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Rua que ‘vai’, D. Pedro I reúne pontos principais de Rio Grande da Serra

Avenida concentra espaços como Paço Municipal, Secretaria de Educação, pista de skate e teatro

Bia Moço
Diário do Grande ABC
13/09/2020 | 23:59
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Celso Luiz/DGABC


Com 36 km² de território e 50.241 mil habitantes, Rio Grande da Serra é conhecida como a caçula das cidades do Grande ABC. Não à toa, somente duas vias são responsáveis pela entrada e saída do município, e também pelo acesso aos bairros, e carinhosamente batizadas como ruas vai e vem – Avenida Dom Pedro I e Rua José Maria Figueiredo. 

A primeira, no entanto, é caracterizada como a principal, sobretudo por reunir nos cerca de 1.000 metros de extensão o Paço Municipal, a Secretaria de Educação, o Teatro Municipal Primeira-Dama Zulmira Jardim Teixeira, a pista de skate Sandro Dias Mineirinho, a Paróquia São Sebastião e a estação ferroviária, reconhecidos como os principais pontos do município.

A avenida, que passa pelo Centro, Vila Albano e Vila Figueiredo, abriga 46 residências e 38 comércios, que movimentam o local, também palco do tradicional desfile cívico da cidade, que acontece sempre no mês de maio em comemoração ao aniversário de emancipação do município – desmembrado de Santo André e Ribeirão Pires em 3 de maio de 1964.

A equipe de reportagem do Diário percorreu toda a extensão da via ouvindo, de porta em porta, um pouco da evolução histórica do endereço. Conforme a população, o cenário de antigamente era praticamente todo rural. Acessos de terra batida, terrenos desocupados, poços e lagoas contornavam o pequeno município, que tornou-se um dos maiores fornecedores de sal na década de 1950, principalmente na Avenida Dom Pedro I, por causa da estação ferroviária. O local fazia ainda parte da rota de tropeiros, no século XVII, que buscavam riquezas naturais no vilarejo.

Hoje, tudo é bem diferente, já que os comércios e excesso de carros estacionados dão um ar mais urbano, o que, para os moradores, não foi positivo em todos os aspectos. O casal José Roberto de Souza, 51 anos, e Simone Aparecida Ferreira de Souza, 47, é testemunha dessa mudança que, para eles, em parte, atrapalhou. “Chegamos aqui em 1987. Embora a avenida já fosse pavimentada, esse crescimento comercial teve os dois lados. Movimentou a economia, mas também tirou o sossego da gente”, avaliou Simone.

Proprietários de comércio conhecido na cidade (Beto Chaveiro e Bikes), o casal explicou que, com o crescimento da oferta de empregos devido à expansão comercial, a via passou a servir de estacionamento, o que atrapalha o acesso de clientes. Mesmo assim, reconhecem que o endereço também passou por transformações positivas. “Em dez anos a rua foi pavimentada duas vezes, e passou a ter calçadas, coisa que antes não existia. Melhorou muito do que era antes, não só aqui, mas a cidade como um todo”, elogiou Simone.

Embora morem no bairro periférico Santa Tereza, o casal passa quase que o dia todo no comércio. Beto, como costuma ser chamado, garante que a vista não é mais a mesma. “Antes, onde tem essas casas (em frente) havia lagos. E onde é a pista de skate já foi estrada de terra que ligava Rio Grande da Serra a Paranapiacaba, em Santo André”, contou o comerciante.

Já Simone, nascida em Rio Grande da Serra, lembra mais dos tempos em que a cidade era pouco reconhecida. Para ela, mesmo com as mudanças, Rio Grande da Serra ainda é vista como “a prima pobre do Grande ABC”. “Até hoje, mesmo com a cidade melhor, e mais atrativa, as pessoas ainda a chamam de Rio Grande das Trevas”, brincou.

MELHORIAS - A atual gestão, comandada pelo prefeito Gabriel Maranhão (Cidadania), integrou a via ao PAC Mobilidade, do governo federal, que repassou recursos para a realização de manutenção do asfalto em toda a extensão da avenida. “A Dom Pedro I é uma das principais ruas de nossa cidade, e tenho um carinho muito especial por ela, já que está relacionada a duas das coisas de que mais gosto no município, que são o nosso desfile cívico, realizado em maio para comemorar o aniversário de Rio Grande da Serra, e o Teatro Municipal, palco de grandes atrações e projetos culturais”, afirmou Maranhão.

