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Praias de água doce

Represa Billings dispõe de diversos espaços de lazer ao longo da margem, formando o ‘Litoral’ da região

Francisco Lacerda
Do Diário do Grande ABC
03/01/2022 | 04:03
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Claudinei Plaza/DGABC


O verão teve início às 23h59 do último dia 21. A estação tradicionalmente traz junto dias de muito Sol e intenso calor. Desta vez, de acordo com o Climatempo, haverá a interferência do fenômeno La Niña pela costa paulista, que vai afetar a Grande São Paulo, onde estão inseridas as sete cidades da região, que vão sentir com mais frequência ventos frios, o que faz com que o calorão não seja persistente por vários dias seguidos. As temperaturas, no entanto, se mantêm elevadas.

E nesses períodos quentes, principalmente nesta época de férias escolares, ‘bate’ aquela vontade de relaxar, desestressar a criançada, se refrescar, sentar-se à beira da água, tomar ‘umas’ e observar a movimentação. A primeira lembrança, para muitos, é a Baixada Santista. Boa parte dos 2,8 milhões de habitantes do Grande ABC, entretanto, tem outra opção: a Represa Billings com suas ‘praias de água doce’.

Cinco das sete cidades da região, exceção a São Caetano e Mauá, são ‘banhadas’ pelo manancial, com 127 quilômetros quadrados de extensão. A maior parte cobre São Bernardo, que pode, assim, ser considerada o ‘litoral’ do Grande ABC. É na cidade onde encontram-se a Prainha do Riacho Grande, no km 29 da Via Anchieta, frequentemente utilizada nos fins de semana inclusive por moradores de fora da região e que, além da água, oferece também “academia de ginástica ao ar livre, playground, pedalinhos, wet-bike, passeios náuticos e comércios”; e ainda o Parque Estoril, local no qual se pode desfrutar de, além da área para banhistas, teleférico, pedalinho, trilhas, viveiro, stand up paddle e caiaques, jardim sensorial, área de piquenique, lanchonetes, museu de arte ao ar livre. É a “primeira unidade de conservação da cidade, com atividades de educação ambiental, recreação e ecoturismo”, informa a Prefeitura.

E as outras contempladas pelo reservatório – Santo André, Diadema, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra –, apesar de não reconhecidas, também dispõem de áreas de lazer às margens da represa, como, por exemplo, no Jardim Riviera, sob o Trecho Sul do Rodoanel Mário Covas. É ampla, tem bares com cadeiras ao ar livre, que servem porções e bebidas. É frequentada, segundo se informa no local, por 400 a 600 pessoas por fim de semana.

Alexandre Soares Gomes, o Japa, é um dos organizadores do espaço. Ele e seu grupo com 257 donos de motos aquáticas são responsáveis por diversas melhorias no local. “A gente preserva, mantém limpo, e também tenta sempre ‘dar um toque’ para a galera para andar certinho, correto. Já comunicamos a Marinha, capitania de Santos, para fazer trabalho aqui, para montar parceria, para ficar espaço bem organizado para todo mundo se divertir, esse é o intuito nosso.”

Foi do grupo, inclusive, a ideia de indicadores na água. “Nós instalamos as boias para a demarcação (que separa banhistas das motos aquáticas). Passou dali tem de entrar devagarinho e estacionar.” A equipe do Diário presenciou, em um sábado de Sol, cerca de 150 pessoas, com muitas crianças, banhistas e motos aquáticas, que, em grande quantidade, saem em direção a outro ponto igualmente movimentado, no fim da Rua Sagui da Serra, no Recreio da Borda do Campo, muito diícil de ser acessado com veículo devido às péssimas condições da estradinha de terra. Tem mata por todos os lados, mesas espalhadas no Bar da Stela, que serve porções e bebidas em geral.

Proprietário de bar há sete anos no Jardim Riviera, Renato Alexandre da Silveira ratifica a informação de Japa e revela que não “rola confusão”. “Umas 200, 300 pessoas por dia no fim de semana. Todo tipo de gente, de tudo quanto é lugar, classe baixa, classe média, alta, todas, principalmente famílias inteiras, que são maioria. Graças a Deus nunca presenciei brigas.”

Em Diadema, ponto bastante frequentado é a Praia Vermelha, no Eldorado. De acordo com morador do condomínio homônimo, que preferiu anonimato, o local “lota” ao sábados e domingos de Sol, com “centenas” de pessoas fazendo churrasco, crianças brincando, carros com som alto, autêntica área de lazer. Ele, inclusive, como o residencial dá fundo ao braço da represa, construiu pier, muito usado para fotos. No mesmo dia em que a equipe do Diário esteve no local, um homem, que também não quis se identificar, jogava tarrafa para “levar uns peixes para casa”.

