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Com alta de mortes, funerária da região teme que falte caixão

Empresa diz que média de sepultamentos diários passou de 47 no início do ano para 85 em março; associação alerta para poucas urnas

Bia Moço
Do Diário do Grande ABC
25/04/2021 | 07:00
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Celso Luiz/DGABC


O crescente aumento no número de óbitos por Covid-19 no Grande ABC – que na sexta-feira registrou a maior marca para um único dia, com 78 perdas –, e em diversas cidades do Brasil, tem pressionado o setor funerário, que corre contra o tempo para dar conta de atender à demanda de sepultamentos. Não à toa, em março a Afub (Associação dos Fabricantes de Urnas do Brasil) publicou nota demonstrando preocupação com possível desabastecimento de caixões nos próximos meses.

Em março, o Grande ABC saltou de 47 óbitos diários – sendo, em média, cinco por Covid –, para 85 mortes – com 33 causados pelo novo coronavírus –, conforme explicou a Ossel, principal empresa privada que atende à região, com sede em Santo André e São Caetano. O aumento fez com que a empresa e todo o setor acionassem as associações e sindicatos em busca de soluções para que não faltassem caixões na região.

Diretor-geral da Ossel, Geraldo Diniz explicou que, no ano passado, a funerária atendeu 16.922 óbitos, cerca de 50% a mais que em 2019, quando a média diária de sepultamentos era de 40 óbitos diários – em 2020 passou para 60. Já em março deste ano, a empresa viu o número saltar, o que Diniz classificou como “o mês mais assustador”.

“Se continuar com esse aumento de óbitos, essa catástrofe mundial, acredito que venha a faltar urnas sim. Os fabricantes estão com medo, mas o sindicato nos garante que se não faltar matéria-prima não haverá desabastecimento, porém, é possível que tenhamos falta de materiais como tinta, verniz, aço e madeira. Aí não tem para onde fugir”, explicou o diretor-geral da Ossel, temendo também que, por causa do aumento da demanda, o preço dos caixões também suba bastante.

Diniz contou que em abril os números parecem estar caindo, porém, ele ainda não comemora e afirma que o alerta para o desabastecimento segue firme. “Embora os especialistas tivessem falado que abril seria o pior mês no número de mortes, e tenhamos nos preparado para isso, dos 85 óbitos diários (em março) estamos, neste mês, com média de 77, sendo que os de Covid caíram de 33 para 29. Parece pouco, mas, para nós, dá sensação de que a curva vai voltar a cair como foi entre outubro e dezembro do ano passado”, disse, revelando que do dia 1º de janeiro ao dia 9 de março a funerária já somava 6.235 óbitos.

O diretor-geral da funerária afirma que os estoques estão limitados, mas que, por enquanto, a empresa consegue suprir a demanda. “Peço a Deus que esses números comecem a cair e que possamos retornar à normalidade”, finalizou Diniz.

Fabricante mostra receio, mas garante abastecimento

Presidente da Afub (Associação dos Fabricantes de Urnas do Brasil) e dono da Godoy Santos – empresa que produz e fornece caixões para várias partes do País –, Antonio Marinho afirmou que, apesar do aumento na demanda, ainda é possível atender o mercado.

Segundo o empresário, depois de a Afub soltar nota de preocupação com o baixo fornecimento de matéria-prima, o que poderia acarretar em desabastecimento, a Abredif (Associação Brasileira de Empresas e Diretores do Setor Funerário), junto do governo do Estado, negociou com fornecedores, o que resultou na normalização do serviço.
“Estava difícil obter matéria-prima e aumentou em quase 40% a mortalidade no País, em números absolutos. É correria grande (abastecer as funerárias). Temos esse receio, sim (de ficar sem abastecimento), mas, por enquanto, não vai acontecer”, afirmou Marinho.

O presidente da Afub contou que as próprias funerárias correram para dar conta da demanda, sobretudo porque estão acostumadas a manter os estoque altos e, de repente, se viram em situação de poucas unidades. “O consumo (de urnas) nos deixa preocupados. Houve aumento de produção em até 50% (nos últimos dias)”, ressaltou Marinho.
Segundo o empresário, em março as funerárias atenderam 180 mil óbitos, saindo de média de 140 mil por mês. “Este mês conseguimos atender o mercado, mas estamos abastecidos pelo limite. Não sobra produção”, frisou Marinho.

Diretor da Abredif (Associação Brasileira de Empresas e Diretores do Setor Funerário), Lourival Panhozzi descartou o desabastecimento. “No Brasil como um todo, risco nenhum (de ficar sem caixões). Pontualmente, em algum lugar ficar sem, sim, pode ocorrer, mas não dá para dizer onde e quando. Impossível não considerar essa possibilidade, porque não temos previsão exata de como o vírus vai se comportar daqui para frente”, reforçou.

Panhozzi destacou que, por mês, o atendimento funerário saltou de 3.200 para 6.000, e caracterizou o serviço prestado como “heroico”. “Em março atendemos 180 mil óbitos, um número absurdo e, se continuarmos assim, chegaremos a 200 mil muito rapidamente”, lamentou o diretor.


Cidades têm 2.582 vagas livres nos cemitérios municipais

O Grande ABC chegou a 6.591 mortes em razão da Covid na sexta-feira e a situação dos cemitérios públicos na região segue confortável em algumas cidades e alarmante em outras. No total, são 2.582 jazigos livres nos cemitérios de Santo André, São Bernardo, São Caetano, Diadema, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra – a Prefeitura de Mauá não informou números.

Desde o início do ano até sexta-feira, as cinco cidades acumularam 2.681 mortes causadas pelo novo coronavírus, ou seja, média de 23 por dia. Assim, a estrutura atual do Grande ABC, com 2.582 vagas livres, suportaria 112 dias no ritmo atual da pandemia.

Conforme informações das prefeituras, Santo André possui 1.030 vagas temporárias no Cemitério Curuçá. Já São Bernardo conta 460 espaços disponíveis; São Caetano tem 700; Diadema tem 120 – até janeiro a cidade mantinha somente 20 gavetas abertas; Ribeirão Pires possui apenas sete; e Rio Grande da Serra tem 265 jazigos. 




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