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Taiko campeão de S.Bernardo
Nelson Albuquerque
Do Diário do Grande ABC
27/03/2005 | 13:35
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A arte milenar de tocar taiko – o tambor do Japão – recebeu uma roupagem moderna e chegou ao Brasil, em 2002, com a declarada intenção de resgate e preservação da cultura japonesa. Foram formados aqui dezenas de grupos para essa prática e, no ano passado, foi realizado o 1º Campeonato Brasileiro de Taiko. O vencedor foi o conjunto Kyôrakuzá, de São Bernardo, que neste momento está no Japão para exibir o que vem aprendendo.


Em julho de 2002, a Jica (Japan International Cooperation Agency) mandou um professor de taiko – pronuncia-se taikô – para ensinar a manifestação aos brasileiros. Um dos projetos é comemorar o centenário da migração japonesa no Brasil, em 2008, com o rufar de mil tambores no estádio do Morumbi.


No Grande ABC, o professor enviado formou o grupo no Centro Educacional Harmonia, em São Bernardo. O colégio é mantido pela Associação Harmonia de Educação e Cultura, entidade fundada há 51 anos por imigrantes japoneses que queriam proporcionar ensino de qualidade a seus filhos. Este estratégico ponto foi escolhido pela Jica para montar um time de tocadores de tambor e, conseqüentemente, de difusores da cultura do país oriental.


“Quando falaram em taiko, pensamos logo naquele japonês gordo, parecido com um lutador de sumô, batendo naqueles tambores enormes”, conta o engenheiro Izumu Honda, um dos coordenadores do grupo. Ao receberem o professor Yukihisa Oda perceberam o engano. “Ele (o professor) chegou com um estilo moderno, com tambores pequenos e grandes, fixos e não fixos, para serem tocados por crianças e adultos”, diz.


O grupo de São Bernardo foi batizado de Kyôrakuzá, que em português significa “som alegre dos tambores”. Junto com outros cerca de 70 conjuntos fundou, em fevereiro do ano passado, a Associação Brasileira de Taiko. Três meses depois, a entidade promoveu o primeiro campeonato, com 20 participantes de São Paulo, Mato Grosso, Rio e Paraná.


O título de campeão rendeu ao time da região a oportunidade de excursionar pelo Japão. Chegaram lá domingo passado, apresentaram-se em concursos e para comunidades de brasileiros. A viagem de volta está marcada para amanhã, com chegada na terça-feira. Em 29 de maio, eles participam do próximo Campeonato Brasileiro de Taiko.

Integração – O Kyôrakuzá conta com cerca de 60 integrantes de todas as idades. Mas o grupo oficial – este que disputa campeonatos e está no Japão – é formado por oito jovens: Yoshitada Umemoto, 25 anos; Daniel Tomio Rodrigues Coelho, 14; Dárius Fujisawa Góes, 19; Eduardo Perez, 16; Eimy Honda, 16; Fernando Augusto Matteo, 16; Rodrigo Eiji Hashizume, 15; e Roger Hideo Coelho, 16.


Entre eles há um nascido no Japão, dois nisseis (filhos de japoneses), três mestiços e dois brasileiros. “Os mestiços representam a integração das raças brasileira e japonesa. E a presença dos brasileiros representa a incorporação da cultura do Japão”, diz Honda.


O coordenador entende que a integração dos povos é importante para o futuro dos valores orientais. “As próximas gerações não poderão mais ser identificadas pelos olhos puxados. A cultura deverá estar no sangue, na mente”, afirma Honda.


Esta é uma postura que ainda enfrenta a resistência dos mais conservadores. Mas, para Honda, a abertura é inevitável: “Os grupos fechados estão fadados a morrer”. A solução seria seguir o lema do resgate, preservação e divulgação da arte japonesa.


Deslocando-se de cidade para cidade no Japão e apresentando-se com freqüência, os jovens de São Bernardo estão com pouco tempo. Mesmo assim responderam, rapidamente por e-mail, a algumas perguntas do Diário. Daniel Coelho disse que, além da música japonesa, gosta também de origami (dobraduras em papel). “E não dispenso um oniguiri (bolinho de arroz)”, afirma.


Mas é claro que a cultura brasileira também tem seu valor. “Como sou o único japonês autêntico, vou responder do modo contrário. O que gosto do Brasil é a alegria, a jovialidade, o churrasco e a feijoada”, diz Yoshitada Umemoto.




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