Economia Titulo Mercado de trabalho
Pandemia pode afetar até 147 mil empregos

Na região, total de celetistas pode cair até 20% em razão da crise que atingiu todos os setores

Por Flavia Kurotori
Do Diário do Grande ABC
28/06/2020 | 23:37
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Claudinei Plaza/DGABC


O Grande ABC pode ver o mercado de trabalho reduzir até 20%, o equivalente a 147.275 empregos a menos, até o fim de 2020. Segundo levantamento do Conjuscs (Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura da Universidade Municipal de São Caetano), divulgado com exclusividade ao Diário, a região deve encerrar o ano com 589.099 celetistas, ante 736.374 trabalhadores registrados em 2018, último dado da Rais (Relação Anual de Informações Sociais).

Na avaliação de Jefferson José da Conceição, coordenador do Conjuscs e autor da pesquisa, a baixa nos empregos pode ocorrer porque a crise está prejudicando todos os setores econômicos: indústria, comércio, serviços, construção e agricultura. Inclusive, a estimativa é que o PIB (Produto Interno Bruto) regional caia pelo menos 10% neste ano. “Há consultorias que já estimam a queda da produção automotiva (principal segmento da indústria da região) no Brasil entre 15% e 20% em 2020, já que esta cadeia foi uma das mais afetadas.”

Normalmente, em períodos de crise na economia interna, as empresas recorrem à exportação. Porém, a pandemia também afetou o mercado externo e agravou o cenário da indústria nacional. No Exterior, a retração econômica pode chegar a 30%, avalia o docente.
Além disso, ele aponta como vilãs para o mercado de trabalho as incertezas causadas pela “descoordenação da ação entre as esferas de governo” em relação à retomada da economia e a reforma trabalhista de 2017, que “viabilizou a possibilidade da demissão seguida de eventuais recontratações, com custos futuros menores, e reduziu os custos de ações trabalhistas”.

Dos 147.275 empregos que podem ser extintos, 52,7% (77.682) são do setor de serviços, 23,8% (35.050) da indústria, 19,1% (28.153) do comércio, 4,3% (6.737) da construção e apenas 0,01% (17) da agricultura.

RECUPERAÇÃO?

Na avaliação de Ricardo Balistiero, coordenador do curso de administração do Instituro Mauá de Tecnologia, o principal desafio pós-pandemia será a geração de empregos formais. “Embora os motoristas de aplicativo, por exemplo, tenham renda, não têm proteção como férias, 13º salário e alguns sequer contribuem com o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social).”

Para isso, o docente salienta que é imprescindível desenvolvimento de planejamento estratégico, pensando nos próximos 20 anos. “A discussão sobre o marco legal do saneamento básico, que levaria este benefício a milhões de habitantes, levou 22 anos para terminar (a aprovação foi na última semana). Então, não consigo imaginar um País com tanta carência de infraestrutura sem conseguir gerar emprego. Depende do poder público criar medidas estratégicas a serem aplicadas com total ajuda do setor privado.”
Para Jefferson da Conceição, não é possível prever se haverá recuperação dos postos de trabalho fechados durante a crise causada pelo coronavírus. “O fato é que ficamos mais pobres e fragilizados a partir de 2020”, avalia. Por outro lado, no Grande ABC, “as crises têm gerado grande capacidade de respostas e inovações institucionais no âmbito regional”, a exemplo da criação do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, em 1990. “O papel da tecnologia, capacitação, pesquisa e desenvolvimento precisará ser bem maior nessa nova etapa, e as universidades deverão ser instituições muito importantes no processo”, explica. 

No Grande ABC, 17.208 empresas aderiram à MP 936

Criada pelo governo federal com o objetivo de preservar empregos durante a pandemia do coronavírus, a MP (Medida Provisória) 936 permite a suspensão do contrato de trabalho por até 60 dias, assim como a redução da jornada e, consequentemente, de salários em até 70% no limite de 90 dias. Na região, ao menos 17.208 empresas aderiram às mudanças, segundo dados do Ministério da Economia obtidos via Lei de Acesso à Informação.

O Congresso aprovou, em 16 de junho, que as modalidades possam ser prorrogadas enquanto durar o estado de calamidade pública. Agora, o texto depende da sanção do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Para a classe patronal da região, a aprovação é essencial para manutenção do quadro de funcionários.
“Comércio, indústria e serviços não estavam funcionando, sem a MP muita gente teria sido demitida, e a prorrogação é necessária porque a dificuldade permanece”, assinala Pedro Cia Júnior, presidente da Acisa (Associação Comercial e Industrial de Santo André).

“A medida foi estipulada por dois meses porque ninguém sabia ao certo, desde o início, qual seria o tempo de duração desta quarentena. Ela veio para ajudar os empresários e ajudou, com certeza, a evitar demissões”, afirmou Valter Moura, presidente da Acisbec (Associação Comercial e Industrial de São Bernardo).

Na avaliação de Cláudio Barberini Júnior, diretor do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) de São Bernardo, a medida beneficiou principalmente as pequenas e médias empresas e foi “fundamental para suportar este período”. “Para quem ainda está em uma situação de baixa nos pedidos, é extremamente positivo se continuar por mais alguns meses”, completa Anuar Dequech Júnior, diretor do Ciesp de Diadema.

Para Denize Tonelotto, advogada do Sehal (Sindicato das Empresas de Hospedagem e Alimentação do Grande ABC), a prorrogação, se sancionada, chegará tarde. “Já deveria ter ocorrido desde o início de junho, porque nesta data venceram os contratos realizados com os funcionários que já estavam com 60 dias de suspensão”, explica.




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