Setecidades Titulo
Família acusa hospital de negligência
Illenia Negrin
Do Diário do Grande ABC
11/01/2005 | 13:48
Compartilhar notícia


O estudante Francisco Júlio Pereira Neto, de 13 anos, morreu, no último sábado em Mauá, vítima de septicemia (infecção generalizada), provocada por um quadro avançado de apendicite. A família acusa o Hospital Nardini de negligência médica. Parentes alegam que durante os três dias anteriores à morte o garoto nem sequer foi examinado pela equipe. Os médicos da emergência, segundo eles, prescreveram o mesmo tratamento – soro para conter a desidratação e analgésicos –, ainda que o menino não tivesse apresentado melhora alguma. A Prefeitura de Mauá, por meio de nota oficial assinada pelo prefeito Diniz Lopes, diz que vai investigar a denúncia.

A mãe de Julinho, como o rapaz era conhecido, Maria Luiza Batista Pereira, registrou na segunda-feira boletim de ocorrência no 1º DP de Mauá. O delegado-titular José Rosa Incerpi diz que as denúncias de negligência, omissão e erro médico contra o Hospital Nardini não são novidades e, apesar de não entrar em detalhes, afirma que há três processos em andamento para apurar as denúncias. “Em uma das investigações, que está em fase final, tudo indica que houve realmente omissão de socorro por parte da equipe médica.” A família revela que vai entrar na Justiça pedindo a punição dos médicos que atenderam o estudante, pleiteando, também, indenização.

O prefeito de Mauá, Diniz Lopes dos Santos, lamentou a morte de Julinho e garantiu que irá tomar providências para que o caso seja apurado e esclarecido. Nota oficial divulgada na segunda-feira pela assessoria de imprensa diz que quer “transparência” na área da saúde e “em todas as outras da administração municipal”.

Maria Luiza e a filha mais velha, Ana Heloíse Batista Pereira, afirmam que os médicos fizeram “vistas grossas” no atendimento ao jovem, que deu entrada três vezes no hospital. “Nenhum médico da emergência tocou no meu filho. O menino só piorava. Implorei para que o internassem, descobrissem o que ele tinha. Mas, quando encontrei um médico sério, já não dava mais tempo”, desabafou a mãe.

Indas e vindas – Julinho esteve no Hospital Nardini pela primeira vez na quarta-feira, depois de passar a noite com diarréia, febre, dores no corpo e de barriga e vômitos. Foi liberado pela equipe médica horas depois, procedimento que se repetiria nos dois dias seguintes. A mãe alega que nenhum pedido de exame foi feito. E que a gravidade do estado clínico do paciente só foi percebida na sexta-feira, quando Julinho foi finalmente internado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva).

“O médico que operou meu menino disse que seria muito difícil salvá-lo. E ainda falou que não entendia como os outros não perceberam antes que era apendicite”, relata Maria Luiza. Durante a madrugada de sábado, enquanto se recuperava da cirurgia de retirada do apêndice, o jovem teve parada cardíaca e foi reanimado. No início da manhã de sábado, sofreu o segundo ataque do coração e não resistiu.

Julinho morava com a mãe e com a única irmã na Vila Assis, em Mauá. Adorava videogame e soltar pipa, mas estava prestes a deixar as brincadeiras para ingressar no mercado de trabalho. Tinha conseguido um emprego como lavador da carros na mesma empresa do tio, só faltava assinar os papéis. Completaria 14 anos no dia 10 de fevereiro e iniciaria a 8ª série no período da noite. Queria ganhar dinheiro para ajudar mãe, que cria os filhos sozinha desde que eram muito pequenos, depois que o marido deixou a casa. Maria Luiza é costureira e trabalha na Valisère, fábrica de lingeries. “Fico o dia todo fora de casa. Os meus filhos passavam o dia todo juntos. Eram amigos, se amavam muito. Vai ser terrível para minha filha viver sem o irmão.”

Perigo escondido – A apendicite é uma doença “traiçoeira”, explica o médico Edmundo Anderi Júnior, especialista em aparelho digestivo e professor da Faculdade de Medicina do ABC. No estágio inicial, pode ser confundida com uma simples dor de estômago e o diagnóstico precoce depende muito da experiência do profissional, segundo ele. “A apendicite pode evoluir muito rápido, dependendo do paciente, em questão de horas. Para outros, demora dias. É necessário estar atento, porque se evolui para um caso crônico se torna fatal na maioria das vezes, se não operado a tempo”, afirma.

A direção do Hospital Nardini não atendeu às ligações do Diário.

Colaborou Tatiane Moreno



Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;