Setecidades Titulo
Falta tudo em favela de antigo lixão em São Bernardo
Camila Galvez
Do Diário do Grande ABC
27/01/2011 | 07:32
Compartilhar notícia


Enquanto o caminhão-pipa da Saned (Companhia de Saneamento de Diadema) abastece as casas do Sítio Joaninha, em Diadema, cerca de 50 das 144 famílias que ainda vivem na área do antigo lixão do Alvarenga que pertence a São Bernardo estão com as torneiras secas há dez dias.

Seus barracos e casebres ficam na Rua da Divisa, área de ocupação irregular composta principalmente por famílias que viviam do lixão, desativado há mais de dez anos. Água e luz só chegam ali por meio de gatos. A comunidade sequer tem nome: é chamada pela Prefeitura simplesmente de terreno do antigo lixão. Dali foram removidas cerca de 80 famílias que ocupavam área de risco e agora estão no bolsa-aluguel. As que sobraram estão cadastradas em programas habitacionais, sem prazo para remoção.

Montes de roupas e louça sem lavar, quintais sujos e gente sem tomar banho esperam pela água. A moradora Antonia da Silva, 50 anos, enche tambores com água da chuva para tomar banho e cozinhar. "Mas parou de chover e os tambores secaram", reclamou. Na caixa-d'água de Jucélio Santos de Oliveira, 29, restou apenas uma poça. "Contamos com a ajuda dos vizinhos."

O drama da dona de casa Pamela Monique Gomes, 19, vai além: o filho Leonardo Gomes Torres, de 1 ano, passou por cirurgia no intestino e precisa usar uma bolsa para recolher as fezes. "O problema é que não tem água pra lavar a bolsa, então tive que tirar. Agora ele corre o risco de pegar doença. E o que eu vou fazer?", lamentou a mãe, carregando Leonardo no colo e uma nova criança na barriga.

SEM SOLUÇÃO
Debaixo do sol quente, a molecada que pisa descalça na terra se reúne para gritar "Querem matar a gente de sede!"

Quando funcionários da Saned chegaram ao local, na terça-feira, a situação ficou quase incontrolável: diversos moradores se aglomeraram ao redor de dois técnicos para pedir explicações. "A gente manda o caminhão-pipa abastecer o Sítio Joaninha, que é de Diadema. O que não podemos é mandar água para São Bernardo", explicou o gerente de operações e manutenção da Saned, Ademir Francischini. "Quer dizer que quem mora em Diadema é gente, e em São Bernardo não?", questionaram os moradores.

Já a Sabesp (Companhia de Abastecimento do Estado de São Paulo) afirmou que depende da desocupação ou reassentamento das famílias por parte da Prefeitura para efetuar ações de regularização de água na área. A empresa não soube informar as causas do problema. Os esquecidos da terra sem nome seguem esperando pela volta da água às torneiras. Ou simplesmente pela próxima chuva.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;