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Professora dedica as noites a mostrar o mundo das letras e a levar luz a alunos
Publieditorial
27/06/2021 | 00:32
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Celso Luiz/DGABC


Desde que a pandemia do novo coronavírus assolou o Grande ABC – e o mundo –, as pessoas foram obrigadas a se adaptar ao novo normal. No caso da educação, as aulas on-line se tornaram aliadas para que o ensino não ficasse totalmente prejudicado. Para isso, professores tiveram de se reinventar e buscar novos métodos para suprir as necessidades dos alunos, sobretudo aqueles que demonstram mais dificuldade no aprendizado. Um dos exemplos é a docente Rosilene Maria do Nascimento, 54 anos, que tem dedicado suas noites para mostrar por meio de aulas on-line aos alunos da EJA (Educação de Jovens e Adultos) na Emeief (Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental) Madre Tereza de Calcutá, no Parque João Ramalho, que “a vida tem luz”, ministrando aulas de alfabetização.

Rosilene, que atua em escola estadual desde 2005, iniciou sua carreira como educadora na rede municipal em 2003. Três anos depois ingressou na EJA para lecionar matemática e, desde 2016, trabalha também com alfabetização, o que a “apaixonou”, conforme relata. Ela conta que, de todas as matérias e séries que já lecionou, a educação voltada ao público adulto a fascinou porque “realiza sonhos”. Esse foi o principal motivador para que ela não deixasse seus 21 alunos ‘na mão’ durante o período de isolamento físico imposto pelo governo para conter a disseminação da Covid-19. “O que me salvou é que não mudei de sala quando chegou a pandemia. Já tinha vínculo com os alunos e, assim, pude manter nosso contato e ministrar as aulas”, disse.

Rosilene destaca que, no início, não foi tão fácil convencer a turma a estudar remotamente. “Temos uma disparidade de idades e classe social muito grande em um único ambiente. Minha sala tem 21 alunos ativos, sendo que a mais velha tem 70 anos e o mais novo, 28. Porém, muitos nem celular têm e, para dar as aulas, tive de buscar outras maneiras”, revelou. Segundo ela, há alunos que têm aula uma vez por semana, porque familiares levam seus celulares até a casa do estudante. “Em um dos casos, a neta leva o celular para a avó. Há um outro aluno que o filho vai na casa dele com o celular para que o pai possa assistir às minhas aulas”, exemplificou a docente.

“Tem aluno que só agora conseguiu fazer a aula com celular próprio, porque só agora conseguiu comprar um aparelho”, lamentou Rosilene, destacando ainda que há pessoas que vivem em vulnerabilidade e, portanto, não têm acesso à internet.

Emocionada, a professora comentou que passou a viver a vida dos alunos, e ter papel importante de amiga e conselheira. “Tive de incentivá-los. Eles tinham vergonha da aula on-line. Precisei, com calma, mostrar que valia a pena e que daria para continuar aprendendo, mesmo longe de mim fisicamente”, explicou Rosilene, comemorando que em sua turma nenhum dos alunos desistiu devido às dificuldades para adaptação a um novo modelo de aulas.

Como os estudantes têm diferença de grau de conhecimento, Rosilene passou a dar aulas particulares, um a um, das 19h às 22h, todos os dias. “Comprei lousa de parede, depois uma digital, e fui me adaptando para facilitar para os alunos. É um trabalho de formiguinha, mas foi assim que muitos, na pandemia, aprenderam a ler e a escrever”, disse, emocionada. “Tem alunos que me falam que, antes das aulas, eram cegos. Uns se emocionam em ver que hoje estão lendo versículos da igreja. Outros querem tirar habilitação. Cada um tem seu sonho, mas todos, sem exceção, precisam de muita força de vontade. É fascinante.” 




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