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Filme 'O Cangaceiro' completa 50 anos
Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
18/01/2003 | 16:50
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O êxito comercial e internacional do cinema brasileiro (mais de US$ 50 milhões de arrecadação em valores corrigidos) completa segunda 50 anos de lançamento. O Cangaceiro (1953), produzido em São Bernardo pela Cia. Cinematográfica Vera Cruz e dirigido por Lima Barreto, foi inspiração para Glauber Rocha realizar Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), iniciou no cinema nacional o ciclo do cangaço, o nordestern, e fez a canção Mulé Rendeira conhecida no país.

Exibido em 80 países, faturou o prêmio de melhor filme de aventura em Cannes. Ganhou um remake em 1997, dirigido por Aníbal Massaini Neto. Lima Barreto fez o filme de ação que faltava no cinema brasileiro. Emprestou do western a aridez da paisagem, tiroteios, amores e traições. Para manter a âncora nacional, Barreto foi até o cangaço, cujas histórias ainda estavam quentes no imaginário coletivo 15 anos depois da morte de Lampião, em 1938.

Os diálogos foram escritos por Rachel de Queiroz e os desenhos de produção, cenários e figurinos foram do artista plástico Carybé (1911-1997), seu único trabalho no cinema nesta função. Carybé desfolhou arbustos para simular o agreste nordestino em Vargem Grande do Sul (SP), local das filmagens. O artista plástico também fez esboços de cenas e atuou como um dos cangaceiros.

Após um violento ataque, o bando de Galdino (Milton Ribeiro) rapta Olívia (Marisa Prado), jovem professora de um vilarejo, para ser trocada por um resgate. Teodoro (Alberto Ruschel), que Galdino considera amigo, não concorda. A mulher de Galdino, Maria Clódia (Vanja Orico), gosta de Teodoro e ameaça a vida da moça. Apaixonado, Teodoro foge com Olívia para levá-la de volta, mesmo sabendo que viriam em seu encalço, alimentados pelo ciúme de Maria Clódia, Galdino e sua ira. Um do bando já havia sido arrastado à cavalo por traição, uma cena comum no western.

Esse faroeste sertanejo não tem os típicos mocinhos do gênero. Há, porém, o bom ladrão que busca a redenção. No western clássico, simbolismos assim só ganhariam força a partir de Sete Homens e um Destino (1960) e O Homem que Matou o Facínora (1962). No entanto, o tempo foi implacável com O Cangaceiro, que manteve sua aura clássica, mas hoje soa superficial. Tem muitos planos-seqüência, solução pouco ágil em filmes de ação. Apesar disso, o exótico e a intensidade o diferenciaram no exterior, onde foi chamado The Bandit.

A cantora Vanja Orico, 64 anos, viu sua carreira de atriz deslanchar após O Cangaceiro. Ela é filha do escritor e diplomata paraense Oswaldo Orico e vive no Rio, onde atualmente grava um CD para o selo Rádio MEC. Estudava na Itália quando fez teste para o papel de uma cigana cantora em Mulheres e Luzes (1952). Estreou no cinema pelas mãos de Federico Fellini.

No ano seguinte, Lima Barreto a selecionou em um teste após ouvi-la cantar Mulé Rendeira e Sodade, meu Bem, Sodade. Para cantar no filme foi uma luta. Vanja e Neusa Veras (a mulher raptada no vilarejo por Adoniran Barbosa, um dos cangaceiros) saíram no tapa para decidir quem cantaria Sodade. “O diretor não decidia e nós resolvemos decidir por ele. Estávamos hospedadas na casa do prefeito de Vargem Grande e brigamos por causa da música. No dia seguinte estávamos com olho roxo. Mas o clima foi de amizade nos nove meses de filmagem”, diz Vanja.




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