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Rede de S.Caetano faz 1ª cirurgia antirrefluxo

Paciente recebeu marcapasso que pode custar até R$ 100 mil em hospitais particulares

Bianca Barbosa
Especial para o Diário
25/10/2018 | 07:00
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Celso Luiz/DGABC


A colocação de um tipo de marcapasso no esôfago é a alternativa menos invasiva para tratar a doença do refluxo gastroesofágico, mas não é coberta pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Por isso mesmo, apenas 16 cirurgias dessas foram feitas no Brasil, todas de forma particular. A primeira na rede pública foi no último dia 6, no centro cirúrgico do Complexo Hospitalar Maria e Márcia Braido, em São Caetano.

Segundo o gastroenterologista Eduardo Grecco, que integra o corpo docente da Faculdade de Medicina do ABC, “normalmente a doença é tratada com antiácidos, mas quando os sintomas persistem, o tratamento cirúrgico é apresentado”.

O refluxo gastroesofágico se dá pelo excesso de ácido do estômago, que volta para o esôfago por causa do enfraquecimento do músculo esfíncter, que age como uma válvula para liberar a passagem de comida e líquidos do esôfago para o estômago. Normalmente os sintomas aparecem após as refeições, quando a produção de ácidos é maior.

“Antes da cirurgia, tinha refluxo noturno e, às vezes, diurno, muita azia, dores no estômago, queimação na garganta e tosse ao deitar. Agora durmo bem, me sinto mil vezes melhor”, disse a cuidadora de idosos Maria Aparecida dos Santos Escribano, 57 anos, que reside no bairro Santa Paula, em São Caetano, e recebeu o marcapasso no dia 6.

Ela foi diagnosticada com gastrite há cinco anos, e desde então passou a fazer tratamento medicamentoso, que incluía exames periódicos de endoscopia. “No último exame, precisei fazer biópsia, e o resultado foi uma esofagite (inflamação)”, contou. Por causa disso, foi aconselhada a passar por cirurgia, e conheceu Eduardo Grecco.

O médico tinha acabado de receber doação de marcapasso da empresa EndoStim, por meio da faculdade, e escolheu a paciente, que se encaixava no quadro clínico, para receber o aparelho. “É um procedimento muito caro, que chega a custar até R$ 100 mil na rede particular. Por isso, ao recebermos a doação, escolhemos paciente da rede pública”, disse.

Ele explicou que a cirurgia antirrefluxo (fundoplicatura) custa, em média, R$ 25 mil na rede particular, mas é procedimento invasivo que pode ter efeitos colaterais desagradáveis, como dificuldade para engolir e alteração irreversível da anatomia do estômago. O especialista avalia que a diferença de preço seja o motivo de o tratamento com marcapasso não ser oferecido pelo SUS nem pelos convênios. “Uma cirurgia com o marcapasso paga quatro fundoplicaturas.”

Segundo Grecco, o aparelho fica acoplado na pele abdominal, e por esse motivo não incomoda nem causa dor. Para colocação do marcapasso, é feita videolaparoscopia e endoscopia ao mesmo tempo, para que os eletrodos do aparelho sejam fixados no esfíncter, e o marcapasso, no abdômen (veja ilustração abaixo).

O funcionamento é simples: assim que os eletrodos identificam acidez exacerbada no estômago, o aparelho emite estímulos elétricos, que fortalecem o músculo, restabelecendo a função natural e reduzindo o refluxo. “É uma tecnologia de ponta, a bateria dura de 7 a 10 anos”. 

Médico vai procurar empresa em busca de novas doações

A Secretaria do Estado da Saúde informou que o procedimento com o marcapasso ainda não é feito pelo SUS, confirmando que a cirurgia realizada no complexo hospitalar de São Caetano foi a primeira na rede pública. O médico Eduardo Grecco pretende conversar com a empresa fabricante para conseguir doações contínuas, mesmo que limitadas. “Vou verificar a possibilidade de eles doarem um aparelho por ano, para fazermos esses procedimentos na rede pública.”

A cirurgia pioneira em São Caetano pode ser o primeiro passo para alertar sobre a importância da cobertura do procedimento na rede pública. Para a cuidadora de idosos que recebeu o equipamento, a vida mudou completamente. “Ganhei qualidade de vida.”

Agora, torce para que outras pessoas que usam a rede pública também possam ser beneficiadas. “É um método muito bom, que não incomoda”, disse, com quase 20 dias de pós-cirúrgico, já fazendo as atividades do trabalho normalmente.




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