Setecidades Titulo Saúde
Região tem índice de um geriatra para 41 mil idosos

Recomendação da OMS é que haja um especialista para cada 1.000 habitantes com mais de 60 anos

Aline Melo
Diário do Grande ABC
27/01/2019 | 07:00
Compartilhar notícia
Nario Barbosa/DGABC


O número de geriatras que atuam na rede pública do Grande ABC é 41 vezes menor do que o recomendado pela OMS (Organização Mundial de Saúde). A região conta com apenas oito profissionais – cinco em São Caetano e três em São Bernardo – para atender população de 332.545 pessoas com mais de 60 anos (12,47% do total de habitantes), proporção de um especialista para cada grupo de 41 mil idosos.

O problema é antigo e já foi abordado pelo Diário anteriormente, como em 2012, quando a região tinha 12 profissionais e a recomendação era de um para cara 536 idosos. Sete anos depois, a população com mais de 60 anos cresceu (passou de 10,9% para 12,4% dos habitantes) e o número de especialistas caiu. O governo estadual não informou se conta com especialistas do tipo em sua rede na região.

A situação tende a se agravar, considerando o processo de envelhecimento da população. No Grande ABC, segundo projeções da Fundação Seade, quase 30% das pessoas serão idosas em 2050. Aliado a isso, existe também o fato de que, na região, apenas metade das pessoas são cobertas pelo Programa Saúde da Família, estratégia de atenção primária que foi fortemente afetada pela saída dos 77 médicos cubanos que atuavam no programa Mais Médicos. Até a primeira quinzena de janeiro, ainda havia cinco vagas para serem preenchidas.

O presidente da SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia), Carlos André Uehara, esclareceu que não é porque o paciente já fez 60 anos que obrigatoriamente vai precisar se consultar com um geriatra, mas reconhece que essa é uma especialidade que não tem atraído estudantes de medicina. “O atendimento pelo médico da atenção básica, no posto de saúde, é adequado e recomendado para a população idosa. O geriatra vai atender aquele idoso com alguma enfermidade que por ventura evolua para uma condição incapacitante”, explicou.

Uehara destacou que a própria especialidade ainda pode ser considerada “jovem”, pois vai completar 60 anos de existência no Brasil em 2025, e o processo de envelhecimento da população do País também vem sendo acompanhado com mais atenção desde 1990. A SBGG estimou, em 2018, que havia 1.817 especialistas atuando em todo o País. “Estamos pensando um projeto que possa ser feito em conjunto com as faculdades de medicina com objetivo de prencher as vagas de residência para essa especialidade. Atualmente, os estudantes têm dado preferência para especialidades cirúrgicas”, pontuou. “É uma área que precisa de um perfil específico, pelo público, pelas rotinas”, justificou.

Além de não ser obrigatório o acompanhamento com geriatras após os 60 anos, o presidente da SBGG lembrou que o idoso de hoje é muito diferente daquela pessoa que se tornava sexagenária 20 anos atrás. “Se teve uma vida razoavelmente saudável, vai chegar em boas condições à velhice. E esse é um fenômeno mundial, tanto que na França, desde o ano passado, é considerada idosa a pessoa que fez 75 anos”, comparou. Manter-se ativo e saudável, ressaltou Uehara, é fator fundamental para o bom envelhecimento. “Descer escadas, caminhar, realizar atividades em grupo, tudo isso colabora para manter corpo e mente ativos”, finalizou.

Equipamento em Diadema promove saúde e bem estar

É sexta-feira de manhã e um grupo de oito pessoas se reveza em duas mesas de tênis de mesa, em equipamento público municipal de Diadema. Os jogos são em alto nível e a competição é acirrada. Mas no lugar de rivalidade, a amizade e o companheirismo são os sentimentos predominantes do espaço. No CCMI (Centro de Convivência Municipal do Idoso), cerca de 80 munícipes – de um total de 460 inscritos – frequentam as oficinas de tênis de mesa, pintura, danças e ginástica, entre outras opções.

