Setecidades Titulo Investimento
Tietê concentra verbas do poder público

Diferença de investimento entre o rio da capital e o Tamanduateí chega a R$ 5 bilhões a favor do Tietê

Isis Mastromano Correia
Do Diário do Grande ABC
22/01/2009 | 07:00
Compartilhar notícia


Quase R$ 5 bilhões separam os rios Tietê e Tamanduateí quando o assunto é investimento do poder público.

Nos últimos 17 anos, o rio que corta a Capital recebeu US$ 1,4 bilhão (aproximadamente R$ 3,295 bilhões) para trabalhos de recuperação e abarcará ainda outros U$ 800 milhões (cerca de R$ 1,883 bilhão) nos próximos seis anos.

Na outra ponta da bacia hidrográfica, o Tamanduateí recebeu, no mesmo período, pouco mais de R$ 212 milhões em trabalhos que sublinharam somente o aspecto das cheias do rio e não de restauração da qualidade das águas.

A discrepância começa no valor consumido naquela que é tida como a principal intervenção feita na história recente do Tamanduateí. Foram gastos R$ 200 milhões, em 1997, para aumentar a capacidade de escoamento do rio por 16 quilômetros de extensão de São Caetano à Capital.

Posteriormente, obras das margens por 10 quilômetros do Tamanduateí consumiram R$ 1 milhão cada quilômetro, de Santo André à São Caetano.

O superintendente do Daee (Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo), Ubirajara Tannuri Felix, considera a revisão do Plano Estadual de Macrodrenagem o grande novo projeto para o Tamanduateí.

"Nesse momento, pela revisão do plano, o Tamanduateí está sendo milimetricamente estudado e, em abril ou maio, teremos uma visão completa do rio e toda bacia do Alto Tamanduateí", garante Felix.

Porém, mais uma vez, um resultado plausível que aponte para as atuais necessidades do rio pode esbarrar na falta de verba. Os estudos para atualizar a situação de todas as bacias estaduais terão de ser feitos com R$ 1 milhão, valor que o governo vai pagar para que seja revisado o Plano de Macrodrenagem.

Sem atenção específica, é do plano idealizado para o primo rico da Capital que o Tamanduateí acaba retirando frutos para melhoria de suas águas.

Graças ao Projeto Tietê, lançado em 1992 para reverter o quadro de degradação do rio, é que a bacia do Tamanduateí ganhou a única ETE (Estação de Tratamento de Esgoto) da região, a ETE-ABC, nos limites entre São Caetano e São Paulo.

Também é reflexo do Projeto Tietê os 124,6 quilômetros de coletores e interceptores de esgoto instalados nas margens do Tamanduateí, desde a inauguração do programa.

A Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) informou que na terceira fase do Projeto Tietê (que se estende de 2008 a 2015), Santo André e São Bernardo ganharão 120 quilômetros de coletores e interceptores, livrando o rio de parte dos dejetos recebidos hoje. A estatal não revelou quando as obras serão concluídas.

"É certo que a rede hidrográfica é integrada e trabalhos que melhoram a condição de um rio refletem nos demais. Mas, enquanto os avanços foram significativos no Tietê, o Tamanduateí empacou", avalia a engenheira ambiental Meire Rodrigues, da USP (Universidade de São Paulo). "Sem o tratamento de 100% de todos os esgotos, tratar a limpeza de qualquer rio é como enxugar gelo", completa.

Sem atenção especial, Tamanduateí é vilão para o Tietê

Além do Projeto Tietê, o rio que corta a Capital recebeu entre 2002 e 2006 outra grande intervenção: o rebaixamento e urbanização de sua calha que permitiram que uma porção das águas, da Capital até Osasco, voltasse a ser navegável e também conteve as inundações.

Tamanha atenção dada ao Tietê na última década pelo poder público e pela sociedade civil (o Projeto Tietê nasceu graças à pressão popular, com um abaixo-assinado de 1 milhão de assinaturas) acabou por transformar seus afluentes, sobretudo o Tamanduateí, em vilões.

É o rio que corta Santo André, São Caetano e Mauá o responsável por levar toda a carga poluidora, especialmente a industrial, do Grande ABC para o Tietê.

Ambientalistas estimam que o Tamanduateí seja culpado por pelo menos 15% de toda a poluição do Tietê.

O Projeto Tietê visa a construção de redes de coletores-tronco e o tratamento de esgoto para que os municípios não mais despejem essa carga poluidora diretamente no Tietê. Mas, para isso, todas as prefeituras têm de fazer suas redes locais e enviar os dejetos para tratamento.

São Caetano é a única a estar livre dessa missão, pois trata 100% de seu esgoto. Santo André espera fazer o mesmo até 2012 e Mauá ensaia tirar do papel uma estação de tratamento própria. "Veja a importância que o governo do Estado deu para o Tamanduateí: gastou esse volume enorme de recursos para que o rio também fosse muito seguro, como é hoje o Tietê", é o que defende o superintendente do Daee, Ubirajara Tannuri Felix.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;