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Luiz Sacilotto assina sua primeira litografia
Ricardo Ditchun
Da Redaçao
02/11/1999 | 17:14
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Segunda-feira (01), pela primeira vez em quase meio século de carreira, o pintor e escultor Luiz Sacilotto, 75 anos, assinou uma série de litografias feita a partir da trama de uma de suas concreçoes. Até entao, o mercado de arte só dispunha de serigrafias do artista andreense, um dos principais nomes do concretismo no Brasil. De acordo com Sacilotto, o resultado é surpreendente: "Ficou excelente, muito fiel à pintura original, sobre tela, de 1976". A qualidade ressaltada, neste caso, justifica-se em funçao da chancela que também acompanha cada um dos apenas 25 exemplares reproduzidos. Ela exibe uma logomarca obtida a partir das letras R e G, iniciais de Roberto Gyarfi, ou Alemao, de Sao Bernardo, o melhor litógrafo do país.

Curiosamente, as primeiras litografias assinadas por Sacilotto aparecem no momento em que se completam 200 anos do aparecimento dessa técnica de impressao sobre pedra calcária baseada no princípio químico da repulsao - entre água e gordura, no caso. A prensa de Alemao, uma Karl Krause fabricada em Leipzig, na Alemanha, entre 1800 e 1850, é, aliás, uma das peças mais cobiçadas por profissionais do setor, pois, apesar da idade, garante uniformidade e qualidade inigualáveis para as séries que produz. No momento, Alemao a usa para compor tiragens para duas obras de Aldemir Martins (um gato e uma paisagem) e para uma de Alex Cerveny.

Segundo Gyarfi, a idéia de realizar uma litografia com Sacilotto surgiu há três anos, quando eles se conheceram pessoalmente por ocasiao de uma exposiçao realizada em Santo André: "Eu tinha ouvido falar muito de Sacilotto, sobretudo de sua personalidade. Lembro que nao chegamos a acertar nada, mas restou uma vontade muito forte de fazer este trabalho". Na época, Alemao ainda mantinha seu ateliê em Sao Paulo. Com a transferência de seu local de trabalho para Sao Bernardo, em março deste ano, o contato foi retomado e ambos acertaram os detalhes do projeto, que também contou com a colaboraçao do pintor e escultor Antônio César Scopel.

Além dos 25 exemplares de Sacilotto, foram feitas, para Alemao, de acordo com as normas determinadas pela Convençao de Genebra, mais seis unidades, sendo uma PI (Prova do Impressor), uma BPI (Boa Para Imprimir) e quatro PAs (Provas de Artista). O papel usado nas gravuras é o Hahnemuhle, da Alemanha, sensível o suficiente para documentar rigorosamente toda a precisao que caracteriza a obra concretista de Sacilotto.

Neste caso, a composiçao, em preto-e-branco, apresenta um notável jogo de efeitos cinéticos que faz o observador enxergar, de um momento para outro, ou apenas um apanhado de triângulos, ou de quadrados ou de favos. Por fim, o jogo de luzes e formas adquire maior dramaticidade em sua área central, definida por uma linha curva que cria uma espécie de zona de tensao e de muita movimentaçao visual. Para Alemao, a série assinada por Sacilotto é fundamental no sentido de tornar mais acessível a obra do artista: "O objetivo da litografia, e da gravura em geral, é esse mesmo. Pessoalmente, estou muito orgulhoso de ser o impressor responsável pela produçao da primeira tiragem em litografia de Sacilotto".

Alemao também é responsável pela organizaçao de uma oficina em seu ateliê, que certamente terá efeito multiplicador na regiao. Neste mês, o litógrafo inicia os preparativos para uma exposiçao que abrigará gravuras de 12 artistas que freqüentaram sua oficina ao longo do ano.




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