Setecidades Titulo 30 anos de espera
Mauaense realiza sonho de trabalhar depois dos 50 anos

Zelinda enfrentou machismo do marido e preconceito contra idade avançada para poder ingressar no mercado de trabalho

Thainá Lana
Do Diário do Grande ABC
06/03/2022 | 00:01
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André Henriques/DGABC


Foram precisos 30 anos de espera para que Zelinda Francisca da Silva Carraro pudesse finalmente realizar um dos maiores objetivos da sua vida: ingressar no mercado de trabalho. Moradora do Parque São Vicente, em Mauá, ela dedicou todo seu tempo para cuidar da casa e dois filhos, Rogério Carraro, 44, e Bruno Ricardo Carraro, 33. Hoje, aos 66 anos, dona Zelinda, como gosta de ser chamada, exerce orgulhosa a função de treinadora na unidade do Centro do restaurante McDonald’s, em Santo André. 

Seu caminho até ser admitida na famosa rede de fast food foi longo. Ela precisou lutar contra o machismo familiar do seu marido, Reinaldo Carraro, que não aceitava que ela trabalhasse fora de casa, e com muita paciência esperou anos para poder conquistar sua independência pessoal e também financeira. A mauaense começou a procurar emprego somente aos 51 anos e, por conta da idade avançada, da falta de experiência e a ausência de estudos – ela não terminou o ensino médio –, recebeu diversas negativas. 

Mesmo com tantos empecilhos, nada desanimava dona Zelinda na busca por seu sonho. A oportunidade no restaurante parece que foi enviada diretamente dos céus, como gosta de afirmar. Em um dia de Sol forte e cansada de andar pela região para procurar emprego, ela escutou a conversa de duas jovens, que usavam uniforme do McDonald’s, que a unidade andreense estava contratando pessoas acima dos 50 anos. Sem perder tempo, foi no dia seguinte bem cedo para o restaurante, sem contar nada para o marido, fez a entrevista e no mesmo dia foi admitida, em 2009. 

“Foi um dos dias mais felizes da minha vida. Não consigo nem descrever a emoção que senti quando fui contratada. Naquela época era muito difícil admitirem pessoas com a minha idade, e depois de muito procurar, finalmente recebi uma oportunidade”, conta dona Zelinda, que começou a trabalhar como atendente e após quatro anos de trabalho foi promovida a treinadora. Depois de 13 anos trabalhando, seu marido finalmente entendeu que não era apenas uma aventura e hoje respeita a decisão da mulher. 

ENTRE GERAÇÕES

O restaurante, conhecido por empregar jovens que buscam o primeiro emprego, foi um ambiente desafiador no começo. Dona Zelinda explica que a adaptação não foi fácil, devido à diferença de idade entre os colegas de trabalho. “Com muita paciência e respeito fomos nos permitindo conhecer melhor e hoje considero meus companheiros de trabalho como uma segunda família”, pontua a idosa. 

A embaixadora da unidade, Alexia Marques de Oliveira, 19, afirma que dona Zelinda é vista como uma mãe para os outros funcionários. “Ela é um exemplo de profissional e de pessoa. Temos um carinho e uma relação bem maternal. Ela nos ajuda muito, pega no nosso pé quando preciso”, explica a funcionária. 

Aposentada desde o ano passado, a idosa pretende continuar trabalhando até quando sua saúde aguentar e não esconde que a rotina no trabalho é sua maior motivação. “Não estou aqui apenas por dinheiro, continuo trabalhando porque amo o que faço e vou continuar até Deus me dar forças. Não pretendo parar tão cedo”, ressalta dona Zelinda, que pretende empregar a neta mais velha no restaurante. “Quero que ela crie responsabilidade logo cedo e consiga se inserir no mercado de trabalho. Aqui é uma excelente escola para quem está começando”, finaliza. 

OPORTUNIDADES

Assim como Zelinda, outras pessoas acima dos 50 anos enfrentam dificuldades para ingressar ou até mesmo regressar ao mercado de trabalho. Para mudar a realidade desse público basta apenas uma oportunidade, conforme pontua a mauaense. “As pessoas mais velhas estão vivas e cheias de vontade de trabalhar. Precisamos apenas de uma chance para mostrar que também somos capazes e que temos muito para aprender e para ensinar. As empresas também precisam abrir as portas para as pessoas da terceira idade”, apela dona Zelinda. 




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