Cultura & Lazer Titulo
Manhã inspirada em S.Paulo
João Marcos Coelho
Especial para o Diário
19/10/2003 | 18:16
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Cerca de 700 pessoas interromperam um ensolarado início de domingo para assistir, domingo, ao concerto da Filarmônica de São Caetano na Sala São Paulo, dentro da série Concertos Matinais. A opção foi acertada, já que a orquestra comandada pelo maestro Antonio Carlos Neves Pinto envolveu o público com música não só feita de empenho – como é normal em uma orquestra de idade média baixa –, mas com interpretações de bom nível.

E olhe que estamos falando de um repertório que, embora muito conhecido, é rotineiramente massacrado por grupos de menor competência e/ou talento. Portanto, uma surpresa muito agradável.

Sérgio Assumpção, maestro assistente, regeu a Abertura Egmont, música de caráter heróico que Beethoven compôs para a peça de Goethe. À boa afinação acrescente-se uma homogeneidade que apenas muitos ensaios costumam conceder às sinfônicas. Esse cuidado também transpareceu nas obras seguintes, regidas pelo titular. Comentários bem-humorados de Neves precederam as execuções, onde se destacaram, naturalmente, os metais na abertura da ópera Os Mestres Cantores de Nuremberg, as madeiras na Pavana para Uma Princesa Morta, de Ravel, e praticamente todos, madeiras, cordas e metais no poema sinfônico Finlândia, de Sibelius.

Neves, músico empenhado e sólido, tem feito um excelente trabalho à frente da Fundarte (Fundação das Artes) de São Caetano e da Filarmônica. Os progressos são visíveis e se constatam a cada apresentação. Foi, portanto, uma oportunidade muito bem aproveitada pelo grupo: realizar um concerto de bom nível na imponente Sala São Paulo, sede da Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo).

Por tudo isso, o extra não poderia ser mais feliz. Neves, que apresenta no fim do mês que vem sua dissertação de mestrado na Unicamp sobre o Batuque, de Lorenzo Fernandez, escolheu-a para encerrar o concerto. E demonstrou, na prática, o que seu trabalho acadêmico deve formalizar diante da banca. Ou seja, obteve de seus músicos uma interpretação absolutamente idiomática do Batuque, onde os ritmos populares não soam postiços. Pelo contrário, uma sinfônica pode, sim, reproduzir ritmos afro-brasileiros sem assumir o artificialismo da casaca.

Uma vitória pessoal de Neves. Fica, para os interessados, o desejo de ter acesso à dissertação sobre Lorenzo Fernandez. E, para o público, a sensação de que é possível realizar um concerto com música muito conhecida e, ainda assim, encantar pela espontaneidade, talento e empenho dos músicos e do maestro.




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