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O terceiro plebiscito: Diadema

Na história das eleições municipais do Grande ABC, o exemplo dado pelo pesquisador Walter Adão Carreiro. Ele foi buscar nos anais da Assembleia Legislativa o processo que transformou o seu município na sexta das sete cidades independentes do Grande ABC

Ademir Medici
Do Diário do Grande ABC
05/01/2021 | 00:01
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“Se você não deseja que seus filhos fiquem sem escolas para estudar, vote contra a emancipação de Diadema”. De um anúncio publicado pelo semanário “A Vanguarda”, de São Bernardo, editado em 20 de dezembro de 1958.

  

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PASSO A PASSO

É um rico processo, o de número 1694, de 1958, nascido de abaixo-assinado de 134 eleitores de Diadema.

O primeiro a assinar é o professor Evandro Caiaffa Esquivel. O documento cumpre as exigências da Lei Orgânica dos Municípios, “com a nova redação que lhe foi dada pela Lei nº 4.571, de 3 de janeiro do mesmo ano de 1958”.

Ou seja: os autonomistas (ou emancipadores) não perderam tempo e comprovaram, com números e fotos, que o Distrito de Diadema, pertencente ao município de São Bernardo “do Campo”, tinha todas as condições para alcançar a emancipação.

Senhores historiadores de São Bernardo, São Caetano, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra: façam como Walter Adão Carreiro, de Diadema, que foi à Alesp pesquisar e reproduzir a verdadeira certidão de nascimento do sexto município do Grande ABC.

Senhores deputados eleitos com o voto do Grande ABC, ajudem os pesquisadores da sua cidade nesta ação cívica de construção da história local.


Parque industrial nascente.

Lauro Gomes perde esta.

O Natal mais bonito... 

311 – O documento de Diadema entregue à Alesp cita os principais bairros de Diadema em 1958: a povoação-sede (Centro), Piraporinha, Vila Nogueira, Taperinha, Taboão, Jardim Ruyce, Vila Regina, Parque Sete de Setembro, Eldorado e Parque das Jabuticabeiras.

312 – O documento é recheado de informes comprobatórios: o parque industrial de então, mais a produção de aves e suínos, as plantações de verduras, hortaliças e legumes, o comércio, inclusive o turístico de Eldorado, às margens da Represa Billings, propiciavam ao Distrito de Diadema uma receita estadual superior a de muitos municípios.

313 – População de 8.860 habitantes, renda de 3,3 milhões de cruzeiros, localização estratégica, tudo de acordo com o que exigia a legislação para que a população pudesse escolher o seu futuro: emancipar-se ou continuar a pertencer a São Bernardo. “O Município de Diadema nascera dando renda, acima das despesas, ao erário do Estado”, sacramentavam os abaixo-assinados.

314 – Claro, não bastava o cumprimento das exigências legais, havia o lado político. Afinal, do outro lado estava o poderoso Lauro Gomes de Almeida, ex-prefeito de São Bernardo, agora deputado federal, e que elegera seu sucessor, Aldino Pinotti.

315 – Lauro lutou o quanto pôde para, primeiro, impedir a realização do plebiscito; depois, para que no plebiscito a população respondesse que não queria a separação. Registre-se que Aldino Pinotti estava rompendo com Lauro Gomes e que Evandro Esquivel e companheiros estavam mesmo dispostos a obter a emancipação. E foi o que ocorreu.

316 – A história da emancipação de Diadema começa com a elevação do seu território em distrito. Professor Evandro, liderando um grupo de moradores, recorreu ao jurista Miguel Reale, que em 1946 estava comprando um sítio na área do bairro Serraria. Dr. Reale deu as coordenadas e propôs o nome “Diadema”, o “D” da sequência da sigla ABC. E o Distrito de Diadema foi criado em 24 de dezembro de 1948.

Memória guarda uma fita gravada com o depoimento de Miguel Reale, o pai, a respeito.

317 – Walter Carreiro cita outra data: 27 de fevereiro de 1958. Naquele dia foi lançada a campanha pela emancipação de Diadema, em reunião realizada no porão da casa de Manoel Amaral Junior, o Neco Amaral. Carreiro lembra o cartorário Joviniano de Castilho Junior, que se encarregou de obter as assinaturas dos eleitores residentes no distrito a mais de dois anos para o memorial a ser enviado à Alesp. “Era comum vê-lo abordar os passageiros que saíam do ônibus e perguntar:

Trouxe o título (de eleitor)?

Não!

Então te espero amanhã novamente.

318 – “As causas e razões do movimento de emancipação de Diadema, deve-se buscar no tratamento discriminatório dado por São Bernardo ao antigo Distrito de Diadema”, comenta a professora Sylvia Ramos Esquivel no livro <CF160>Diadema, sua História</CF>, de sua autoria (João Scortecci Editora, São Paulo, 1988).

319 – Dona Sylvia narra um episódio: quando falecia um diademense, se fosse de família mais abonada o corpo era conduzido em carro fúnebre ao cemitério de lá (São Bernardo). Mas se fosse de gente do povo mais simples, a única condução era a do caminhão.

320 – Enfim, vencidas as questões jurídicas, o plebiscito em Diadema foi marcado para 24 de dezembro de 1958, com as tais cédulas brancas (pelo sim da emancipação) e pretas (pelo não). A apuração, no Natal daquele ano, aprovou a emancipação: dos 639 eleitores aptos a votar, compareceram 557, e o “sim” ganhou por uma diferença de 47 votos a favor da emancipação. “Foi o melhor Natal da antiga vila de beira de estrada, os amigos se abraçavam, cantavam e dançavam numa alegria contagiante”, assinala Walter Carreiro.


Diário há meio século

Terça-feira, 5 de janeiro de 1971 – ano 13, edição 1426

Manchete – Chuvas assolam o Paraná: várias cidades inundadas.

Indústria< – A Volkswagen anunciava o reinício da produção de veículos, depois do incêndio que destruiu uma de suas principais alas.

Santos do dia

- Simeão

- Emiliana

- João Nepomuceno Neuman

Em 5 de janeiro de...

1921 – Ribeirão Pires divulgava a realização da festa de Nossa Senhora do Pilar Velho, marcada para os dias 7, 8 e 9 de janeiro (de 1921). Informava-se que teria a maior pompa, com música, fogos de artifício “e muitos outros divertimentos profanos”.




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