O tempo passou, Santo André cresceu, continua crescendo sem parar. Pessoas chegadas de outros cantos do Brasil e também da Europa aqui fizeram história. E uma dessas histórias é a da Corporação Musical Lira de Santo André, carinhosamente conhecida como Banda Lira.

Criada por imigrantes italianos, ela viu diversos fatos históricos, resiste e passa no teste do tempo, continuando sua trajetória. Hoje ela apaga as velas, ainda que sem programação especial confirmada até o momento, em comemoração aos 95 anos de trabalho prestados à comunidade.

O grupo deu os primeiros passos em 21 de abril de 1918, com apenas nove músicos. Desde lá, não interrompeu as atividades por um ano sequer, contando ou não com apoio financeiro.

Animar casamentos, batizados e até serenatas para mocinhas fazia parte das primeiras agendas do grupo. Os primeiros bailes vieram em seguida, em casas como Audax, Corinthinha, Clube Atlético Aramaçan, Risca Faca e Gibimba.

Hoje, a banda coleciona histórias, algumas de dificuldade, outras engraçadas, mas todas com louvor, e segue firme comandada pela batuta do maestro Claurício Cypriano e capitaneada pelo secretário João Magliano Filho, que herdou o cargo de seu pai em 1953.   É puro amor e prazer pela música   Não é para qualquer grupo se manter vivo, passar o bastão para outras gerações e ensinar tradições por quase um século. E se há explicações para o grupo seguir na ativa, segundo o secretário João Magliano Filho são coisas simples: "A Banda Lira não se liga à política, não tem religião nem raça. É puro amor e prazer pela música", afirma.

Seo João, 71 anos, é o mais antigo integrante em atividade. Já são 63 anos. Seu pai entrou para o grupo em 1920, era tocador de trombone e depois virou secretário.
Ele conta que ainda pequeno já pensava entrar para a banda, mas seu pai tinha ressalvas. "Ele não tinha muito mais do que o primário, mas me deu estudo", lembra-se. "Ele tinha medo que eu largasse a escola e me apaixonasse pela música", afirma. Isso não aconteceu. Seo João seguiu nos estudos e não abandonou a Banda Lira.

Ele se lembra com carinho dos concertos da banda no Cine Teatro Carlos Gomes. "No início da carreira a banda fazia espetáculos no Carlos Gomes. Uma vez, quando eu era pequeno, fui lá para ver a obra 'O Guarani'. Estava sempre lotado", conta.

Entre outras recordações, lembra-se da participação da banda no filme 'Nadando em Dinheiro', do Mazzaropi, e também, com muito carinho, da vez em que a Banda Lira participou da comemoração pelo 4º Centenário de São Paulo, em 1954. "A banda desfilou do Pacaembu até o Vale do Anhangabaú. Pegamos a segunda colocação. Foi lindo".

Com agenda cheia - são cerca de 15 apresentações por mês, todas sem cachê -, a banda hoje é regida pelo maestro Claurício Cipriano e conta com 35 músicos, sendo que a maioria é aposentada.

O grupo tem uma sede, na Praça Adhemar de Barros, no Ipiranguinha, onde se apresenta todo último domingo do mês, às 15h. Lá funciona uma escola de música.

"Quando formamos um aluno é aquela alegria", conta o secretário. O professor é pago pela Coop, apoiadora da banda, que também conta com verba anual de R$ 106 mil da Prefeitura de Santo André.

Ainda assim, muitas vezes o trabalho da Banda Lira é difícil. "Gostaria que tivéssemos mais condição de sobreviver, poder dar mais condição aos músicos. Alguns precisam de cesta básica, instrumentos melhores. A gente adora essa banda. Eu a defendo com unhas e dentes. Só temos amor e carinho por ela".