São anos de companheirismo, desde os tempos de Joy Division, ali no fim dos anos 1970, passando pelo auge na década seguinte até a dolorosa separação. Por fim, resta a mágoa, os processos judiciais e as alfinetadas por meio da imprensa pelos dois lados - veja mais no quadro abaixo. Hook e New Order seguiram em caminhos distintos em 2007, dois anos depois de lançarem um disco, Waiting for the Sirens' Call, cujas gravações foram complicadas por causa das tensões entre o então baixista com o restante do grupo e uma turnê engatada na sequência também cheia de problemas.
Peter Hook vem a São Paulo com seu projeto de revisitar os discos mais clássicos do Joy Division, banda desfeita após a morte do vocalista e letrista Ian Curtis, e do New Order, grupo formado pelos integrantes do Joy Division. Turnês como essa ele já tem feito há tempos - e costumam ser criticadas pelos antigos companheiros. O show, com ingressos já esgotados, será no dia 6 de dezembro, terça, na casa de shows Cine Joia.
O New Order, por sua vez, está mais vivo do que há, pelo menos, uma década. Com Music Complete, disco de inéditas lançado no ano passado, o grupo reconquistou o respeito da crítica que já o via como uma daquelas ex-bandas em atividade, sem criatividade para novas músicas, mas ainda dispostas a encher os bolsos apenas com os sucessos do passado. O New Order, na verdade, foi mais esperto do que isso.
Music Complete é um diálogo com o fino produzido pela banda nos seus anos dourados, quando a presença dos sintetizadores metalizavam o rock outrora gótico e soturno, e as batidas mecânicas robotizavam as pistas de dança. Tudo ainda era sombrio, mas ganhava ares futuristas. Em entrevista ao Estado, Morris (o responsável justamente pelas batidas mecânicas e um apreciador do uso de sintetizadores) conta que o primeiro disco do grupo em dez anos nasceu justamente para promover esse encontro.
Nos anos 1980, o New Order via o futuro do rock a partir de um encontro com a estética sintética. Em 2016, ficou provado que eles estavam certos. O rock, desde os anos 1990, soube trazer os elementos eletrônicos, os beats e os samples para seus subgêneros - até a psicodelia inebriante do Tame Impala só existe graças aos sintetizadores e loopings.
De volta a São Paulo para realizar aquele que será o 14º show em território nacional, o New Order tem a chance de provar esse salto no tempo ao vivo. A apresentação única no Brasil será realizada no Espaço das Américas, no dia 1º, às 23h. O Brasil é o 9º maior destino do New Order ao redor do mundo, em número de apresentações por aqui. Após o show da próxima semana, o País deixará de estar empatado com o Japão. "É, pelo visto, somos mais populares no Brasil do que na Bélgica", brinca Morris, ao saber do número.
"Queríamos, mesmo, fazer essa ligação direta entre as músicas novas e aquelas antigas. Isso esteve na nossa cabeça logo no início", continuou o baterista. "Precisávamos de coisas cruas e dançantes. Definitivamente, esse disco foi mais fácil de fazer do que o anterior", alfinetou Morris - afinal, Hook já não era responsável pelas linhas de baixo. O New Order, mesmo que sua tríade restante original, Sumner, Morris e Gilbert, esteja beirando os 60 anos, ainda é capaz de cantar o amor e as dores da solidão enquanto obriga seus quadris a dançar ao sabor das batidas.
Questionado sobre um possível encontro com Hook pela cidade durante a sua estadia, Morris foi irônico. "Ele deve estar ocupado escrevendo um outro livro, não?", diz. O baixista, por sua vez, é ainda mais agressivo - leia ao lado. Curioso é como Ian Curtis previu o futuro dos antigos companheiros de banda em Love Will Tear Us Apart. Não foi aquele amor desesperado de Curtis que os destruiu, mas o rompimento ocorreu. Resta só o gosto amargo deixado por um relacionamento acabado.
NEW ORDER EM SÃO PAULO
Espaço das Américas. R. Tagipuru, 795, Barra Funda,
tel.: 3864-5566. 5ª (dia 1º), às 23h. R$ 210 a R$ 380.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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