Setecidades Titulo Drogas
Dados sobre drogas a um clique

Grupo de psicólogos e colaboradores cria aplicativo sobre políticas de redução de risco, voltado a dependentes e especialistas que lidam com eles

Camila Galvez
Do Diário do Grande ABC
16/03/2015 | 14:22
Compartilhar notícia
Claudinei Plaza/DGABC


Comer antes de beber diminui a chance de passar mal. Evitar café antes de dormir garante um sono tranquilo. E não compartilhar seringas ao usar drogas injetáveis evita a contaminação com o vírus da Aids. Informações como estas estão disponíveis no aplicativo Redução de Danos, idealizado por grupo de psicólogos que atua no tratamento de dependentes químicos.

O programa, primeiro do tipo no País, está disponível para download em smartphones com sistema Android há cerca de um mês. No período, foi baixado por quase 3.000 pessoas, inclusive de fora do Brasil, em países como Estados Unidos, Argentina e México. É caracterizado por um banco de dados sobre as principais drogas, com informações sobre elas e como minimizar os riscos ao usá-las.

A medida é polêmica, mas políticas de redução de riscos no uso de entorpecentes são realidade no País desde 2006, com a Lei 11.343, conhecida como Lei de Tóxicos. O artigo 20 diz que “constituem atividades de atenção ao usuário e dependente de drogas e respectivos familiares, para efeito desta lei, aquelas que visem à melhoria da qualidade de vida e à redução dos riscos e dos danos associados ao uso de drogas.” Na região, inclusive, as prefeituras de Diadema, Mauá, Santo André e São Bernardo trabalham com o conceito (leia mais ao lado) em suas redes de Saúde Mental.

Um dos idealizadores do aplicativo é o psicólogo e morador de Diadema Bruno Logan Azevedo. Segundo o especialista, o programa é voltado tanto para os usuários de drogas que não podem ou mesmo não querem deixar de usar no momento quanto para aqueles que atuam com os dependentes. “Reunimos informações relevantes recolhidas por meio de pesquisas científicas, inclusive em bancos de dados internacionais, e também com os próprios usuários.”

CONCEITO

Segundo a pesquisadora do Proad (Programa de Orientação e Atendimento a Dependências) da Unifesp (Universidade Federal do Estado de São Paulo) e colaboradora do projeto Andrea Domanico, redução de danos é um conjunto de estratégias para minimizar os riscos causados pelo uso de drogas, respeitando o direito das pessoas consumirem o entorpecente, já que no País é crime somente portar ou traficar drogas. “Em torno de 10% a 15% da população desenvolve vício. O restante faz uso recreativo. A redução de danos serve para ambos.” Segundo a pesquisadora, o conceito surgiu no Brasil durante a luta contra a Aids, em 1989.

No aplicativo é possível encontrar informações sobre drogas como álcool, tabaco, maconha, cocaína, LSD e até mesmo Viagra e o tradicional cafezinho, que contém cafeína, substância psicoativa que causa efeitos no organismo.

O próximo passo, segundo Azevedo, é disponibilizar o sistema para download em iOS. “Nossa estimativa era alcançar 5.000 downloads em um ano. Chegamos a 3.000 e continuamos crescendo. Quanto mais informação, menos danos.”

Quatro cidades atuam com conceito na Saúde Mental

No Grande ABC, quatro cidades atuam com políticas de redução de danos no atendimento a dependentes químicos dentro da área de Saúde Mental.

Santo André foi a primeira da região a começar a trabalhar com o conceito, em 2002. No município, a redução de danos trabalha os agravos da saúde provenientes do uso abusivo de álcool e outras drogas, sempre respeitando o tempo de decisão e escolhas dos usuários. A proposta é cuidar das pessoas, mesmo que elas mantenham o vício. Na área de atenção psicossocial, o consultório na rua, um dos serviços que atua com as políticas, atende, mensalmente, cerca de 320 pessoas.

A proposta de redução de danos é aplicada em São Bernardo desde 2010, quando foram iniciados os atendimentos do Consultório na Rua. Trata-se de espécie de UBS (Unidade Básica de Saúde) Móvel instalada em uma van, que percorre as ruas da cidade levando equipe capacitada para realizar abordagens junto à população de rua e pessoas em situação de alta vulnerabilidade que, normalmente, não recorrem ao serviço de Saúde.

O principal alvo do Consultório na Rua e do Programa de Redução de Danos de São Bernardo é a população de rua ou pessoas em situação em alta vulnerabilidade. Boa parte faz uso de álcool e crack. Desde que a estratégia entrou em vigor na cidade, 1.700 pessoas já foram cadastradas. Em média, por mês, cerca de 400 são atendidas pelas equipes.

Em Diadema, que conta com o serviço desde 2011, duas equipes de Redução de Danos realizam o trabalho em praças, viadutos e pontes onde há concentração de usuários de álcool, crack e outras drogas. O número de pessoas atendidas não foi informado.

Já em Mauá, políticas de redução de danos foram implantadas a partir de 2013, em sincronia com as diretrizes do Ministério da Saúde. A Prefeitura informou que o Caps AD (Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas) atende 1.700 pessoas e 408 cadastrados no Consultório de Rua, que atua dentro do mesmo conceito.

As demais prefeituras foram procuradas, mas não se manifestaram até o fechamento desta edição.  




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;