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Grande ABC: 'forasteiros' sobrecarregam sistema de saúde
Nicolas Tamasauskas
Do Diário do Grande ABC
25/01/2004 | 18:37
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O sistema de saúde do Grande ABC está sofrendo a sobrecarga de moradores de cidades que fazem divisa com a região. Os motivos são a falta de atendimento adequado nos municípios de origem e a facilidade de locomoção ao posto mais próximo, pouco importando se este fica além da fronteira. Os casos mais crônicos estão em Ribeirão Pires e Diadema.

Na UBS (Unidade Básica de Saúde) do bairro Ouro Fino, em Ribeirão, moradores da vizinha Suzano respondem por 60% dos atendimentos. Já no PS Central de Diadema, a invasão dos paulistanos é da ordem de 20%.

A situação provoca filas e falta de medicamentos, de acordo com as administrações. O problema poderia ser resolvido com uma câmara de compensação, dispositivo criado com o SUS (Sistema Único de Saúde), mas nunca colocado em prática. Com a câmara, quando um município atendesse paciente do outro, seria pago pelos serviços.

Segundo Denise Maria Ziober, assessora técnica do prefeito de Diadema, José de Filippi, que acumula a função de secretário de Saúde, a presença de moradores da capital no PS Central traz transtornos aos pacientes locais. “Muitas vezes, as pessoas se deslocam até Diadema apenas atrás de um atestado médico, o que sobrecarrega o serviço”, disse.

Na UBS Ouro Fino, a situação é mais grave. No segundo semestre do ano passado, faltaram medicamentos para hipertensão e diabetes, segundo a encarregada interina da unidade, Cecília Aparecida Rodrigues.

“O problema maior é realmente na entrega de medicamentos, mas a situação também se reflete no volume de internações no Hospital São Lucas, em que 26% dos pacientes vêm de Ouro Fino”, disse o secretário de Saúde de Ribeirão, Ricardo Carajeleascow.

A troca de pacientes também ocorre entre as cidades do Grande ABC. De acordo com a assessoria de imprensa da Prefeitura de Diadema, no Hospital Público do município, 20% dos doentes são de outras localidades da região. A Secretaria de Saúde de Ribeirão informou que o problema acontece também nas UBSs do Jardim Caçula (15% de atendidos andreenses) e do Jardim Guanabara (30% de Mauaenses).

No Centro-Escola Capuava, mantido pela Fundação do ABC em Santo André, o total de pacientes que vêm de São Paulo preencheria um dia inteiro de atendimento a cada mês. A informação é da diretora do Departamento de Atenção Ambulatorial, Roseli Souza Toledo. Segundo ela, as invasões também acontecem no Jardim Irene (vindos de São Bernardo), Jardim Carla (Mauá), e Parque Andreense (Ribeirão Pires).

A chefe da Divisão das UBSs de São Bernardo, Silvana Giovanelli, citou uma pesquisa feita na cidade em 2001, com 118 mil usuários, que apontou a presença de 10% de forasteiros. Para ela, uma das conseqüências é a falta de medicamentos nas UBSs.

“Com a presença de pessoas de outra cidade, você aumenta a espera por atendimento para quem mora no município”, disse a assessora do Departamento de Saúde de São Caetano, Eliana Rstom. “Mas não há filas porque o atendimento é agendado”, disse.

A assessoria de imprensa da Prefeitura de Mauá afirmou que, de 1,1 milhão de consultas feitas na rede no ano passado, 10% se referiram a moradores de cidades vizinhas.

De acordo com o coordenador do Grupo de Saúde do Consórcio Intermunicipal e presidente da Fundação do ABC, Homero Nepomuceno Duarte, as invasões ocorrem, em maior ou menor escala, em todas as sete cidades.

“O ideal seria que houvesse uma câmara de compensação regional que, a princípio, antes que acontecessem os repasses de recursos, medisse apenas as invasões”, disse.




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