Economia Titulo Consumo
Com aumento de renda, classes C e D atraem investimentos

De olho no potencial econômico da baixa renda,
bancos e comércio estão em busca de novos clientes

Por Bárbara Ladeia
Tauana Marin
22/03/2009 | 07:02
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O crescimento do potencial de consumo das classes C e D gera novos focos e estratégias em empresas dos mais diversos setores, inclusive no Grande ABC. Supermercados, lojas de material de construção e até instituições financeiras têm se curvado a esse novo público, que hoje representa um dos principais alvos do mercado.

"Com o aumento real do salário mínimo (atuais R$ 465) e da renda real média dos trabalhadores, inflação baixa e sob-controle, além do bolsa-família (programa de benefícios do governo federal destinado a famílias com renda de até R$ 120 mensais), há um efeito positivo no poder de compra dos assalariados de baixa classe social, principalmente", explica o diretor da área de Economia da USCS (Universidade de São Caetano do Sul), Francisco Funcia.

É justamente com esse pensamento que instituições financeiras se dedica a uma força tarefa na tentativa de trazer as classes C e D para o consumo de produtos financeiros. A chamada bancarização hoje figura entre as prioridades de bancos de varejo. A justificativa é o potencial de consumo dessa população, tendo em vista que começam a ingressar em um nível de renda superior.

"As classes C e D, atualmente, têm condições para planejar uma viagem, o pagamento dos estudos ou até mesmo a compra de bens mais caros, como imóveis, entre outros. Isso requer poupança e financiamento, o que muito interessa as instituições financeira", explica Luis Miguel Santacreu, analista de investimentos para instituições financeiras da Austin Ratings.

Embora prefira não definir as estratégias dos bancos, Santacreu acredita que, para atingir esse público, as instituições financeiras terão de concentrar esforços no rompimento de barreiras culturais. "É um público que não aceita bem o uso do cartão, das transações pela internet e nem os trâmites e cobranças bancárias. Isso reduz bastante a penetração nesses setores".

A criação de um portfólio de produtos específicos para as classes C e D já é uma realidade em boa parte dos bancos de varejo, que oferecem créditos e operação a custos mais baixos que aqueles que vinham sendo praticados pelo mercado.

Para o analista de investimentos da Austin, os juros altos foram os principais responsáveis pela dificuldade na bancarização da população menos abastada até os dias de hoje. "A classe baixa ainda é inserida na sociedade com juros muitos altos. É uma espécie de anomalia no nosso sistema bancário, que acaba penalizando o consumidor e diminuindo a penetração de produtos como empréstimos e financiamentos", explica Santacreu.

Mudanças foram mais rápidas no Grande ABC


Levantamento socioeconômico realizado pelo Instituto de Pesquisas da USCS (Universidade Municipal de São Caetano) mostra que, apesar de semelhante, esse movimento de redução das disparidades de renda foi mais rápido no Grande ABC.

Entre agosto de 2007 e agosto de 2008 houve uma redução de 3,7% na participação da classe A na população regional. Ao mesmo tempo, a classe C cresceu 2,4%.

Pesquisa semelhante realizada pel FGV (Fundação Getúlio Vargas) sobre a chamada 'nova classe média', apontou que a crise financeira pesou ainda mais sobre essa tendência de ascenção social das classes mais baixas.

"A partir de setembro de 2008 há aumento da classe C e redução dos extremos dos estratos sociais. Pessoas que estavam mais no topo da distribuição, estão caindo ou deixando de crescer, mas há continuidade do movimento de ascensão à classe C não foi interrompido, o que acontece é uma agregação a essa de pessoas vindas da classe A e B", afirma Marcelo Neri, coordenador da pesquisa.

Para Neri, o principal mote para a mudança está na recuperação do trabalho com registro em carteira.

Enquanto as classes A e B apontaram um decréscimo (-0,65%) entre setembro e dezembro de 2008, a classe C cresceu (1,24%). "Antes do agravamento da crise, 19 pessoas a cada 100 que estavam na classe A e B caíram nos últimos anos para as classes mais baixas, depois da crise este número cai para 25. Há movimento de instabilidade no topo da distribuição de renda."




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