Em Ribeirão Pires, um dos points é a Ponte da Ligth, no Jardim Valentina, local pequeno, mas frequentado por famílias inteiras, cerca de 50 pessoas por dia aos fins de semana “se estiver calor”. É o que informa Stefano Ramos da Silva, 31, instalador de redes de proteção, que pescava com a filha Júlia, 8. É de fácil acesso, porém, com estrada em péssimas condições. “Bastante gente, que vem para nadar, pescar, passear, passar o dia com a família. Mas a Prefeitura precisa melhorar a estrada (de terra, esburacada).

Raí de Freitas Santos, 27 anos, é dono da Barraca do Raí, comércio mais próximo da ponte e no qual as pessoas se ‘abastecem’ de bebidas e porções, inclusive de peixe. “Às vezes pesco na represa mesmo, mas geralmente compro.” O comerciante lembra que “antigamente” era limpo o manancial, sem vegetação às margens, o que atraía muita gente. “Era top, uma praia. Hoje em dia está fechando de tanto mato. Mesmo assim ainda vem um pessoal para cá para curtir, de fim de semana, umas 100, 120 pessoas, de vários lugares, Mauá, Guaianases, São Mateus, de todo canto.”

Em Rio Grande da Serra era possível o entretenimento em prainha no fim da Avenida Flávio Humberto Rebizzi, conhecida como ‘Estradinha da Rebizzi’, na qual é tarefa árdua trafegar de carro tamanha quantidade de buracos. ‘Era’, porque, segundo Everaldo da Reciclagem, comerciante nas proximidades, “a Sabesp acabou com a brincadeira”. “Era nossa diversão, fazíamos churrasco, brincávamos. Mas tem um pessoal que ainda brinca. A Prefeitura precisa arrumar a estradinha e tirar a Sabesp para que a Rebizzi volte a ser o que era, para nossa diversão. Ou montar outro lugar. Nosso prefeito quer montar mais para frente, então, vamos ver (esperar). 

Como se vê, locais para diversão não faltam. Faltam, com certeza, melhores condição para mais bem explorá-los.

Donos de motos fazem benfeitorias

Alexandre Soares Gomes, um dos organizadores na ‘prainha’ do Jardim Riviera, em Santo André, é integrante de grupo com 257 donos de motos aquáticas. Japa, como é conhecido, diz que o “conceito” da turma não é fazer bagunça, nem tampouco dar “cavalo de pau na água, essas coisas”. Não são alugadas e quem quiser ‘dar um rolê’ tem de ser na garupa, porque existem regras, segundo ele. “Se uma pessoa de fora quer andar, vai andar com particular. Fins lucrativos aqui nada, é zero.”

O autônomo aponta os problemas a serem resolvidos no local. “Principalmente aos domingos, com banhistas. Necessitamos de um órgão que tome conta, como a Prefeitura ou a GCM, porque, como em todo lugar, tem uso de droga, para que a gente fique mais tranquilo. Precisamos mais da Prefeitura, apoio, com salva-vidas no fim de semana, porque cresceu muito. A barreira (de pilares de concreto) na entrada fomos nós que fizemos, porque tinha muito roubo de moto, molecada chegava de madrugada e jogava a moto no meio do mato, nos fundos. Então fechamos para inibir esse tipo de coisa. A presença do poder público é fundamental.”

Renato Alexandre da Silveira reforça o pedido por salva-vidas, mas também gostaria de ver presença maior da administração municipal. “(Fazer) Identificação certinha, colocar banquinhos, escorregador para as crianças, para ficarem mais à vontade, porque é sempre lotado. É lugar bem gostoso, bom. Agora, com fé em Deus, a pandemia acaba e espero que todos venham curtir com a gente na beira d’água.” 

‘Escondidas’ ou à vista, as áreas não são reconhecidas pelas prefeituras

Independentemente de terem ou não condição de uso, em toda extensão da Billings há diversas áreas para lazer, à vista ou escondidas, e que as prefeituras dizem não reconhecer. Em nota, o Paço de Santo André informa que “não há na cidade espaços de lazer oficiais nos bairros onde há margens da Represa Billings. Já Diadema salienta que “os dois braços da Billings em Diadema, no Eldorado, atualmente não são destinados para uso turístico”. Ribeirão Pires diz que não possui “nenhum local público e estruturado a tal finalidade”. “Aliás, a Prefeitura orienta as pessoas a não nadarem em locais desconhecidos. Rios, cachoeiras, lagos e represas podem reservar surpresas desagradáveis, como profundidade, galhos, lixo, lodo e pedras.” E, por fim, Rio Grande da Serra avisa “que as margens da represa, nos limites da cidade, estão preservadas e não possuem exploração para diversão”.




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