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Rappers criam a Academia Brasileira de Rimas
Leonardo Blaz
Da Redaçao
01/07/2000 | 16:01
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Nem só o imortal poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) acreditava que lutar com as palavras era um verdadeiro combate. Alguns poetas do movimento hip hop, com a intençao de aperfeiçoar suas cançoes, criaram a Academia Brasileira de Rimas, que se inspirou na tradicional ABL (Academia Brasileira de Letras) após a morte do dramaturgo Dias Gomes, no ano passado.

"No rap, muita gente rima mal e nao demonstra ter consciência da importância que esse recurso tem", conta Thaíde, um dos precursores do gênero no Brasil e professor da Casa do Hip Hop de Diadema. Descontente com sua maneira de rimar, ele foi convidado a integrar a Academia pelos criadores da "entidade", os MC's Max B.O. e Nápoli, que ainda conta com uma formaçao fixa de mais cinco músicos: Tech, Akin, Kamau, Fresh e Marechal. "Estes serao os únicos integrantes, pois se todos bons MC's se associarem, teremos mais de mil membros".

Os oito componentes da Associaçao sao adeptos do free style. "É mais uma conversa improvisada, um desafio entre MC's do que uma rima sincopada", diz Thaíde. A semelhança com os repentistas nordestinos nao é mera coincidência: "Na verdade, acho que nosso rap já estava aqui há vários anos".

No entanto, de acordo com o músico, uma divisao categórica do gênero nao é tarefa das mais fáceis, já que diferentes localidades misturam o rap com outros ritmos, como o repente ou a embolada no Nordeste do Brasil. "Além disso, o estilo vem mudando constantemente".

As reunioes entre os componentes da Academia nao sao marcados pelo intenso formalismo que caracteriza sua fonte de inspiraçao. "Nos encontramos em shows ou em reunioes", explica Thaíde. Discussoes sobre gramática ou lingüística ficam de fora, deixando a teoria de lado e lançando mao da prática: "Temos a mania de conversar rimando, para aperfeiçoar a improvisaçao".

O grupo também faz questao de usar suas próprias expressoes, contudo, sem tropeçar nos erros de português. "Falar correto é bom para se comunicar, assim como é importante empregar nossas gírias", acredita o músico.

Os encontros do MC com a Academia foram interrompidos temporariamente por causa das gravaçoes de seu oitavo disco em companhia do DJ Hum, que será lançado em dois meses. Mas Thaíde acredita que o fruto dos encontros já será perceptível nas rimas que compoem seu novo álbum: "Apesar de a evoluçao do rap ser tanta que acho que minhas rimas já estao até ultrapassadas".




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