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Conselho quer incluir aula de tecnologia na grade curricular

Especialista avalia que iniciativa exige investimentos em compra de equipamentos e na formação para docentes

Aline Melo
Do Diário do Grande ABC
23/05/2022 | 00:01
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Celso Luiz/DGABC


O CNE (Conselho Nacional de Educação) publicou em março parecer dando conta de diretrizes para que as redes educacionais criem seus currículos de tecnologia no prazo de um ano. O documento ainda precisa ser homologado para entrar em vigor. Especialista em tecnologias educacionais, professor do Instituto Singularidades e diretor da Tríade Educacional, Leandro Holanda cita que, além de definir as diretrizes para o ensino tecnológico, as redes vão precisar investir fortemente na formação dos docentes, além de garantir equipamentos para todos os alunos.

Holanda lembra que o trabalho com tecnologia já está inserido na escola, mas quando se fala em ter um currículo para ensino de tecnologia e computação, estamos falando em quais são as expectativas de aprendizagem para cada ano e série, para cada nível educacional e o que cada aluno deve saber ao fim de cada etapa de aprendizagem. “Hoje existe um trabalho muito forte de trazer pensamento computacional, programação, cultura digital, ética nos meios digitais e o que acontece é que, muitas vezes, a escola não tem um acompanhamento direto desse trabalho, porque não tem um currículo, que é justamente o que vai estruturar essas expectativas para poder mensurar o que está sendo desenvolvido, o que pode ser aprimorado, para trabalharmos com evidências”, completou.

O especialista cita que o ensino tecnológico precisa estar alinhado com a fase de vida dos alunos e que muito se perdeu quando as escolas deixaram de lado aulas de informática, sob argumento de que os alunos já seriam “nativos digitais”. “O uso das redes sociais, tão presente nas gerações atuais, está muito relacionado à comunicação. É possível um currículo que alie o aprendizado tecnológico com outras disciplinas, como ensinar o aluno a fazer uma planilha para criar gráficos em uma aula de matemática; ou a criação de um texto de forma colaborativa na aula de linguagem. Não é só recurso, mas em um contexto que promova as aprendizagens esperadas dentro das áreas de conhecimento”, completa.

O diretor frisa que é preciso que sejam desenvolvidas metodologias não apenas de aprendizagem dos alunos, como também de formação dos educadores, para que haja possibilidade de que os docentes promovam o aprendizado das disciplinas da base curricular em conjunto com o aprendizado de tecnologia. “Esse é um ponto que ainda precisa de muita formação, porque não basta ter o recurso, é preciso aplicá-lo de forma correta. Durante a pandemia houve investimentos em diferentes recursos, mas é preciso que se saiba como incorporá-los à realidade da aula que voltou a ser presencial”, ressalta. “É importante também que os alunos tenham a oportunidade de manipular os equipamentos, então também serão necessários investimentos nessas infraestruturas”, pontua.

Holanda afirma que é preciso que, além do currículo, as redes desenvolvam métodos para acompanhar se o que foi planejado está sendo executado. “Essa construção do currículo deve ser feita com a participação dos professores, de uma forma colaborativa. O ensino da tecnologia tem que estar calçado em pilares como recursos disponíveis em sala de aula, internet de qualidade e formação dos professores”, concluiu.

Alunos já lidam com tecnologia em salas de aulas, garantem as redes

Embora a discussão de currículo de tecnologia esteja sendo oficializada, os alunos já têm contato com o ensino, garantem as redes municipal e estadual do Grande ABC. A Secretaria de Estado da Educação informou que desde 2019 aplica as diretrizes de tecnologia e inovação, que se estruturam em três eixos: TDIC (Tecnologia Digital da Informação e Comunicação), Letramento Digital e Pensamento Computacional. Atualmente, alunos do 5º ano do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio têm acesso às aulas.

Santo André informou que a elaboração de currículo específico sobre esta temática, que atenda o parecer do CNE (Conselho Nacional de Educação), está em fase de estudo. “O tema tecnologia perpassa os componentes curriculares de todos os níveis de ensino”, frisou a administração.

São Bernardo afirmou que a competência tecnologia e inovação já fazem parte do currículo. “A aprendizagem criativa integra o dia a dia dos alunos da rede municipal desde 2017, com salas/laboratórios  preparados para essa imersão no raciocínio lógico e criativo.”

Em São Caetano, as tecnologias educacionais são parte do currículo nas diferentes etapas de ensino, relata a Prefeitura. “Nas escolas integrais de ensino fundamental, há, na matriz curricular, o trabalho com a gamificação, enquanto nas demais é possível desenvolver projetos relacionados a robótica e programação”, citou em nota.

Diadema informou que o currículo de tecnologia está em fase de desenvolvimento e que enquanto essa etapa não é finalizada, mantém ações junto a estudantes da educação integral no Programa Aprender Mais, com utilização de tablets, em uma proposta de integração digital, dentro do programa Escola Conectada e do PDE (Plano de Desenvolvimento da Educação) Diademense.

Mauá informou que a rede atende crianças de zero a 6 anos, com foco no cuidar e educar, e que existem no currículo da rede experiências com uso das tecnologias. Rio Grande da Serra ressaltou que no entendimento da Secretaria de Educação a resolução aponta para estudos acerca dos ensinos médio e superior e o município atende apenas educação infantil e uma escola de ensino fundamental I. Ribeirão Pires não respondeu aos questionamentos do Diário

Inserção da tecnologia é possível desde educação infantil

O parecer do CNE (Conselho Nacional de Educação) com diretrizes para que as redes educacionais criem seus currículos de tecnologia trata de todos os níveis educacionais, já que, mesmo com crianças pequenas, é possível trabalhar o conteúdo. 

Em São Caetano, todas as escolas contam com aulas dessa área do conhecimento, desde a educação infantil, com mesas digitais para familiarização com o alfabeto, o que faz com que os alunos já cheguem familizarizados com os equipamentos que serão usados na vida escolar.

Diretora da Emef (Escola Municipal de Ensino Fundamental) Anacleto Campanela, Adriana Putini Assi explica que o trabalho de implementação de tecnologia da rede teve início em 2017. Em 2020, quando a pandemia obrigou todos os estudantes a adotar o ensino remoto, essa experiência foi fundamental. “Já tínhamos conhecimento necessário para montar um sistema próprio, montar nosso próprio programa”, disse.

Adriana citou que na pandemia foi intensivada a formação dos docentes, para criação de site, plataformas, o que fez com que processos que antes eram analógicos passassem a ser digitais, como o diário de classe. 

Para a pequena Keyth Leroy Miranda, 7, aluna do 2º ano do fundamental, o computador ao qual ela tem acesso na escola é um portal para pesquisas. E joguinhos. “Uso mais na escola do que em casa”, contou. A diretora explicou que o uso dos equipamentos se mescla aos ensino do currículo regular. “A gente tem  momentos de estudos que fazem com que as aulas sejam interativas, sem perder a essência do que está sendo trabalhado”, afirmou.

Nas escolas privadas, de uma forma geral, o ensino de tecnologia está presente há mais tempo do que na rede pública. No colégio Stocco, de Santo André, o currículo tecnológico é ofertado desde o fundamental I até o ensino médio. O coordenador pedagógico da unidade, Rodrigo Reis, explicou que o currículo foi escrito visando tanto as aulas de tecnologia fundamental, mas também as de robótica. “O foco desse currículo já era justamente olhar para os três eixos do ensino da computação, pensamento computacional (lógica), linguagem de programação e a parte de entender onde a tecnologia se encaixa no mundo”, relatou.




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