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Banda Língua de Trapo tem obra completa relançada
Dojival Filho
Do Diário do Grande ABC
04/12/2005 | 08:35
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“Só o humor corrói.” A frase, um dos lemas dos Mutantes, grupo que, na década de 60, bagunçou o coreto da então sisuda música popular brasileira, define com exatidão a proposta dos músicos do Língua de Trapo. Capitaneado pelo cantor, jornalista e humorista Laert Sarrumor, o grupo comemora 25 anos de carreira, com o lançamento da caixa Língua de Trapo – 25 Anos (Atração, R$ 160 em média), que reúne os seis álbuns gravados pela banda, além do compacto Sem Indiretas e um DVD com um show gravado em 2000, no Sesc Pompéia, em São Paulo.

Tanto para quem acompanhou a efervescência cultural do início dos anos 80, quanto para os que cresceram achando graça das piadas dos Mamonas Assassinas, a caixa pode ser deglutida como um biscoito fino e delicioso. Com letras espertas e uma saudável promiscuidade musical, que incorpora estilos tão distintos como o tango e o rock, as canções do Língua de Trapo fazem rir, sem desrespeitar a inteligência do ouvinte.

Até quando envereda pela escatologia, como no “quase hit” Cagar é Bom (que muitos atribuem a Juca Chaves ou Tom Zé) faz deboche com classe, em ritmo de bossa nova e vocais que parodiam João Gilberto. A música é um dos momentos imperdíveis do DVD, que conta ainda com a performance do engraçadíssimo ator Moisés Inácio, criador da personagem Grace Black.

Um dos destaques da caixa é o disco de estréia do grupo, homônimo, lançado em 1982. O álbum traz os primeiros “clássicos” do Língua de Trapo, entre eles Burrice Precoce e Concheta, que, apesar de não terem obtido sucesso comercial, fizeram com que a banda se tornasse referência no gênero. Entre os influenciados direta ou indiretamente estão o Inimigos do Rei, Karnak, Os Mulheres Negras, Falcão e até os “primos ricos” do Casseta & Planeta.

“Encontrei minha mulher com seu amante/ Na minha cama, com meu pijama de bolinhas/ E gritei: alto lá, seu cafajeste, pode ser que ela não preste, mas o pijama é meu”, diz um dos trechos da impagável Quem Ama Não Mata. “É um disco bem crítico, com questões políticas e sociais, mas sempre de uma forma bem escrachada”, afirma Sarrumor, cujo sobrenome foi retirado de uma revista mimeografada que o músico produzia e vendia nos bares da Vila Madalena, berço do grupo.

Anarquia – Outro ponto alto da carreira do Língua de Trapo foi a participação no Festival dos Festivais, promovido pela TV Globo, em 1985. O grupo defendeu a música Os Metaleiros Também Amam, faixa presente no disco Como é Bom Ser Punk, lançado no mesmo ano.

Como não poderia deixar de ser, barbarizou em pleno horário nobre da poderosa emissora carioca. “A gente fez uma performance anárquica, quebrou guitarra e o japonês (o então vocalista Pituco) entrou de tanga. O Solano (Solano Ribeiro, organizador do festival) nos deu o maior esporro”.

Aliás, segundo Sarrumor, episódios hilários como esse não faltaram na carreira do grupo, que lançou ainda Os 17 Big Golden Hits Superquentes Mais Vendidos do Momento (1986), Brincando com Fogo (1992), Língua Ao Vivo (1996) e 21 Anos na Estrada (2000). Certa vez, um diretor sugeriu aos músicos uma abertura diferente para o show. Todos entrariam berrando no palco e, em seguida, pegariam seus instrumentos.

Reunida no camarim, a banda chegou à conclusão de que era melhor fazer do seu jeito e não acatar a sugestão do diretor. Só esqueceram (terá sido um lapso?) de avisar ao baterista Nahame Casseb, o Naminha, o único integrante ausente, que entrou em cena berrando a plenos pulmões, para espanto geral. “Até hoje ele acha que foi sacanagem nossa”, lembra Sarrumor.

Atualmente, ele também é reconhecido como o autor de As Melhores Mil e Cem Piadas do Brasil, quarto volume da série Mil Piadas do Brasil, iniciada em 1988. Além dele, o grupo é formado por Sérgio Gama (cordas e vocal), Zé Miletto (teclado), Pedro Marcondes (baixo e vocal) e Valmir Valentim (bateria).




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