Pelo menos 76 médicos generalistas poderiam ser contratados para trabalhar nas UBSs (Unidade Básicas de Saúde) ou nos PSFs (Programas de Saúde na Família) em Santo André, São Bernardo e Mauá. As Prefeituras alegam que possuem dotação orçamentária para o contrato, mas não encontram profissionais interessados. Diadema, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra afirmaram não enfrentar o problema das demais vizinhas do Grande ABC. A Prefeitura de São Caetano foi a única que não retornou o pedido de informações do Diário.
Segundo especialistas, pelo menos três motivos explicam o desinteresse dos médicos em trabalhar na rede pública: o estigma de que as condições são ruins, os salários pouco atrativos e a própria formação acadêmica não é voltada para este serviço.
Tanto o clínico-geral quanto o generalista são bacharéis em medicina que fizeram residência em clínica médica. O termo generalista é a denominação mais atual usada para os profissionais do PSF.
O maior déficit de médicos aparece na rede pública de Mauá. O número de 21 clínicos-gerais e 14 generalistas para o PSF não foi confirmado pelo secretário de Saúde, Valdir Russo, apesar de ter sido passado pela própria Prefeitura. "Esta listagem está ultrapassada, pois a contratação é feita dia a dia. Sabemos que ainda não é o ideal, mas nosso PSF está bem equilibrado."
Mauá, assim como Diadema, oferece salário aos médicos de cerca de R$ 8.000 para jornada de 40 horas semanais.
Em São Bernardo, a procura é por 21 generalistas. "É difícil encontrar médicos que se adaptem às UBSs", frisa Alessandro Neves, assistente de diretoria da Secretaria da Saúde. Os médicos contratados pela Prefeitura recebem R$ 2.210,53 (para carga de 20 horas semanais) e R$ 4.421,06 (40 horas). Os plantonistas recebem gratificação de 50%. Para os contratos feitos pela Faculdade de Medicina, os valores sobem para R$ 7.984,52 (médicos do PSF) e R$ 2.876,47 (20 horas).
Em Santo André, o secretário da Saúde, Homero Nepomuceno Duarte, revelou que o déficit chega a 20 médicos. "Para contratar especialistas não temos problemas, eles aceitam trabalhar mais facilmente porque não estão na linha de frente do atendimento público." Na cidade, os plantonistas têm salário de R$ 4.214,80 para trabalhar 24 horas por semana.
Para o clínico-geral Eduardo Nicola, 51 anos, morador de São Bernardo, a dificuldade das Prefeituras não é à toa. Por 14 anos ele trabalhou nas UBSs dos bairros Batistini, Farina e Rudge Ramos. "O salário é ruim e há pressão da chefia e da população. "
Hoje ele atua como perito judicial e do INSS, e não acredita que a maioria dos recém-formados esteja disposto a trabalhar na rede pública. "Medicina como sacerdócio ficou no passado, e virou negócio como qualquer outro. O jovem quer status e dinheiro e eles têm muitas opções de trabalho como clínicas no geral."
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