Faltam 13 medicamentos na farmácia de alto custo do Hospital Estadual Mário Covas, em Santo André. Esse era o número de remédios em falta no centro médico na manhã de sexta-feira. São remédios vitais para controle do câncer de mama, para tratamento de transplantados, surtos psicóticos, entre outros. Apesar de a reportagem ter tido acesso à lista de medicamentos em falta, a Secretaria de Estado da Saúde reconhece a ausência de apenas cinco itens.
A lista é a mesma dos atendentes que controlavam a distribuição de senhas a pacientes sexta-feira. De acordo com a secretaria estadual, pelo menos dois dos remédios – Bazafibrato e Levotiroxina – são adquiridos pelo Estado mediante pedido dos pacientes, pois não ficam disponíveis em estoque. Entre os outros remédios, o governo assume que realmente estão em falta a Amantadina, a Budesonida, o Deferiprona, o Hidroxiuréia e o Prednisona.
Segundo a Secretaria de Saúde, os laboratórios farmacêuticos responsáveis pela distribuição do Amantadina, do Hidroxiuréia e do Prednisona não entregaram os pedidos feitos há 60 dias – por isso a demora. O Estado não apresenta alternativas para os pacientes que precisam desses remédios. Também não dá previsão para a regularização do estoque. No caso do PKU 2, as retiradas são mensais e estarão disponíveis novamente no fim do mês. Já no caso do Budesonida, segundo a Secretaria de Saúde, houve demanda alta pelo remédio no último mês, e a farmácia do Mário Covas não deu conta. A normalização da distribuição deve ocorrer em 15 dias.
Entre os medicamentos que o Estado garante estarem disponíveis, está o Sirolimo, um imunossupressor usado por pessoas que receberam órgãos transplantados. Sexta-feira, o aposentado Márcio Oliveira, morador de Santo André, ligou para a farmácia do Mário Covas para tentar obter o remédio. Existem duas versões do Sirolimo, e Oliveira toma a versão em comprimidos. Foi informado por telefone que estava em falta. Na farmácia do hospital, a funcionária que distribuía as senhas deu a mesma informação para a reportagem. Mas o Estado nega o desabastecimento. Oliveira tenta obter o remédio desde o dia 4. O estoque na casa do aposentado dura somente até o dia 19.
O médico João Douverny, nefrologista da Faculdade de Medicina do ABC, explica que a substituição da forma líquida para a de comprimidos, neste caso, é complexa. "Não dá para trocar um pelo outro só porque não tem na farmácia. O corpo do paciente está adaptado, o médico dele precisa avaliar antes da troca", explica.
O Sirolimo tem função de reduzir a proliferação de células de defesa que atacariam o órgão transplantado. Sem ele, o paciente sofreria rejeição, na explicação do nefrologista Douverny. É preciso tomar o remédio pelo resto da vida.
No caso do Tamoxifeno, um remédio utilizado no tratamento hormonal em pacientes que controlam o câncer de mama, o Estado diz que a sua distribuição foi suspensa por ordem do governo federal. A professora Neusa Azevedo Guima, 58 anos, afirma não ter sido informada sobre a mudança. Desde o dia 30 de março, diariamente, ela liga para obter informações. "Só dizem que não chegou", afirma. No mês passado, ela teve de comprar o remédio em uma farmácia particular. Custando R$ 100, a cartela de comprimidos consome 5% de todo o orçamento familiar da casa da professora. N
Lista dos medicamentos em falta:
Amantadina - Liberação de dopamina para pacientes com Mal de Parkinson
Bezafibrato - Doenças arteriais
Budesonida - Asma, inflamações intestinais
Deferiprona - Quelante de Ferro para receptores de transfusão de sangue
Hidroxiuréia - Elevação dos níveis de hemoglobina para pacientes diversos
Levotiroxina - Hipotireoidismo
Lovastatina - Doenças coronárias
PKU 2 - Complemento alimentar
Prednisona - Asma e lesões pulmonares
Quetiapina - Síndromes psicóticas
Somatropina - Tratamento hormonal
Tamoxifeno - Tratamento hormonal para câncer de mama
Sirolimo - Tratamento de transplantados
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