Setecidades Titulo Transporte público
Prefeitura fará pesquisa de satisfação
André Vieira
Do Diário do Grande ABC
28/06/2009 | 07:01
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A Prefeitura de Santo André promete dar o pontapé em julho a uma ampla pesquisa de qualidade com as empresas e, principalmente, com os usuários do serviço público de transporte coletivo. A meta é identificar as necessidades urgentes dos passageiros, as virtudes e as carências do sistema de ônibus, e iniciar a promoção das melhorias ainda neste ano.

O discurso do prefeito Aidan Ravin (PTB) e do secretário de Obras e Serviços Públicos, Alberto Rodrigues Casalinho, é de que a consulta com os passageiros fornecerá as diretrizes para que a administração possa se empenhar em resolver com maior celeridade os problemas pontuais e se debruçar sobre os que exigem definição a longo prazo.

"Não é tão simples mexer. Todos têm queixas do tipo ‘Na minha rua não passa ônibus, no meu bairro também'. Na Vila Pires, por exemplo, a população quer um circular. É complicado conseguir coisas assim. Por isso, vamos fazer um estudo para que possamos alcançar o melhor", afirmou Aidan.

Segundo o secretário, ainda não é possível fazer uma análise do serviço no município. "É difícil identificar isso sem ouvir a população. Primeiro eu prefiro ouvi-los. Vamos avaliar agora, fazendo pesquisa junto ao usuário da linha para que ele nos dê o retorno. Como é que ele está usando o ônibus? Como é que ele está sendo atendido? A resposta para essas perguntas, teremos em breve", apontou Casalinho.

O estudo deverá ser iniciado dentro das próximas duas semanas. A expectativa da administração é de poder compilar todas as observações da população a respeito da qualidade do transporte público de Santo André em até 40 dias.

EMPRESAS - Para as empresas que operam o serviço de transporte público por ônibus em Santo André, o trânsito congestionado da cidade - que não somente é verificado em dias esporádicos ou chuvosos - é um dos vilões do sistema e exerce direta influência na qualidade do atendimento.

A dificuldade em cumprir os horários estabelecidos e manter satisfatória velocidade média nos veículos, que acaba por prolongar as viagens e contribuir para a lotação de passageiros, é o efeito negativo para o transporte coletivo.

No cálculo dos concessionários, a frota de 391 veículos - 369 atualmente em circulação - é suficiente para atender a demanda do município, que transportou 5.322.499 passageiros em maio, ou cerca de 171 mil usuários por dia - mais do que a soma das populações de Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra.

O transporte público em Santo André é operado por sete empresas - Expresso Guarará e Consórcio União Santo André, que reúne as viações Guaianazes, Curuçá, Vaz, Parque das Nações, Empresa de Transporte Urbano e Rodoviário Santo André e Empresa Urbana Santo André.

ROTINA - Estudante matriculada no 3° ano do Ensino Médio e dependente do transporte público para se deslocar entre casa e escola, Gabriela Leite Almeida, 16 anos, moradora do bairro Sacadura Cabral, conhece bem os horários cumpridos e descumpridos pelas linhas que utiliza e sabe dos prejuízos. "Tenho de acordar bem cedo, até as 6h. Me arrumo e 20 minutos depois tenho de estar no ponto para poder pegar o ônibus das 6h40. Se eu perder este, chego atrasada na escola e fico de fora das primeiras aulas", afirmou.

Na volta, o mesmo problema. "Às vezes, chego 12h25 e o ônibus só passa no ponto depois de quase meia hora. Se perco uma condução, acabo me atrasando novamente, mas dessa vez para o curso técnico que faço à tarde."

Investimento no modelo é essencial

A recomendação é antiga, embora não pareça ter sido muito bem assimilada. Apontado por especialistas, o investimento em transporte público é ainda a alternativa mais rápida e eficiente para pôr fim aos congestionamentos. Por conseguinte, a priorização do sistema coletivo é também a saída para elevar o nível do serviço.

"A qualidade, de maneira geral, não é atrativa. Existe a superlotação nos horários de pico, quando muita gente se desloca em um período de tempo muito curto. Para evitar isso, é preciso que os ônibus tenham preferência na via", afirmou o presidente da NTU (Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos), Otávio Vieira da Cunha Filho.

Para o engenheiro e professor de Transporte Público da Faculdade Politécnica da USP (Universidade de São Paulo) Jaime Waisman, o desafio de convencer os motoristas de carro a se tornarem passageiros passa pela necessidade de realizar mudanças no viário. "O grande problema dos ônibus é a concorrência com os outros veículos no trânsito. Essa interferência sobre a operação é muito grande e faz com que a velocidade do coletivo caia brutalmente. O tempo de viagem é a grande desvantagem face ao automóvel."

A criação de passagens exclusivas ou prioritárias para ônibus, como por onde circulam os trólebus no Grande ABC, ou como na faixa segregada na Avenida Capitão Mario de Toledo Camargo, em Santo André, é a sugestão dos técnicos. "Só vamos ter qualidade quando tivermos corredores de ônibus", afirmou Waisman. "Não dá para ter corredores em todas as cidades, mas nos eixos principais eles são necessários."

Como o estabelecimento de faixas exclusivas demanda também a intensificação de ações de fiscalização, que podem dificultar seu funcionamento, o professor de engenharia civil do Centro Universitário da FEI (Fundação Educacional Inaciana) Heitor Kawano acredita que o trabalho pode ser simplificado. "O corredor para o ônibus não precisa ser exclusivo, mas pode ser prioritário em determinados momentos. Uma faixa segregada das 6h às 9h no sentido bairro-Centro e das 17h às 20h no Centro-bairro, por exemplo, pode dar fluidez."

BARREIRAS - Para o secretário de Obras e Serviços Públicos Alberto Rodrigues Casalinho, a característica das ruas e avenidas de Santo André não oferece condições propícias para a criação de pistas que possam privilegiar o trânsito dos ônibus.

"À primeira vista, não vejo esse potencial. Não temos corredores enormes para segregar uma faixa única e exclusiva para os ônibus. O que temos buscado fazer é melhorar o rolamento, como fizemos na Perimetral, para que os veículos consigam transitar melhor e os ônibus tenham também um fluxo maior."

Semasa aponta queda de emissão de poluentes

Realizada pelo Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André) com a finalidade de melhorar a qualidade do ar no município, a Operação Inverno, que verifica a emissão de fumaça preta dos veículos a diesel, mostra que a frota do transporte público de Santo André polui menos do que há dois anos.

Em 2007, dos 338 veículos testados, metade apresentou desempenho insatisfatório e foi classificada como irregular. A outra metade, exatamente 169 carros, foi considerada regular. Outros 23 ônibus não foram inspecionados.

No ano passado, o índice de veículos que emitiam fumaça preta em quantidade superior à permitida apresentou sensível declínio: de 371, só 53 foram reprovados.

Diretamente relacionados ao investimento na frota do município, que colocou novos e mais modernos coletivos nas ruas, os testes realizados neste ano apontam para o aperfeiçoamento da qualidade mecânica dos ônibus.

Em 2009, dos 391 veículos da frota municipal, 342 foram aprovados, 33 foram considerados em situação irregular e outros 16 não foram submetidos ao exame.




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