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Nem sempre vale tudo
Por Beto Silva
24/05/2016 | 07:00
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Analistas das eleições norte-americanas afirmam que o pré-candidato do Partido Republicano Donald Trump tem de desqualificar a potencial adversária Hillary Clinton, do Partido Democrata, para ter chance de conquistar a Casa Branca. Uma das estratégias seria usar a traição de Bill Clinton (lembram de Monica Lewinsky?) na campanha para desestabilizar a rival. Como vemos, não é só por aqui que a eleição tem apelação. Já tivemos muitos exemplos em pleitos anteriores em que foram abordadas supostas relações extraconjugais, alinhamento com religiões afrodescendentes e até questões criminais. Mas a forma e o conteúdo dessas informações têm de ser cuidadosamente mensurados. Vanessa Damo (PMDB), por exemplo, foi acusada de fazer panfletos contra Donisete Braga (PT) na corrida pelo Paço de Mauá em 2012. Foi processada e perdeu mandato de deputada estadual, pois não estaria apta, em 2014, a obter seu registro de candidatura ao Parlamento paulista. O vale-tudo nem sempre é vale-tudo.

Aos fatos
Projeto de lei do governo Donisete Braga (PT), de Mauá, prevê a redução da carga horária de engenheiros e arquitetos da Prefeitura para 30 horas semanais. O vereador Ricardinho da Enfermagem (PTB) produziu emenda para incluir os profissionais da Saúde, os quais ele leva no nome, na propositura. Mas foi pressionado pela administração e por seu partido, que são contra a medida, e desistiu de apresentar o destaque. A sugestão a ser incluída na legislação estava pronta, com assinatura de vários vereadores. Alguns deles reclamaram da postura do colega, que apresentou a ideia e desistiu. Além de não levar a briga adiante, Ricardinho se ausentou do plenário sob justificativa de que sua pressão arterial baixou. Foi para o hospital. E não atendeu os contatos telefônicos para falar sobre o assunto. O Diário relatou todos esses fatos em reportagem na edição de quarta-feira. Em seguida, outra matéria jornalística, na quinta-feira, colocou a posição do parlamentar sobre o episódio: ameaçou deixar a base governista e até sair do PTB caso não tenha apoio para sua bandeira.

Às reações
Nas redes sociais, Ricardinho da Enfermagem gravou vídeo em “pronunciamento acerca das matérias mentirosas do Diário do Grande ABC”. Então quer dizer que o senhor mentiu, vereador? O jornal não mentiu, apenas relatou fatos e deu voz ao senhor. Se é mentira, quer dizer que você não vai largar as benesses de fazer parte do bloco a favor da Prefeitura? E também não vai trocar de partido? Era tudo mentira?

Ao histórico
No dia 12 de abril de 2014, este mesmo Diário publicou reportagem sobre a apresentação de projeto, por parte de Ricardinho da Enfermagem, para regulamentação da carga horária dos enfermeiros. Também era mentira, vereador? O senhor não apresentou o projeto? Em 30 de junho de 2015, o jornal também deu destaque para o fato de Ricardinho ter retirado da pauta da sessão o próprio projeto, que tramitava deste o ano anterior, sob a alegação de ter conversado com integrantes do governo, os quais se comprometeram a colocar a medida na peça orçamentária deste ano. Também foi mentira, vereador? Parece que sim, pois nada de a carga horária ter sido reduzida até agora, não é mesmo? E cadê o senhor desapontado com isso? Cadê o senhor estrilando com o prefeito? Cadê o senhor esbravejando com os secretários? Pelo contrário, continua na base de apoio do Paço, aprovando os textos de interesse do governo petista. Quem está mentindo mesmo, vereador? A categoria dos enfermeiros espera explicações.

O rescaldo
Ontem recebemos ligação de uma pessoa que se dizia advogada de Ricardinho, dizendo que seu cliente queria direito de resposta sobre as duas reportagens publicadas recentemente. Foi esclarecido que uma delas foi o relato da sessão em que ele passou mal e não retornou os contatos da reportagem para comentar. E a outra reproduziu as declarações do parlamentar, no dia seguinte, após o próprio petebista entrar em contato com o Diário. A advogada ficou de verificar com mais precisão o que haviam passado a ela. Será que teria mentido a ponto de querer se retratar das próprias falas?
 




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