No mesmo período, a participação de outras drogas subiu de 4,7% (1988) para 15,6% (1999). Cocaína e derivados, como o crack, tiveram o maior crescimento entre as drogas que motivaram internações psiquiátricas no Brasil e passaram de 0,8%, em 1988, para 4,6%, em 1999.
De acordo com a farmacêutica Ana Regina Noto, 35 anos, pesquisadora do Cebrid que trabalhou no levantamento, a diminuição no índice de alcoolismo como causa das internações não significa queda da incidência desse problema na população. “Os casos de alcoolismo continuam altos e crescentes. As ocorrências com outras drogas é que também têm aumentado nos últimos anos”, disse.
Segundo ela, o alcoolismo no Brasil é um problema preocupante e faltam definições de políticas públicas mais eficientes na prevenção e também na proibição de bebidas para menores de 18 anos. “A lei proíbe, mas não é cumprida.” Além da pesquisa sobre as internações psiquiátricas, o Cebrid, órgão do Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo, realizou em 1999 o primeiro levantamento domiciliar sobre o uso de drogas psicotrópicas nas 24 cidades paulistas com mais de 200 mil habitantes, entre elas quatro do Grande ABC – Santo André, São Bernardo, Diadema e Mauá –, e constatou que 6,6% da população é dependente de álcool, o que corresponde a cerca de 1 milhão de pessoas. O índice de dependência nos homens, constatado na pesquisa, foi de 10,9% e, nas mulheres, de 2,5%. O levantamento registrou que 53,2% da população pesquisada já tomou algum tipo de bebida alcoólica na vida, resultado inferior ao verificado no Chile (83,6%), nos Estados Unidos (81,3%) e maior do que o encontrado na Colômbia (35,5%).
C.B., 26 anos, está internado há dois meses no Centro de Tratamento Bezerra de Menezes, em São Bernardo, para tentar se livrar das dependências de álcool e cocaína. Morador na região, ele afirma que aos 12 anos tomou seu primeiro porre e aprendeu a beber. Além da bebida, C. passou a usar também cocaína. Por causa da bebida e de outras drogas, interrompeu os estudos no penúltimo ano do ensino regular, teve o casamento terminado e acabou na clínica para recuperação de dependentes químicos.
C. trabalha em uma empresa na região e foi encaminhado para tratamento no Bezerra de Menezes por meio de convênio médico. Ele afirma que teve dificuldades em aceitar o fato de ser considerado doente por causa da dependência química, requisito básico para iniciar o tratamento psiquiátrico.
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