Dura Automotive impulsionou o crescimento econômico da via

Instalada no município desde a década de 1970, a Dura Automotive Systems é a empresa mais antiga registrada na Avenida Dom Pedro I, no Centro de Rio Grande da Serra. Por isso mesmo, é apontada como responsável pelo pontapé inicial para a evolução da cidade, sobretudo com relação ao desenvovimento econômico e geração de emprego. 

Conforme publicado no site da indústria, inicialmente a fábrica de peças automotivas chamava-se Pollone, fundada em 1949 em Santo André. Em 1976, a sede mudou-se para Rio Grande e, em 1996, a empresa associou-se à Excel Industries Inc e à Dura Automotive, que hoje controla 100% da companhia, que emprega cerca de 300 funcionários na planta de 132 mil m², em sua maioria, moradores da cidade.

Diretor de recursos humanos, Nilton Martins disse que, em 28 anos de empresa, pôde acompanhar algumas das transformações da via, sobretudo econômicas, e, consequentemente, da cidade. “A vinda da Pollone para Rio Grande da Serra visou movimentar a atividade econômica da cidade, que, na época, não tinha nenhuma empresa”, contou Martins, relatando que, embora não tenha vivenciado aquele tempo como funcionário, a história da instalação fabril se deu, sobretudo, pela escassez de emprego local e pela busca por serviços em cidades vizinhas. 

“O comendador Pollone, fundador da empresa, tinha a intenção de fazer com que o município fosse gerador de riquezas dentro de seu território. Para isso, colocou como princípio empregar moradores de Rio Grande, visão esta que mantemos até os dias de hoje”, salientou.

Nas últimas duas décadas, Martins observou aumento progressivo de estabelecimentos comerciais nos cerca de 1.000 metros da via, o que acredita ter sido positivo para a cidade, que agora consegue “caminhar com as próprias pernas”.

“Os avanços da avenida, e também da cidade, ajudaram a melhorar a autoestima do povo de Rio Grande que, há pouco anos, não tinha recursos. Aumentou a oferta de serviços, a quantidade de empregos e valorizou o município, que sempre teve fama de primo pobre do Grande ABC”, disse o diretor, que acredita que a cidade tenha potencial para expandir ainda mais, buscando, principalmente, a valorização histórica.

Se tem um espaço que chama atenção na Avenida Dom Pedro I, e tornou-se até mesmo ponto turístico em Rio Grande da Serra, é a Paróquia São Sebastião. Não só pela beleza, mas porque em toda a extensão da via é a única construção que fica no alto, e pode ser vista de longe. A capela ocupa área em frente à Praça da Bíblia, repleta de baquinhos e árvores.

Conforme levantado com a Prefeitura, a paróquia foi erguida em 1611 por tropeiros que traziam sal de Santos para o Planalto. A imagem de São Sebastião, que dá nome ao local, foi esculpida em 1906 por um peregrino desconhecido que, após ser acolhido pela família Pandolfi – importante na cidade –, partiu e deixou a imagem do santo padroeiro como forma de gratidão. Já em 1970, o Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico) reconheceu a paróquia como patrimônio histórico e, desde então, é frequentemente restaurada, porém, preservando as formas iniciais.

Segundo a população, o espaço, que costuma celebrar a missa de aniversário da cidade e tem tradicional quermesse, raramente está vazio. “Sempre tem algum fiel, seja na capela ou na pracinha”, disse Maria do Rosário Fonseca, 58 anos. Ela afirmou que, seja a igreja ou a praça, o espaço “é bom remédio para a alma”.

LAZER - Uma reclamação da população de Rio Grande da Serra é que a cidade possui poucas opções de lazer. No entanto, para os adoradores de esportes radicais, a Avenida Dom Pedro I não deixa a desejar, já que uma pista semiprofissional de skate, com 400 m², colada na Praça da Bíblia, diverte a molecada da cidade dia e noite.

Desempregado, Luís Felipe Silva Ribeiro de Souza, 23 anos, passa as tardes arriscando manobras. “Valoriza a cidade ter um espaço de lazer assim, mas precisa de mais cuidado. Somos nós quem realizamos os reparos estruturais”, reclamou o jovem.</CW><CW0>

O tatuador Iago Alfredo de Castro, 25, não pensa diferente. “A cidade precisa cuidar mais do pouco que tem. É necessário que coloquem uma cobertura, e que arrumem o piso. Fora isso, esse espaço é um grande ganho”, pontuou.

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