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Profissionais põem a vida em jogo contra a Covid-19

Distância da família, tristeza de perder pacientes e alegria da cura são rotina dos que trabalham com saúde

Aline Melo
Do Diário do Grande ABC
19/04/2020 | 07:00
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Celso Luiz/DGABC


 A categoria profissional mais exigida no combate à pandemia de Covid-19 é a que atua na saúde. Médicos, enfermeiros e técnicos se dedicam e arriscam a própria vida para salvar os pacientes. O Diário entrevistou alguns trabalhadores que relatam as dores e alegrias dessa batalha diária e reforçam o pedido da OMS (Organização Mundial de Saúde) e do Ministério da Saúde: que as pessoas que puderem fiquem em casa.

Técnico de gasoterapia da rede municipal de Santo André, Wiliam Silvano de Assis, 34 anos, lida diretamente com os pacientes que estão com insuficiência respiratória e, por isso, precisam de respiradores. Assis relata que é crescente o aumento dos casos da doença e que o momento mais difícil foi acompanhar a morte de um amigo de longa data, atendido no hospital em que atua, por suspeita de Covid-19.

“As pessoas só vão se dar conta da seriedade (da situação) quando morrer um amigo, um conhecido ou um parente”, declarou. “A questão não é pegar e, sim, transmitir”, completou. Assis agradeceu as manifestações de carinho que algumas pessoas têm demonstrado, como aplaudir os profissionais de saúde das suas janelas. “São pessoas que estavam lá na ponta da corda segurando, mas faltava valorização de todas as áreas, como enfermagem, fisioterapia, medicina. Hoje a gente vê um reconhecimento. Talvez essa seja uma parte boa”, pontuou.

Moradora de São Paulo, Carolina Yeh, 29, é médica e trabalha em um hospital público em Carapicuíba. A jovem teve que abrir mão do convívio com familiares, como a mãe, que está temporariamente com uma tia. “Voltar para casa e não poder conversar com a minha mãe, tomar café , almoçar ou jantar me entristece muito. Mas sei que é passageiro e que é pelo bem dela e da minha família”, relatou.

Carolina afirma que recebeu e ainda recebe um bom treinamento sobre uso de EPIs (equipamentos de proteção individuais), mas que é assustador conviver com a dúvida se está ou não contaminada, podendo transmitir a doença para um familiar ou colega de trabalho. A profissional reforçou o apelo para que as pessoas fiquem em casa. “Estatísticas são apenas números que necessitam ser interpretados. Se 20% são internados, reflitam que de cinco pessoas da sua própria família, uma pode ser hospitalizada. E mais: 1.000 mortes são 1.000 famílias que não vão mais conviver com alguém que ama.”

Técnico de enfermagem em Diadema, Wiliam Aguiar do Prado, 38, relatou que as mudanças para atender aos pacientes com Covid-19 foram iniciadas há quase um mês, na medida em que a pandemia avançava pelo mundo. Pai de uma garota de 2 anos, imunodeprimida, Prado toma banho com sabão de soda assim que chega em casa, para evitar passar qualquer vírus para ela. Sobre as pessoas que ainda estão descrentes com relação à gravidade da doença, o profissional destaca que é preciso ouvir os técnicos de saúde. “Nós, que estamos atuando nessa área, não somos contra ninguém, seja governante ou governo. Somos a favor do povo”, pontuou. “O profissional de saúde não tem partido. E em todo lugar do mundo, quem não ouviu os técnicos hoje tem um grande número de mortes por conta da doença”, concluiu.

Fisioterapeuta de um hospital privado em São Paulo, Marcia Satomi Kida, 52, relatou a tristeza de acompanhar a morte de uma paciente idosa com Covid-19 que, nas duas últimas semanas de vida, só falou com a família pelo telefone. Também contou sobre a alegria de ter visto muitos pacientes se curando e vencendo a batalha. “Não tem coisa mais gratificante que vê-los sorrindo, reencontrando a família.” Marcia faz um alerta a quem não está levando a pandemia à sério. “Não é uma gripezinha e não ache que somente idoso fica na UTI. Aliás, a maioria que vejo internada tem menos de 60 anos.”




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