“Esse é um jogo que me deixa feliz”, afirmou a cabeleireira aposentada Yuriza Hamamura, 66 anos. “Além de fazer um esporte que não exige muito esforço, tenho a oportunidade de sair da casa, já que parei de trabalhar assim que me casei, há 43 anos”, afirmou. A advogada aposentada Therezinha Murayama, 79, sempre praticou atividades físicas e reconhece o impacto positivo em sua saúde. “Me sinto bem e disposta”, pontuou. Mais disposição também é o efeito apontado pela cabeleireira aposentada Laura Lunkes, 70, que há dez anos participa do CCMI. “Venho três vezes por semana, e, na sexta-feira, de manhã e de tarde”, declarou.

Além de interagirem e conviverem uns com os outros, os frequentadores também participam de atividades em escolas, passeios e eventos, na cidade e em outros municípios. “Nosso principal objetivo é que eles convivam em sociedade. Não basta apenas vir aqui, estar um com o outro e ir para casa. Essa convivência intergeracional, nas escolas, com turmas de adolescentes, ensina sobre respeito a quem é mais jovem, quebra estereótipos”, explicou o coordenador do centro, o gerontólogo Tiago Ordonez.

O coordenador afirmou que o perfil de atendimento da unidade vem mudando ao longo dos seus 23 anos de existência. “Queremos saber como esse idoso está em casa, sobre as relações familiares, como ele se sente com a saída dos filhos de casa, com as mudanças na vida, oferecendo um atendimento psicológico e social”, completou. “O conceito de saúde não é só do corpo, mas também da mente e de saúde social”, finalizou.

Atenção básica é alternativa à falta de especialista

Ao menos duas cidades do Grande ABC que não contam com geriatras na rede pública apostam na estratégia de saúde da família para atendimento do público com mais de 60 anos. Em Diadema, a assistência aos idosos é realizado nas UBSs (Unidades Básicas de Saúde). Em casos específicos, o paciente pode ser encaminhado para profissionais e/ou serviços especializados.

Em Mauá, também são as UBSs que prestam serviço aos idosos. Segundo a administração, o trabalho das equipes é planejado de acordo com as particularidades de cada idade, além de contar com cuidados a domicílio conforme critérios médicos. “Essa dinâmica possibilita o fortalecimento da pessoa idosa ao sistema de saúde que o assiste”, informou, em nota, a administração.

São Caetano conta com o maior número de profissionais no Grande ABC, cinco médicos que realizaram 3.162 consultas em 2018, nos cinco Cises (Centro Integrado de Saúde e Educação da Terceira Idade). A cidade oferece atendimento de psicologia, fisioterapia, musicoterapia, nutrição, enfermagem, odontologia e grupos de memória (com equipe multidisciplinar) para esse público, além de atividades de educação, lazer e cultura.

Com três geriatras atuando na rede municipal – responsáveis por 2.515 atendimentos ano passado –, São Bernardo inaugurou em junho a primeira unidade de saúde com atendimento exclusivo aos idosos intitulado Cuidadoso, nas dependências da UBS Rudge Ramos. No equipamento, são oferecidos serviços de geriatra, consultas odontológicas e orientações com farmacêuticos sobre o uso correto de medicamentos, ações de fisioterapia, atividade física e serviço social. Também são ofertadas ações coletivas por meio do Nasf (Núcleo Ampliado de Saúde da Família) de fonoaudiologia, nutrição e saúde mental. Os pacientes que necessitam de reabilitação e/ou próteses de membros superiores e inferiores, são atendidos pelo CER IV(Centro Especializado em Reabilitação).

Santo André está elaborando projeto para a implantação, em março, de Núcleos de Atenção a Saúde do Idoso na Atenção Básica, que contará com atendimento em geriatria. O município conta com sete médicos com experiência, perfil e proximidade para compor e oferecer serviços relacionados à saúde do idoso.

A geriatra que atuava em Ribeirão Pires se aposentou ano passado e os atendimentos são prestados, desde agosto, pelos médicos das atenção básica. A administração trabalha para repor o profissional. De janeiro a julho de 2018, foram realizadas 568 consultas na especialidade.

Rio Grande da Serra não informou os dados até o fechamento desta edição. 




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;