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Jardim Santo André, lugar onde tudo falta
Lukas Kenji
Especial para o Diário
30/01/2012 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


O bairro recebe o nome da cidade, tem dimensões generosas (1,5 milhão de metros quadrados), mas não seria bom cartão postal.

O Jardim Santo André é profundamente marcado por problemas habitacionais e por histórico de crimes que causaram grande repercussão, o que faz com que o morador do bairro se sinta esquecido e estigmatizado.

Nos últimos anos, fatos marcaram a vida de quem mora lá. A menina Amanda, então com 8 anos, foi levada da porta de casa em 2006 e levou para as mães o medo de serem vítimas da mesma história. Desde então, está desaparecida. Em 2009, Eloá Pimentel foi vítima fatal do cárcere privado mais longo da história do País. O crime cometido pelo jovem Lindemberg Alves trouxe ainda mais angústia a quem já estava cansado de viver em um bairro de poucas oportunidades e muitas lamentações.

A maioria dos moradores vive em condições precárias e trabalha praticamente para arcar com sua moradia. Os recursos, apertados, muitas vezes faltam. Assim como projetos de inclusão.

Segundo o secretário de Estado da Habitação, Silvio Torres, o bairro vai receber investimentos de R$ 509 milhões até 2015. A promessa é fazer com que o Jardim Santo André seja funcional e tenha menor impacto em seu entorno, local de ocupação irregular que sofre com deslizamentos.

Até que a promessa vire realidade, pessoas como o líder comunitário Pedro Guinez, 60 anos, terão rotina de pouco conforto. O chileno reclama das condições de um dos 6.454 apartamentos que a CDHU implantou no bairro. "Nós pagamos caro pela prestação e não temos retorno. As casas vivem com infiltrações, a parte elétrica está deteriorada e nada tem reparo."

A maior preocupação do mutuário não é com a casa, e sim, como mantê-la. Há moradores com até 45 mil reais em dívidas com a CDHU e não sabem como pagar. "Toda vez que volto do trabalho me bate uma aflição porque não sei se quando chegar em casa encontrarei um mandado de despejo", lamenta a doméstica Rosana Martins, 46, que está há três anos sem pagar a prestação. "Não temos condições de pagar a prestação além da dívida. A CDHU não faz acordos com que a gente possa arcar", completa.

Em resposta, a companhia afirma facilitar as formas de pagamento com exclusão dos juros, pequeno valor de entrada e uso do fundo de garantia. Comunica ainda que o despejo é o último artifício a ser usado contra o morador.

Vida no alojamento não tem privacidade nem sonho

Há quem reclame das condições de suas moradias e há quem não tenha lugar para viver. A topografia irregular da área em que se consolidou o Jardim Santo André definiu o destino de muitas famílias.

Ter sua casa em um lugar tão acidentado fez com que a atendente Adriana Pereira, 34 anos, perdesse além do teto, quase tudo o que tinha. "Metade dos meus móveis foram para o galpão da CDHU e o pouco que tenho fica no alojamento, onde vivo há 2 anos", relata a moradora que vive junto aos seus quatro filhos em um cômodo de 4m².

Antes do alojamento, Adriana ficou três meses em um abrigo com mais pessoas que tiveram um de seus únicos patrimônios perdidos. "Lá era pior do que no alojamento. Agora não tenho privacidade nenhuma e nem espaço decente para morar. Antes era tudo mais intenso", reclama a moradora.

Adriana diz que não sabe mais pelo que esperar. Ao pensar no futuro, ela não tem planos de carreira ou de vida luxuosa. O único conforto seria ter um lugar decente para viver com os filhos. Ao lembrar do passado e tentar planejar o presente, a moradora se diz triste com relação ao Jardim Santo André, a ponto de não mais querer chamá-lo de "meu bairro".

E o progresso demorou a chegar ao bairro...

O Jardim Santo André faz parte de uma série de vilas à esquerda da Avenida Dom Pedro I e da estrada da Cata Preta. São loteamentos residenciais que acompanharam a expansão da mancha urbana de Santo André a partir da década de 1950, quando ocorre a explosão industrial do Grande ABC.

Ele compõe com Vila Lutécia, Vila Tibiriçá, Vila Suíça (I e II) e Jardim Ipanema uma linha que transformou o Vale do Guarará de rural em urbano. Segundo o historiador Wanderley dos Santos, esta área de Santo André é importante na formação da Vila de Santo André da Borda do Campo (1553 - 1560). A vila do alcaide-mor João Ramalho teria sido aqui situada, às margens do Guarará.

Especificamente, o Jardim Santo André foi aberto em 1951 pelo extinto Banco F. Munhoz. A planta original especifica que o bairro ocupa parte do antigo Sítio Guarará.

Projeto Cura

Na primeira metade da década de 1970, já no apagar da administração do prefeito Antonio Pezzolo, Santo André conseguiu recursos do Projeto Cura (Comunidade Urbana de Recuperação Acelerada) para aplicação em vários bairros desta área do Jardim Santo André. Vila Luzita, Vila Suíça, Jardim Guarará e Jardim Irene foram os primeiros atendidos.

Esquecido, o Jardim Santo André tinha um quadro, na segunda metade dos anos 70, de abandono. As ruas eram de terra, sem guias e sarjetas. Faltavam redes de água e esgoto, iluminação e parques infantis. A população mobilizava-se, mas os melhoramentos viriam apenas nas décadas seguintes, quando da construção dos conjuntos habitacionais que hoje caracterizam o bairro.

Dados de 1951

Área total da gleba: 2.259.983,00 m2.

Área loteada, inclusive com ruas e praças: 707.595,00 m2.

Área disponível para loteamentos: 1.521.688,00 m2.

Área reservada para a Prefeitura: 30.700,00 m2.

(Ademir Medici)




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