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Orelhões ainda têm adeptos fiéis
Bruna Gonçalves
Do Diário do Grande ABC
10/07/2011 | 07:16
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A era do celular e na contramão da modernidade, há quem prefira o bom e velho orelhão. Por hábito, necessidade ou pelo custo mais baixo, moradores ainda utilizam os telefones públicos, que no Grande ABC somam 15.919 equipamentos.

A vendedora ambulante de São Bernardo Noemi Borges Sampaio, 38 anos, não gosta e não vê necessidade de ter celular. Ela não quer correr o risco de ficar sem bateria ou sem dinheiro para colocar crédito. É por isso que usa diariamente o orelhão que fica na mesma calçada em que trabalha.

É de lá, na Rua dos Vianas, que Noemi liga para os filhos para saber como estão, pedir para iniciarem o preparo do almoço ou recolher a roupa do varal. "Se eles precisam falar comigo é só ligar no número do orelhão. Não tem desencontro", contou a moradora do bairro Alto da Boa Vista, que trabalha das 7h às 20h.

Para ela, o aparelho é fundamental. "Temos de preservar.Sempre tenho cartão de 50 unidades", contou. Segundo a Telefônica, com um crédito é possível falar dois minutos em ligação para telefone fixo.

É pensando em economizar que muita gente deixa o celular no bolso e recorre ao telefone público - no Brasil, segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações, há em média uma linha móvel por habitante. Muitos optam pelo orelhão para fazer ligações para outras cidades e estados.

"Por mês chego a economizar de R$ 20 a R$ 30 usando o telefone público para ligar para Paulínia (interior do Estado) e para o Ceará todo fim de semana", disse o pedreiro Daniel Antônio Oliveira, 31, morador na Vila Luzita, em Santo André.

Comunitário

Há cinco anos, Carlos Uchoa, 39, mais conhecido como Carlinhos, instalou em seu bar, na Vila Alpina, em Santo André, um telefone público. "A intenção foi facilitar tanto para os clientes quanto para a população o acesso à linha em lugar seguro", comentou o proprietário, que vende cerca de 100 cartões telefônicos por mês.

Os clientes usam o orelhão para avisar às mulheres que estão no bar, e elas também costumam ligar para saber dos maridos. O aposentado José Carlos Prinholato, 62, disse que mais estabelecimentos deveriam tomar a iniciativa. "Minha mulher já tem o número e sabe onde me procurar. Tenho celular, mas não gosto. Desse jeito é mais prático", afirmou o morador do bairro Jardim.

Aparelhos ainda são fundamentais nas ruas

Especialistas estimam que o uso dos telefones públicos caiu em torno de 40% na última década, mas garantiram que a queda não é suficiente para que a população deixe de usá-los. Em situações de emergência ou em regiões onde o celular não funciona, os orelhões são fundamentais.

 "O telefone público tem a vantagem da disponibilidade em situações como enchentes ou vésperas de feriados, em que muitas linhas de celular entram em colapso. Além de o minuto ser mais barato do que o do celular, que, em média, é de R$ 1", afirmou o professor de Engenharia Elétrica da FEI Antonio Carlos Gianoto.

A Telefônica informou que, mesmo com a redução do uso, são vendidos pelo menos 200 cartões telefônicos por minuto durante todo o ano. A empresa esclareceu que a ligação é 45% mais barata do que as chamadas feitas de celular pré-pago. Em média, o preço do cartão varia entre R$5 de 20 unidades até R$ 10 de 75 unidades.

Faz 15 dias que a dona de casa Rita Carvalho Silva, 60 anos, se mudou de Lavras, em Minas Gerais, para a casa da filha no Jardim Irene, em Santo André. Para falar com os parentes mineiros ela usa o orelhão. "O minuto saiu mais barato, não quero usar o telefone da minha filha para fazer interurbano", disse.

Usuários reclamam de vandalismo e má conservação

Uma das principais reclamações dos usuários dos orelhões é o vandalismo. Pichações e coberturas perfuradas foram os problemas mais comuns encontrados nos bairros de São Bernardo e Santo André visitados pela equipe do Diário. A Telefônica informou que cerca de 25% dos aparelhos sofrem algum tipo de depredação. A empresa gasta por ano R$ 19, 2 milhões para recuperá-los. Em 2010, reportagem publicada no Diário apontou que, em média, 125 aparelhos são depredados por dia. Foram testados 50 aparelhos, dos quais 20 apresentavam sinais de vandalismo.

Para a autônoma do Jardim Santo André, em Santo André, Audiene de Oliveira, 31 anos, a má conservação do aparelho e a falta de manutenção são a causa que muitos deixem de usar. "Faz uns cinco anos que não uso. Perto da minha casa o aparelho não funciona. É por isso e pelo vandalismo que muitos acabam utilizando somente o celular", afirmou.

A Telefônica informou que para solicitar manutenção ou para reclamar sobre danificações o usuário pode entrar em contato pelo telefone 103-15. As reclamações podem ser feitas na Central de Atendimento da Agência Nacional de Telecomunicações pelo número 1331, de segunda a sexta-feira, das 8h às 20h.

Outro fator que reduz o uso é a insegurança. A dona de casa Eliete Couto da Silva Teixeira, 43, da Vila São Pedro, em São Bernardo, trocou o telefone público pelo fixo e celular. "Já usei muito para ligar para Pernambuco, hoje acho perigoso ficar no orelhão com essa violência", avaliou.

A vendedora da Vila São Pedro Roberta de Macedo, 18, não troca a praticidade do celular. "Para fazer ligações para a Bahia usava o orelhão, mas como os programas das operadoras de celular oferecem bônus, acabei optando pelo celular", contou.




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