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Enem mantém calendário e abre inscrições

Especialistas defendem adiamento da data do exame para o início do próximo ano

Vinícius Castelli
Do Diário do Grande ABC
12/05/2020 | 00:01
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Celso Luiz/DGABC


Mesmo com a pandemia do novo coronavírus instalada e o número de infectados crescendo a cada dia no Brasil, tiveram início ontem as inscrições para as provas do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), como estipulado no calendário. O MEC (Ministério da Educação) manteve também as datas originais das avaliações, dias 1º e 8 de novembro (presencial) e 22 e 29 do mesmo mês, na versão digital.

A decisão de manter o calendário original desagradou especialistas e estudantes, que estão fora das escolas desde o dia 24 de março como meio de contenção da Covid-19.

Pedagoga e diretora-presidente da Comunidade Educativa Cedac, Tereza Perez é uma das que defendem a mudança da data das provas do Enem. Ela diz que muitas pessoas não têm acesso à internet para seguirem com as aulas. De acordo com pesquisa realizada em 2018 pelo Cetic.br (Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação), o acesso à internet é de 90% para classe A e 40% para as classes D e E.

Tereza afirma que os professores estão se esforçando para que o ensino a distância tenha eficácia, mas ela lembra de diversos pontos que devem ser levados em consideração, principalmente quando se fala do aluno de baixa renda da rede pública. A pedagoga reforça que, muitas vezes, o aluno vive em um único cômodo com a família toda e passa por outras dificuldades. “A maioria dessas pessoas está em situação muito difícil, não só com relação ao espaço, internet e alimentação. Tem a questão emocional nas casas. Morte, desemprego, violência doméstica e situação de estresse. O desemprego chega primeiro na periferia”, frisa.

A especialista acredita que o exame deveria ser reagendado para o início de 2021. “Nem sabemos se em novembro poderemos estar com todos esses estudantes na mesma sala para fazer as provas”, projeta.

Liliane Rodrigues Lucarini, pedagoga e especialista em educação inclusiva com ênfase em surdez, também defende que a aplicação do exame não deve acontecer neste ano. “Acho absurdo que no meio de uma pandemia se pense em Enem” comenta. “Os estudantes que estão em casa, provenientes de classe média, mais abastada, têm condições de estar com seu computador, quarto reservado para os estudos, uma família dando apoio emocional, e, acima de tudo, com a barriga cheia. Mas estamos falando de milhões de brasileiros que não conseguem ter aula on-line”, afirma.

Ontem, a secretaria de controle externo da educação do TCU (Tribunal de Contas da União) se manifestou, em parecer técnico, pelo adiamento do Enem. O ministro responsável pelo caso, Augusto Nardes, deve se manifestar hoje. Caso ele aceite o parecer, o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) será forçado a adiar o exame.


Jovens mostram receio, porém, se preparam para prova em novembro


A estudante de São Bernardo Melody Sunhiga de Sousa, 17 anos, tem planos. Um deles é participar das provas do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), marcadas para novembro. Aluna da EE Mauricio Antunes Ferraz, no bairro Nova Petrópolis, ela tem tido aulas on-line por causa da pandemia do novo coronavírus.
Melody estuda todos os dias, em três sessões que duram duas horas cada, para fazer sua estreia no exame. Ela acha que a prova, neste ano, será etapa ainda mais complicada e desafiadora. “Várias pessoas fizeram em tempos normais e, mesmo assim, já foi difícil todo o processo estudando. Agora imagina em tempos de pandemia? A gente não está tendo aula na escola, só on-line. É meio complicado”, avaliou.

Aluna do 3º ano do ensino médio, Melody acredita que a prova deve acontecer, mas com todos os cuidados possíveis. “A vida não pode parar. Quero cursar pedagogia na Fasb (Faculdade São Bernardo) ou Anhanguera. Meu objetivo, depois de tudo isso, é entrar na Termomecanica”, comentou.

Alice Novaes de Albuquerque, 24, de Ribeirão Pires, pretende encarar o Enem pela quarta vez. Ela quer mudar de área. Já cursou ciências sociais, mas agora pretende trilhar o caminho da saúde e fazer nutrição. Ela tem estudado por conta própria, usando a internet e vendo provas antigas pelo site do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira Legislação e Documento). “Estou animada e quero muito prestar, ter boa nota e iniciar os estudos na área que pretendo”, comentou.

A pleiteante, no entanto, acha que se o cenário da Covid-19 seguir como está ou piorar, a prova deve ser reagendada. “Não acho que tem de ter Enem no contexto de pandemia. Adia, não tem problema. A gente espera, estuda mais e aproveita o tempo para se preparar melhor.” 




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