O Ministério Público de São Bernardo vai investigar os transtornos provocados pelo Camaleão Fest, micareta com a banda baiana Chiclete com Banana realizada no último domingo, na Estância Alto da Serra, estrada Velha de Santos, em São Bernardo.

O promotor Jairo de Luca, da Vara da Infância e Juventude, vai instaurar inquérito civil para medir os estragos gerados pelo trânsito caótico, policiamento insuficiente, falta de organização e fiscalização.

O MP não descarta mover uma ação civil pública para pedir à Justiça que a Estância seja interditada para shows. “Se a investigação apontar que não há outra alternativa, vamos pedir a interdição na Justiça. Mas antes tentaremos alternativas. Os moradores do entorno não podem conviver com a segurança ameaçada”, explica o promotor.

A festa – como dezenas de outras realizadas na mesma casa de shows – causou congestionamento de três quilômetros no último domingo. A fila de 15 mil carros parados ia da porta da Estância, na estrada Velha de Santos, aos muros da fábrica da Volkswagen, na Anchieta.

Moradores do Riacho Grande ficaram ilhados, já que o único acesso à área, pelo trevo do Km 29, foi tomado pelo trânsito.

Em dias de eventos como a última micareta, que facilmente atraem cerca de 20 mil pessoas, o trecho de pista congestionado se transforma num corredor de criminalidade. Roubos, vandalismo, brigas, venda de bebidas alcoólicas e drogas são rotina no trânsito caótico.

Dezenas de ambulantes se aglomeram nos acostamentos da Anchieta e da estrada Velha, sem que haja fiscalização. Policiais militares reclamaram no domingo que não conseguiam conter os batedores de carteira e ladrões de carro. Muito menos os abusos cometidos pelos motoristas, já que a bebedeira foi generalizada.

O MP ouvirá Prefeitura, Polícia Militar e proprietários da Estância Alto da Serra e da empresa Atrás do Trio, que organizou o carnaval fora de época. “As denúncias são graves. Os criminosos agem livremente. Quem vive no Riacho Grande enfrenta um trânsito terrível. E a segurança de todos fica comprometida”, afirma o promotor De Luca.

O incidente com palco em que o Chiclete com Banana se apresentava – a parte de trás da estrutura cedeu, antecipando o fim da micareta – também será alvo das investigações. Procurado novamente nesta terça-feira pela reportagem, o empresário Maurício Prado, da Atrás do Trio, não quis se pronunciar sobre o caso. O MP afirma que pretende ir além.

“Vamos checar se todos os alvarás foram concedidos pelo Corpo de Bombeiros, Prefeitura e Vigilância Sanitária. vamos verificar se todas as vistorias exigidas foram feitas antes da festa.”

A suposta participação de adolescentes desacompanhados dos pais na micareta também será apurada. “Menores de 18 anos não podem participar de shows como os da Estância sem estar acompanhados dos pais. A menos que a organização tenha conseguido uma liminar especial na Justiça, o que acho bem difícil”, diz De Luca.

Se jovens menores de 18 anos tiverem participado da festa do Chiclete sem autorização da Justiça, tanto a Atrás do Trio quanto a Estância Alto da Serra poderão ser multadas por desrespeito ao ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente).

Nesta terça-feira, um dos representantes de moradores do Riacho Grande, José Carlos Ricci, protocolou no Ministério Público o pedido para que a Estância seja interditada para shows até que as obras no trevo do Km 29 sejam finalizadas. “Não podemos mais arcar com tanto incômodo. Ficamos reféns dessa casa de shows”, protesta a liderança.

O pedido será analisado pela Promotoria da Cidadania, que pode abrir outro inquérito civil para cobrar a solução do problema. Quinta-feira, tem show da banda Calipso e o movimento na estrada, em pleno feriado, deve ficar caótica de novo.