Setecidades Titulo Mesmo com proibição
Caminhoneiros usam a faixa da esquerda mesmo com proibições

Em três dias, equipe do Diário flagrou 165
veículos cometendo a infração na Anchieta

Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
13/12/2015 | 07:00
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Denis Maciel/DGABC:


Mesmo com a proibição de caminhões circularem na faixa da esquerda na Via Anchieta, motoristas continuam infringindo a regra. Conforme números do DER (Departamento de Estradas de Rodagem), de janeiro a setembro, 7.147 caminhoneiros foram multados. O número é apenas 2,55% maior que as autuações do mesmo período do ano passado (6.969). Porém, comparado ao registro de 2013, quando foram cometidas 2.029 infrações, o aumento foi de 252,24%.


O valor da multa é de R$ 85,13, ou seja, de janeiro a setembro foram arrecadados R$ 608.424,11 com as penalidades. Em 2014, o valor foi de R$ 593.270,97 e, em 2013, R$ 172.728,77.


O aumento no número de infrações aplicadas nos dois últimos anos pode ser explicado por norma da Artesp (Agência de Transporte do Estado de São Paulo) instituída em outubro de 2013. Ela determina que no trecho de serra da Via Anchieta, das 18h às 20h, os motoristas não podem utilizar a faixa da esquerda nem para realizar ultrapassagens.


A equipe do Diário fez o trajeto de São Bernardo até Cubatão pela via de terça a quinta-feira e detectou que média de 60 veículos invadiram a outra faixa por dia. O percurso foi feito por volta das 19h, horário em que vale a determinação.


Na terça-feira, o carro da equipe de reportagem desceu às 18h30 e parou durante dez minutos em um ponto. Neste período, 53 caminhões utilizaram a faixa incorreta, sendo que cinco fizeram ultrapassagem em alta velocidade. Um veículo pesado também foi visto trafegando pelo acostamento.


Na quarta-feira, por volta das 19h, a equipe do Diário parou em dois pontos do trecho de serra, quando contabilizou 67 infrações. Foram observadas oito ultrapassagens. Já na quinta-feira, no mesmo horário, foram 52 caminhões e oito ultrapassagens.


Durante o trajeto, é comum ver os caminhões fazendo a manobra ou mesmo trafegando pela faixa da esquerda, longe das câmeras de monitoramento. Próximo aos radares, os veículos voltam para a faixa correta. “A maioria dos caminhoneiros sabe onde estão as câmeras e alguns arriscam a fazer a infração. Mas, além do equipamento, podemos fiscalizar de outras formas, como com a presença dos policiais rodoviários na pista”, explicou o comandante do 1º BPRv (Batalhão de Policiamento Rodoviário), que atende o SAI (Sistema Anchieta-Imigrantes), Carlos Alberto dos Santos.


EFETIVIDADE

A regulamentação de que os veículos lentos e de maior porte permaneçam nas faixas da direita está no artigo 185, inciso 2 do CTB (Código de Trânsito Brasileiro). A infração é classificada como média.


Conforme explicou o professor de Engenharia de Tráfego da Universidade Presbiteriana Mackenzie Paulo Bacaltchuck, a medida é funcional para todas as esferas do trânsito. “Diminui o custo de manutenção da concessionária em relação ao desgaste causado por veículos pesados. Além disso, quando você não tem tráfico pesado em uma faixa, deixa o fluxo de trânsito muito mais leve. A fluidez da via tem uma questão psicológica, o caminhão é mais elevado e tem que desenvolver uma velocidade menor para fazer as curvas com segurança. Com esses veículos na outra faixa, o motorista tende a se sentir mais seguro.”


Apesar disso, o professor assumiu que a medida pode não ter muitas vantagens ao caminhoneiro que vai realizar as entregas na Baixada Santista. “Isso acaba representando um conflito, mas não tem o que fazer, a não ser que a rodovia aumentasse a capacidade. A engenharia de tráfego é uma equação que acaba sempre desbalanceada, mas, no momento, essa é a melhor solução”, contou.

Ecovias e policiamento rodoviário fiscalizam a via


Os responsáveis por fiscalizar a questão do cumprimento da lei são a Ecovias, concessionária que administra o SAI (Sistema Anchieta-Imigrantes), e a Polícia Rodoviária. A concessionária informou que no SAI existem nove câmeras desenvolvidas especificamente para flagrar essas situações, que estão instaladas nos trechos de serra da Via Anchieta e da Rodovia dos Imigrantes.


Além disso, a Polícia Rodoviária está presente na via. Conforme o comandante do 1º BPRv (Batalhão de Policiamento Rodoviário), Carlos Alberto dos Santos, as câmeras são aliadas junto à presença policial para inibir as ultrapassagens e o tráfego nas faixas incorretas. “O próprio policial fica parado para coibir esse tipo de ação do caminhoneiro. Nossas câmeras registram as placas, sendo que no centro de controle das rodovias temos policiais e, se eles presenciarem a irregularidade, podem fazer uma atuação de lá mesmo”, explicou.


Mesmo com os caminhoneiros reclamando em relação ao peso do veículo ou a estarem descarregados, ele reafirmou que a ultrapassagem não é permitida no horário estabelecido nos trechos de serra. Fora isso, elas só podem ser feitas quando houver linha pontilhada na pista. Em locais com linha contínua, ela é proibida.


Santos afirmou que a medida da proibição da ultrapassagem na faixa destinada aos automóveis e ônibus ajudou na fluidez do trânsito. “A Anchieta só tem duas pistas, então, se você deixa uma delas liberada, tem menos lentidão. Veículos de grande porte com velocidade reduzida nas duas faixas vão diminuir o fluxo. Mas, liberando uma faixa, com certeza vai ajudar a trazer mais conforto para o motorista da forma que está sendo feito.”

Motoristas têm opiniões diferentes sobre a legislação


Entre os motoristas de caminhões que precisam descer para fazer entregas ao Litoral diariamente, as opiniões variam. Há os que são a favor da medida e também os que reclamam. O caminhoneiro Antônio de Pádua Viana, 51 anos, é de Diadema e trabalha na área há 26. Ele afirmou que a proibição da utilização da faixa da esquerda atrapalha a entrega de cargas mais leves.


“Costumo carregar produtos mais leves e, muitas vezes, estou até mesmo com o caminhão descarregado e preciso esperar na fila. É injusto ficar atrás de um caminhão pesado que está andando a 10 km/h”, reclamou.


Ele já foi multado duas vezes por descumprir a determinação. “Acho errado esse atraso por causa de outro caminhão. Fui multado ao fazer as ultrapassagens e acredito que a outra faixa deveria ser liberada para os caminhões mais leves, já que os ônibus também podem utilizá-la”, afirmou.


“Para quem tem horário, é na sorte para ver se chega. Já levei duas multas, mas era ultrapassar ou perder a entrega”, disse o motorista Ricardo Dias, 49, de Itaquera.


Já João Bernardes Chami, 46, é de São Caetano e concorda com a medida. “Realmente o correto é deixar a outra faixa livre. Se você trafegar com os caminhões nas duas faixas, corre um risco maior de causar algum acidente. Nunca fui multado”, declarou.
 




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