Política Titulo Mauá
Servidora recebeu ordens

Ana Caroto afirma que Corregedoria determinou que ela esquentasse violações de sigilo de declarações

Sérgio Vieira
Do Diário do Grande ABC
11/09/2010 | 07:34
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A servidora da unidade da Receita Federal de Mauá, Ana Maria Caroto Cano, acusada de quebrar sigilos fiscais de pessoas ligadas ao presidenciável José Serra (PSDB), disse, em depoimento, que recebeu ordens da Corregedoria para esquentar as violações das declarações de Imposto de Renda. O órgão federal nega que tenha dado determinação à funcionária.

Ana - que é filiada desde 1981 ao PMDB da cidade - foi levada à delegacia após denúncia do metalúrgico aposentado de Mauá Edson Pedro dos Santos. Ele acusa o marido da servidora, José Carlos Cano Larios, de tentar fazer com que assinasse procuração autorizando Ana a ter acesso aos seus dados fiscais, violados pela servidora em agosto. Edson afirma que não conhece nem a funcionária da Receita nem José Carlos.

"Ele me ligou na segunda-feira, dizendo que eu precisava assinar uma declaração (veja arte acima) para que a mulher dele tivesse acesso aos meus impostos de renda exercícios 2008 e 2009. A desculpa era de que a Ana precisava corrigir umas informações de minha declaração deste ano", contou ontem o aposentado. "Como desconfiei, pedi para me deixar o papel, que eu ligaria no dia seguinte".

Edson, procurou, na terça-feira, feriado de 7 de Setembro, o advogado que fez sua declaração, que negou que tivesse pedido acesso aos IRs. Na quarta-feira, o aposentado foi ao 1º DP de Mauá e registrou boletim de ocorrência. Os policiais, então, sugeriram que Edson marcasse encontro com José Carlos, sob argumento de que assinaria a procuração. Os dois marcaram em um posto de gasolina na Avenida Rio Branco, na Vila Bocaína. Assim que o marido de Ana Maria chegou, os policiais o detiveram.

MAIS 17 PROCURAÇÕES
O aposentado também achou estranho o fato de José Carlos ter dito que ele não seria o único que estava sendo procurado. "Ele me falou que precisava correr para ter mais 17 procurações, de outras pessoas, sobre acesso ao Imposto de Renda. Só não me falou quem eram."

Edson prestará depoimento na segunda-feira, às 10h, na Delegacia Seccional de Santo André, que já investiga violação do sigilo da empresária Verônica Serra, filha do presidenciável tucano. Na terça-feira, ela será ouvida pela Polícia Federal.

Estudante do 5º ano de Direito, Edson trabalha como estagiário na Secretaria de Assuntos Jurídicos da Prefeitura de Mauá. Em 2008, foi a candidato a vereador pelo PPS - partido pelo qual ainda é filiado -, mas obteve apenas 93 votos. Na época, o partido estava ao lado do prefeiturável Chiquinho do Zaíra (que disputou a eleição pelo PSB, mas hoje está no PMN), que perdeu no segundo turno para Oswaldo Dias (PT).

"A gente está em um País que não nos garante segurança. Nossa liberdade está ameaçada. O Estado tem obrigação de guardar os dados do cidadão", disse Edson, que afirmou que ainda não decidiu entre Serra e Dilma Rousseff (PT), apesar de seu partido, nacionalmente, ser aliado do candidato do PSDB.


‘Com certeza estão mentindo', diz Pescarmona

O contador Antonio Carlos Atella Ferreira prestou depoimento de quase três horas ontem, depois de ser intimado pela Polícia Civil de Santo André. Atella é acusado de usar falsa procuração da filha do presidenciável tucano, José Serra, e do marido dela, Alexandre Bourgeois, para acessar dados sigilosos. De acordo com o delegado Seccional de Santo André, José Emílio Pescarmona, a versão de Atella não bate com a do oficce-boy Ademir Estevão Cabral, ouvido na quinta-feira pela Civil. "Com certeza estão mentindo."

Para confrontar as versões, Pescarmona pediu que a Justiça determine às operadoras liberação das ligações telefônicas feitas por Atella e Ademir no período de setembro a dezembro de 2009. O delegado também fará acareação entre os dois, ainda sem data definida.

Ademir disse em depoimento estar surpreso com o envolvimento de seu nome no episódio, que reflete na disputa presidencial. Atella afirmou que conhecia Ademir e mantinha relações profissionais. Segundo ele, um prestava serviço de contabilidade ao outro e os serviços - retirada de CNDs (Certidões Negativas de Débito) e declarações de IR (Imposto de Renda) - pedidos pelo Ademir estavam sempre relacionados à Junta Comercial do Estado, Receita Federal de Mauá e principalmente à agência de Santo André.

O delegado explica que, no depoimento, o falso procurador disse ainda que os formulários já vinham devidamente preenchidos. "Atella entregava o requerimento e recebia a informação da Fazenda no mesmo dia. Depois entregava para Ademir e não sabia o destino das declarações."

Segundo Pescarmona, as duas procurações, tanto de Verônica como de Alexandre, são idênticas. Atella confirmou que ambas foram entregues e retiradas por ele, mas negou saber que tratava-se de pessoas ligadas a José Serra.

Ontem também foi colhido material grafotécnico de Atella para saber se a letra da procuração é mesmo a dele. O material deverá ser encaminhado para a Polícia Federal fazer análise.

Na segunda-feira serão ouvidos o tabelião do 16º Cartório de Notas de São Paulo.

Verônica Serra e Alexandre Bourgeois também serão chamados para prestar depoimento na Polícia Civil, mas não há sem data.

FILIAÇÃO
Com relação à filiação do PT, Atella disse que é apartidário e "que nem se lembrava mais de que era filiado." O contador afirmou que assinou ficha de filiação durante showmício patrocionado pelo PT de Mauá em 2003, na Avenida Portugal, com a presença da dupla sertaneja Zezé di Camargo e Luciano. Ele pontuou que seu cunhado João Primo é militante do partido na cidade. (Havolene Valinhos )




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