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Mãos à obra por quem não tem voz

Robinho Santana, artista plástico de Diadema,
coloca história de vida nos traços de sua arte

Miriam Gimenes
Do Diário do Grande ABC
23/05/2016 | 06:26
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Claudinei Plaza/DGABC


 Jean-Michel Basquiat (1960-1988) foi um artista norte-americano que ganhou notoriedade como grafiteiro e seu estilo neoexpressionista. Conquistou não só fãs de seu trabalho, mas também especialistas em arte e curadores, além de uma legião de pintores, que se inspiram até hoje em suas obras. Um deles é o artista plástico de Diadema Robinho Santana, 32, que ostenta uma camiseta com a estampa de seu rosto. “Na minha cabeça artistas só eram caras ricos, da Europa. Quando vi o Basquiat, um cara que quase morou na rua e virou o que virou, mudou minha cabeça.”

Robinho nasceu e cresceu no Jardim Ruyce, em Diadema. Filho de pais militantes do movimento sindical e negro – o deputado federal Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho (PT), e a conselheira tutelar aposentada Josefa Santana, mais conhecida como Preta – aprendeu desde cedo a ter uma consciência diferenciada. “Nós íamos estudar sobre história (na escola), e nela o negro sempre é escravo. Em casa tive a sorte de aprender que existiu o Zumbi, a Dandara, o Malcolm X, o Martin Luther King, o Mandela. Por conta disso fui crescendo com a cabeça diferente.”

A escola pública, acrescenta, não ajuda em nada na escolha dos futuros adultos. “A aula de Educação Artística é sempre vaga, não existe. Se você mora aqui (periferia) a única opção que te dão é ser metalúrgico, não que isso seja ruim. Mas depois que descobri que não existia só o chão de fábrica fui procurar outros rumos.”

Resolveu estudar fotografia e seu professor, entre um clique e outro, desenhava. Isso chamou sua atenção, até porque a mãe já fazia pinturas em casa, o que sempre o inspirou. Fez capas de CDs das bandas que participou, de punk rock e hardcore, trabalhou como fotógrafo, cursou faculdade de Publicidade e hoje é ilustrador em uma agência.

Mas é quando chega em casa que dá vida aos seus reis, rainhas, divindades negras, com traços singulares. “Se não fizer um desenho (todo dia) me sinto incompleto. Para mim é um escape.” Com acervo pintado em madeiras reaproveitadas, shape de skate, telas, parede, papel, entre outras superfícies, ele deve expor, em breve, na Pinacoteca de São Bernardo.

Sente-se orgulhoso de seu trabalho (que pode ser visto no endereço www.instagram.com/robinho_santana). “Estou tentando fazer alguma coisa que não vi na escola. É triste uma menina negra achar que o cabelo dela é feio porque nunca viu uma atriz que tem o cabelo igual ao dela, ou um menino negro que só se vê na televisão como bandido. Não é arte pela arte, tem de ter significado. Desenho para representar aqueles que não se sentem representados.” Que assim seja.




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