Cerca de 43% da água potável enviada a São Bernardo escorre, literalmente, pelo ralo. O índice de perda física do produto, ocasionada por vazamentos e que era de 53% há dois anos, segundo a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), ainda é vergonhoso. Em média, os municípios, inclusive os administrados pela companhia, registram perda total de 30%, percentual que inclui perda física e financeira, resultado de ligações clandestinas e fraudes. A razão que a companhia dá para tremendo desperdício de um produto tão escasso no Estado de São Paulo é que a rede da cidade é pequena para o tamanho da população, que só tende a crescer por ter muito espaço territorial para ser ocupado.
Em São Bernardo, a perda física e financeira chega a absurdos 58%. É considerada perda financeira aquela decorrente de ligações clandestinas, de furto de água, feito em geral pela população que reside em áreas carentes ou de ocupação irregular. Portanto, é produto consumido, mas que não gera receita para a Sabesp, que o comercializa. O superintendente da Unidade de Negócios Sul da Sabesp, José Luiz Salvadori Lorenzi, diz que a rede que a estatal herdou do antigo DAE (Departamento de Água e Esgoto), em 2004, que era administrado pela Prefeitura de São Bernardo, sofreu processo de estrangulamento. O município não investia na construção de redes maiores com a mesma velocidade da população que crescia.
Os vazamentos estão principalmente nas redes antigas e pequenas, em bairros que cresceram nos últimos dez anos. Em geral, a tubulação estoura por não suportar a pressão da água. Para fazer o produto chegar aos pontos mais altos, na maioria das vezes localizados numa das extremidades da rede, é preciso aumentar a pressão da água, o que danifica trechos anteriores do mesmo ramal. Em resumo: sem pressão a água não chega aos pontos altos e, com aumento da pressão, proliferam os vazamentos nos pontos mais baixos da mesma rede.
Investimentos – A Sabesp espera reduzir neste ano, embora sensivelmente, a perda física da água. A previsão é de que cinco pontos percentuais sejam decrescidos dos 43% atuais em um ano e meio. Para isso, anunciou a realização de três grandes obras na cidade, que juntas devem gerar investimentos da ordem de R$ 38 milhões. A construção de redes maiores visa diminuir não só a perda física, mas oferecer um serviço de qualidade à população do município, que tem sentido nos últimos meses uma deficiência quase crônica no serviço, que não sai barato. As reclamações têm aumentado diariamente e vão desde a verificação de vazamentos visíveis, que demoram a ser consertados até de moradores de bairros inteiros que reclamam do abastecimento deficiente.
Segunda-feira, terão início as obras na rede que atende às regiões do Batistini e Alvarenga, com mais de 250 mil habitantes (o município tem perto de 800 mil moradores). São 2,5 mil metros de rede nova de 300 mm de diâmetro, que tem dimensões próximas a de uma adutora, em geral com 800 mm. “A rede já está pronta. Nesta segunda-feira (hoje), vamos interligar a nova rede com os ramais domésticos. Vamos aumentar o volume de água em até 80 litros por segundo (hoje, a vazão é de 500 litros/segundo). Além disso, vamos instalar válvulas redutoras de pressão em vários pontos, para diminuir a pressão nas áreas mais baixas e evitar a ocorrência de vazamentos na rede”, disse o superintendente José Luiz Salvadori Lorenzi.
Até meados do próximo ano deve estar pronta também uma nova adutora de cinco mil metros e de 800 mm, que vai interligar o sistema a um novo reservatório, com capacidade para 15 mil metros cúbicos. “A primeira obra já vai melhorar o abastecimento no Batistini e Alvarenga e diminuir vazamentos, mas com a finalização da próxima etapa, a população não vai mais enfrentar problemas de abastecimento, pelo menos, nos próximos 15 anos.” Essa etapa – construção de adutora e reservatório – representam investimentos de R$ 16 milhões da Sabesp.
Mais duas obras de grande porte devem ser realizadas na cidade até meados do próximo ano. Na lista, está a construção de redes na região do Parque Selecta e Vila São José e no Baeta Neves. Ao todo, serão investidos R$ 22 milhões. Serão construídas redes de 300 mm de diâmetro. Como comparação, as redes domésticas, em geral, têm 50 mm. n
Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.