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Obesas sofrem descaso do sistema de Saúde

Adriana não pode sair de casa e Debora teve cirurgia cancelada

Guilherme Monfardini
Thaís Moraes
17/04/2013 | 07:00
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A ex-cabeleireira Adriana Batista da Silva, 33 anos, e a dona de casa Debora de Paula, 35, ambas moradoras de Santo André, são vítimas do descaso do sistema público de Saúde da região com pessoas que sofrem de obesidade. Adriana pesa 226 quilos e não consegue sair de casa. Ela precisa de ajuda médica para emagrecer e, assim, poder fazer a cirurgia bariátrica. Já Debora está no peso correto para o procedimento, mas depois de passar pela preparação no Hospital de Ensino Padre Anchieta, em São Bernardo, por três anos, teve cirurgia cancelada (leia mais abaixo).

A história de Adriana foi publicada em reportagem do Diário há oito meses. De lá para cá, nada mudou e ela ganhou mais peso. "Só consigo emagrecer se tiver acompanhamento médico, mas não posso sair de casa por causa do meu peso."

A ex-cabeleireira não tem condições de ir ao médico sem ajuda. Por morar em cima de outra casa, Adriana não consegue descer a estreita escada que dá acesso à rua. "Preciso da ajuda dos bombeiros quando tenho que sair. Se é muito urgente, sento no degrau e vou descendo bem devagar, degrau por degrau."

Adriana quer realizar a cirurgia bariátrica, mas para correr menos riscos, precisa perder ao menos 30 quilos. "Sozinha não consigo. Até perco peso, mas depois ganho o dobro."

Até os 27 anos Adriana tinha uma vida saudável. "Era gordinha, mas não obesa.Quando perdi meu pai e meu irmão, entrei em depressão e comecei a engordar cada vez mais."

Com 226 quilos, ela sequer consegue andar, quanto mais fazer os trabalhos de casa ou ir à escola dos cinco filhos para reuniões ou apresentações. "Não consigo fazer nada, sempre tento, mas com o meu peso, não dá para andar. Dou alguns passos e me sinto cansada."

Adriana se emociona quando fala da família. "Preciso de ajuda, porque quero sair com meus filhos, quero acompanhar a vida deles. A minha sorte é que eles entendem o que passo."

Quem ajuda na organização da casa é a nora Joyce Silva de Oliveira, 18. "Sei que não é falta de vontade dela, ela tem uma doença e precisa de tratamento", disse Joyce.

Na hora do banho, Adriana se senta em uma cadeira de madeira dentro do pequeno boxe, e é auxiliada pela filha de 11 anos, Glória. "Fico sentada e ela é quem me lava. Só de ir do quarto ao banheiro, me canso."

Procurada, a Prefeitura de Santo André informou  que a moradora receberá visita de profissionais do PID (Programa de Internação Domiciliar) para avaliar suas necessidades e encaminhá-la aos serviços de Saúde. A administração lembrou ainda que não realiza a cirurgia bariátrica e, na cidade, o Hospital Estadual Mário Covas é referência para esse atendimento.

Hospital encaminha pacientes para Estado

"Quero saber quantos anos da minha vida vou perder". Essa é a pergunta que a dona de casa de Santo André Debora de Paula, 35 anos, se faz todos os dias desde que soube que sua cirurgia de redução de estômago, esperada há três anos, havia sido cancelada.

Débora tem obesidade de grau três, nível mais alto da doença, e pediu ajuda quando, em consulta de rotina, viu sua saúde ameaçada. "Procurei a Fundação do ABC e me encaminharam para o Hospital de Ensino Padre Anchieta. Durante três anos, passei por vários especialistas, como endocrinologista, nutricionista, psicólogo, cardiologista, pneumologista, entre outros."

Após a realização de inúmeros exames e consultas, em junho o médico a liberou para o procedimento. "Ele me informou que a operação seria realizada até dezembro e que a equipe ligaria para avisar, mas até hoje ninguém entrou em contato."

Em fevereiro, quando passou por consulta com a endocrinologista, Debora cobrou posicionamento do hospital e teve uma desagradável surpresa. "Fui informada de que a nova administração tinha decidido não realizar mais cirurgias bariátricas e que meu caso seria remanejado para o Hospital Estadual de Diadema."

Algumas semanas depois, recebeu ligação informando sobre a necessidade do comparecimento à unidade estadual. "A médica disse que não poderia fazer a cirurgia, pois como meu tratamento não havia ocorrido lá, eu não poderia passar na frente de outras pessoas. Teria que entrar na fila."

Segundo Debora, durante todo esse tempo ela recusou propostas de emprego e viagens de família por conta do tratamento. "Não pretendo esperar todo esse tempo de novo, tenho direito à cirurgia."

A Fundação do ABC informou que o Hospital de Ensino Anchieta foi desabilitado pelo Ministério da Saúde para realizar cirurgias bariátricas, e que todos os pacientes foram remanejados para Diadema.

Já a Secretaria de Saúde do Estado informou que para a cirurgia na unidade, os pacientes são submetidos a pré-avaliação. A Pasta não informou qual o tempo da fila de espera pela cirurgia.




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