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Estudo da USCS confirma que queimadas causaram chuva negra

Amostras continham elementos de queima de biomassa e bactérias; fenômeno pode causar problemas à saúde e à natureza

Flavia Kurotori
Do Diário do Grande ABC
26/12/2019 | 07:00
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Claudinei Plaza/DGABC


 Análise do projeto IPH (Índice de Poluentes Hídricos), da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), confirma que a chuva negra que caiu no Grande ABC em 19 de agosto foi causada por queimadas. O estudo considerou três amostras coletadas em Santo André, Diadema e São Mateus (na Capital) e identificou elementos de queima de biomassa, embora não seja possível saber a origem das partículas.

“Não sabemos se essas partículas vieram de queimadas da Amazônia, de São Paulo ou da Região Centro Oeste, mas descartamos a possibilidade de que a poluição paulista tenha causado a chuva”, assinala Marta Marcondes, bióloga e professora de gestão ambiental da USCS. O evento foi causado pela chegada de massa de ar fria que ‘prendeu’ a poluição, resultando em chuva escura e com odor de fumaça.

Durante os estudos, chamou atenção a turbidez – dificuldade de um feixe de luz atravessar a água – das amostras. O índice normal é de no máximo 9 UT (Unidade de Turbidez), porém, o material coletado chegou a 92,6 UT, dez vezes acima do normal. Além disso, a incidência de amônia em altos níveis – até 50 miligramas por litro – também é sinal de queima de biomassa.

À época, especialistas alertaram que o evento poderia ocasionar problemas respiratórios e coceira na pele por conta da poluição. Caso o fenômeno volte a acontecer, a bióloga aponta que o meio ambiente pode ter prejuízos, a exemplo da contaminação de solo e represas. “Nossos reservatórios, que já são frágeis, podem ser contaminados, afetando o abastecimento.”

BACTÉRIAS

As amostras continham microorganismos que não costumam estar presentes na água da chuva. Exemplos são a Escherichia coli, causadora doenças como infecção urinária, e a Shigella spp, que pode ocasionar disenteria bacilar. “Por este motivo, a chuva negra pode causar prejuízos à saúde, dependendo do estado imunológico da pessoa”, afirma Marta.

Justamente em razão da presença das bactérias, a pesquisa ainda não terminou. A docente da USCS explica que a ANA (Agência Nacional de Águas) tem parâmetros para análise de água da chuva. Uma vez que as amostras foram coletadas por moradores sem conhecimento técnico, elas podem ter sido contaminadas por agentes presentes no telhado das casas, por exemplo. “Solicitei que, na próxima chuva, elas recolham novas amostras para compararmos com os microorganismos encontrados na chuva negra.”

Uma das amostras de água utilizada por Marta para as análises laboratoriais foi coletada pela moradora de Santo André, a analista Marisa Ferreira Moreno, 54 anos. “Desde a crise hídrica, em 2013, coleto água da chuva para lavar roupa. Fiquei apavorada quando vi que, além de escura e com cheiro muito forte de queimado, a água estava espumando no balde”, revelou ao Diário na ocasião. 




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